“Antes exposto sob holofotes na hora de alavancar candidaturas, o apoio de “padrinhos” pode ir de trunfo para motivo de constrangimento na eleição deste ano em Fortaleza. Dados da pesquisa O POVO/Datafolha mostram que, na disputa pelo Paço Municipal, a ajuda de figurões da política local ou nacional mais atrapalha do que ajuda os candidatos.
O desencanto pode gerar estratégia inusitada, com postulantes escondendo seus apoiadores ou tentando revelar nomes por trás dos adversários para denegri-los. Pesquisa sugere cuidado no uso de figuras como Camilo Santana (PT), Cid Gomes (PDT), Tasso Jereissati (PSDB), Michel Temer (PMDB) ou o ex-presidente Lula (PT).
Para quem está na disputa, o efeito negativo pode ser maior se recorrer ao presidente em exercício Michel Temer, com 84% dos ouvidos pela sondagem dizendo que não votariam em candidato indicado pelo peemedebista.
Coligado ao PMDB, Capitão Wagner (PR) tem evitado uso da imagem de Temer na campanha. Páginas contrárias à sua candidatura nas redes sociais, no entanto, têm abusado da associação para atacá-lo.
O ex-presidente Lula continua sendo nome mais influente na hora de conquistar o fortalezense, com 30% dizendo que votariam em candidato defendido por ele. Na Capital, o apoio do líder petista sempre foi dos mais cobiçados, com vários candidatos disputando sua adesão.
Em 2012, no entanto, o mesmo índice era maior: 49%. A rejeição a um afilhado de Lula, por outro lado, aumentou, passando de 32% no último pleito para 54% neste ano. Mesmo com a perspectiva negativa, apoio do ex-presidente ainda deve ser explorado por Luizianne Lins (PT).
Tasso lidera no Ceará
Mesmo com a sombra de Temer na campanha, Capitão Wagner conta com o líder mais popular entre seus aliados no Estado. Segundo a pesquisa, 23% dos eleitores disseram que votariam em candidato apoiado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB).
O índice é maior que o do ex-governador Cid Gomes (PDT), 18%, e do governador Camilo Santana (PT), 15%. O apoio deles é explorado por Roberto Cláudio (PDT), com o petista participando de atos de campanha do prefeito.
Para o cientista político Felipe Albuquerque, pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o impacto negativo é consequência do descrédito tanto de instituições tradicionais quanto dos políticos.
“As crises econômica e política passam ao cidadão o sinal de que políticos que estão aí são incapazes de resolver os grandes problemas”, afirma.
“A hiperexposição da Lava Jato tomou conta do imaginário. O político pode ser até honesto, mas, se for de partido tradicional, sofrerá consequências”, diz. Ele destaca caso de 1989, quando crise institucional acabou prejudicando Ulysses Guimarães e beneficiando seu rival, Fernando Collor de Mello.
(O POVO – Repórter Carlos Mazza)