O cantor e compositor Ednardo: repertório cheio de sucessos para o primeiro show no Estacionamento da Música, como maneira de revisar a carreira e interagir mais com o público |
A versatilidade melódica associada a letras bem trabalhadas, ora marcadas pelo lirismo, ora pelo engajamento político - como nas canções "Araguaia", "Passeio Público" e "Cariri" - constituem as principais características da produção musical do cantor e compositor Ednardo, remanescente da geração "Pessoal do Ceará".
Há mais de quatro décadas na estrada, o autor de "Terral" promete passear por diferentes momentos de sua trajetória musical na sucessão de show que comandará a partir de amanhã - no Crato (dia 2), em Sobral (dia 3) e Fortaleza (dia 4), todos nas respectivas unidades do Sesc. "Estou feliz com o convite", afirma com simpatia Ednardo, ao falar da satisfação de participar do projeto Estacionamento da Música.
"Será um show intimista", assegura o cantor, informando que contará com a participação de apenas dois músicos: Mimi Rocha e Carlinhos Patriolino, além dele próprio na guitarra. Em Fortaleza e Sobral, caberá ao cantor e irmão, Rogério Soares, a abertura dos shows. "É uma maneira de diversificar a apresentação", diz, elogiando o último disco do parceiro de vida e de palco. No entanto, ao ser indagado sobre novos projetos, o cantor foi incisivo: "Só falo quando estão concretizados", demonstrando reserva.
O show marcará a estreia do cantor cearense no projeto do Sesc, ressaltando que realizou show semelhante em Pernambuco. "É uma versão mais enxuta", diz, justificando a redução no número de músicos que o acompanham - geralmente entre 8 e 12. No roteiro, constam "Beira-Mar", "Terral" e "Carneiro", entre outras músicas, pinçadas das mais de 480 da carreira, registradas em 15 discos inéditos e 16 coletâneas.
Mesmo afirmando estar sempre compondo, Ednardo adianta que não cantará músicas inéditas, temendo fugir da proposta do show, que tem como objetivo interagir com o público. O artista se entusiasma ao falar da apresentação, que será realizada em espaço que comporta, no máximo, mil pessoas - o que, para ele, possibilita uma interação bacana com os presentes.
Miguel Boaventura, gerente da unidade do Sesc Fortaleza, explica que o projeto acontece há mais de dois anos, sendo realizado a cada dois meses. O público alvo são os comerciários, que, segundo ele, há muito tempo solicitavam a participação de Ednardo, artista que tem relação com a história da música cearense.
"O projeto trabalha com expressivos nomes da música brasileira", afirma, lembrando que a última edição trouxe o cantor e compositor paraibano Chico César. O músico realizou apresentações também em Iguatu e Juazeiro.
Os ingressos podem ser adquiridos no Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) de cada unidade, em horário comercial. No Crato e em Fortaleza, as vendas começaram no dia 23 de maio; em Sobral, no último dia a 30.
Trajetória
Em 1974, quando o Brasil vivia um dos períodos mais delicados do regime militar (1964-1985), Ednardo lançou "O romance do Pavão Mysteriozo", estreando em carreira solo, além de começar a escrever mais um capítulo da música popular brasileira.
O disco faz alusão à obra homônima da literatura de cordel, expressando de maneira subliminar a atmosfera política e cultural da época, quando a arte convivia com a censura prévia. Cavando brechas para passar mensagens libertárias, Ednardo usou metáforas para dar o seu recado.
"Eles são muitos, mas não podem voar", dizia a letra, fazendo referência à liberdade, pedindo ajuda ao pássaro mitológico: "me poupa do vexame de morrer tão moço, muita coisa ainda quero olhar". A letra, de forte conotação política, era acompanhada pela melodia de maracatu, ritmo que apareceria em outras canções de Ednardo. "A palo seco", de Belchior, com letra contundente: "eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês", também faz parte do antológico disco.
No ano passado, o cantor lançou o documentário "Ednardo - Anos 70" e um DVD. O cantor fez parte de um dos mais representativos movimentos da música cearense contemporânea, criado no início da década de 1970, idealizado pelo agitador cultural, Augusto Pontes.
O "Pessoal do Ceará" teve como cenário a Fortaleza do início dos anos 1970, pouco antes de Ednardo colocar o pé na estrada, ao lado de Rodger Rogério, Téti, Amelinha, Fagner e Belchior.
O grupo foi gestado no seio do movimento estudantil, aproveitando a atmosfera dos festivais de música, sendo rabiscado no Estoril e no bar do Anízio. O primeiro resultado aparece em 1973, na forma do LP "Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem, que recebeu ainda outras duas denominações: "Ednardo e o pessoal do Ceará" e "Ingazeira: Ednardo e o pessoal do Ceará".
O grupo surge no bojo dos tropicalistas baianos e dos mineiros do Clube da Esquina. Em 1979, quando é assinada a Lei de Anistia, Ednardo participa desse momento usando a música, à frente do show-manifesto "Massafeira", realizado no TJA.
Programação
Projeto Estacionamento da Música, com Ednardo e Rogério Soares
Crato
Amanhã (2), às 21h, na Unidade Crato do Sesc (R. André Cartaxo, 443)
Entrada: 2kg de alimentos não perecíveis (comerciário)/ R$ 15 + 2kg de alimentos (conveniado)/ R$ 20+ 2kg de alimentos (usuário).
Sobral
Dia 3 (sexta), às 21h, na Escola Educar Sesc Sobral (R. Dom Lourenço, 855). Entrada: R$ 10 (comerciário)/ R$ 15 (conveniado)/ R$ 20 (usuário)
Fortaleza
Dia 4 (sábado), às 21h, na Unidade Fortaleza do Sesc (R. Clarindo de Queiroz, 1740). Entrada: R$ 20 (comerciário)/ R$ 30 (conveniado)/ R$ 40 (usuário)
por Iracema Sales - Repórter
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