domingo, 30 de abril de 2017

Capitães em 1998, Solimar e Bechara recordam disputa e projetam nova final

Solimar, Bechara (Foto: Juscelino Filho)
Solimar e Bechara seguram as camisas de Ferrão e Vovô de 1998 (Foto: Juscelino Filho)
Há 19 anos, Ceará e Ferroviário decidiam o título cearense pela última vez. Em algumas horas, a bola vai rolar na Arena Castelão para que a dupla reedite a final do estadual de 1998. À época, Solimar, volante vigoroso, era o terror dos atacantes adversários. Bechara, meia jovem, de muito talento, despontava para o futebol. Capitães de Ferrão e Vovô, respectivamente, a dupla se reencontrou para bater um papo sobre aquela decisão, rememorar histórias e, claro, palpitar sobre a decisão desta edição do Campeonato Cearense.
O encontro resgatou muitas histórias. Se Solimar vestiu a camisa dos três maiores clubes da Capital (Ceará, Fortaleza e Ferroviário), Bechara fez história no Leão e no Alvinegro, ganhando três títulos cearenses por cada clube. Da época em que jogaram juntos, Bechara logo alfinetou o companheiro, mas com classe, claro.

- O Solimar era chato. Marcava em cima, saía para o jogo, tinha uma marcação muito forte, não deixava ninguém jogar. O atleta experiente corre menos que o garoto. Ele marcava muito bem - rememora Bechara.
Solimar, hoje dono do Tronco do Gaúcho, restaurante com temática futebolística, relembra que o futebol era pegado. Volante raçudo, não havia bola perdida para ele. O ex-capitão do vice-campeonato de 1998 resgata a figura de Dema, meia folclórico do futebol cearense.

- Teve um clássico que eu me lembro. O Dema jogava com anéis pontiagudos, daí eu reclamei com a arbitragem. Dema não queria tirar de maneira nenhuma. Era catimbeiro, puxava a minha blusa, o short. Ele ia para cima. Teve um clássico que ele me deixou só de sunga. Se agarrou tanto em mim que me deixou só de sunga. Foi em 1997, quando eu estava no Fortaleza. Foi um Clássico-Rei. Mas aí eu puxava o cabelo dele e a gente se entendia - relembrou Solimar, entre risos.
Quando o assunto foi o jogo da final de 19 anos atrás, Bechara e Solimar concordam: o Ferrão tinha um time melhor. No entanto, sabe como é. 

- O nosso time no papel era muito bom mas o Ferroviário tinha entrosamento. Uma zaga com Chiquinho, Santos. Tinha Solimar. Tinha o Rômulo, artilheiro do campeonato. A gente teve um pouco de sorte também - afirmou Bechara.

Solimar, no entanto, garante. Não fossem os reforços trazidos pelo então técnico Lula Pereira, todos de um time paulista, a história poderia ter sido outra.

- O Ceará só ganhou porque o Rio Branco de Americana veio. Sem esse time, eles não ganhavam não - pontuou o ex-volante.

- É. Nisso aí eu vou ter que concordar - disse o ex-meia.

- O Lula (Pereira, técnico do Vovô na época) trouxe um baita time de São Paulo. Tinha João Marcelo, Beto, Breno, era um timaço. Mas o Ferroviário tinha uma máquina muito boa. Mas pegamos o Ferroviário cansado. E isso facilitou pra gente - completou Bechara.

Quando a bola rolou, o Ceará goleou na primeira partida. Venceu, sem sustos, por 4 a 0. No segundo jogo, o Tubarão da Barra venceu por 2 a 1 e levou a partida para a prorrogação. No tempo extra, o Alvinegro de Porangabuçu fez 1 a 0 e levantou o troféu de campeão cearense, conquistando o tricampeonato cearense. O gol marcado por Gilmar Serafim, logo no início da prorrogação, está vivo na memória de Solimar.

- Eu lembro demais. O chute dele foi cruzado. A bola foi despretensiosa. Subiu pelo braço do nosso goleiro, passou a trave e entrou - relembrou Solimar.

19 anos depois, como será?

De volta para o presente, o que esperar desta decisão do Campeonato Cearense? Ferroviário e Ceará fazem o primeiro duelo da final neste domingo, a partir das 16 horas, na Arena Castelão. O Alvinegro de Porangabuçu pode até ter o favoritismo ao seu lado. No entanto, o Tubarão da Barra chega embalado após superar o Fortaleza na semifinal.

- Ceará é favorito, tem mais time no papel, mas isso não quer dizer que vai ganhar a partida. 19 anos atrás, o Ferroviário tinha a melhor equipe e perdeu para a gente - aponta Bechara.
Quando a pergunta é: "Quem será o campeão?", os dois tiram o time de campo. As análises, no entanto, apostam no terceiro jogo, que pelo regulamento só não ocorre caso um time vença as duas primeiras partidas.

- O Ferroviário se agarra muito na dificuldade desde o início do campeonato. Isso é fator perigosos para o Ceará. É aquela. Começaram sem tanta força e chegaram até aqui. Não podem, nem vão entregar. Eu acho que dá três jogos, acho inevitável. Muito difícil que alguém vença os dois primeiros - aposta Solimar.

Bechara observa que o Alvinegro não terá o meia Ricardinho, fora da decisão após uma lesão no tornozelo. Ele lembra que Magno Alves pode decidir em favor do Vovô, mas observa a aplicação tática do Tubarão da Barra.

- Esse ano é mais equilibrado, ainda com a ausência do Ricardo. Ceará tem o cara que faz gol que é o Magno Alves. Se ele estiver em uma tarde inspirada, vai ser difícil. O Ferroviário tem alma, tem sentimento, tem a humildade de marcar. Tem hora que o Mota, por exemplo, joga de lateral, de quarto zagueiro - explica Bechara.
- Não vai faltar honra, luta, força. Eles não vão desistir. Chegaram ao filé mignon. Chegou a hora do Ferroviário - completa o ex-capitão do Ceará no título de 1998.
Fato é que aquela decisão permanece na memória do torcedor dos dois clubes. O tricampeonato alvinegro, o vice-campeonato coral com direito a artilheiro da competição (Rômulo, do Tubarão da Barra, marcou 15 gols no certame). Certamente, a decisão de 2017 também entrará para a história. A partir das 16 horas deste domingo (30), Ceará e Ferroviário começam a decidir quem fica com mais um título cearense. Daqui a 20 anos, quem sabe, os capitães das respectivas equipes não recontem a história de mais uma decisão com direito a Clássico da Paz. 

*Eduardo Trovão é repórter da TV Verdes Mares

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