O aumento de casos de febre chikungunya preocupa moradores de diversas regionais de Fortaleza. No bairro Rodolfo Teófilo, por exemplo, cinco pessoas da mesma família foram diagnosticadas com a doença. Na Rua Monsenhor Furtado, outras 12 relataram ter adoecido ou estarem em processo de diagnóstico. Os dados, divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), comprovam os níveis do aumento de pacientes.
O boletim informativo da 21ª Semana Epidemiológica, divulgado no último dia 27, registrou 785 novos casos da febre. No levantamento anterior, do dia 20, eram 800 confirmações da doença, o que aponta um aumento de 99%. Os dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) mostram que dos 1.585 casos atestados em pacientes residentes em Fortaleza, 14,5% (229) foram confirmados por testes de laboratório. O restante ocorre por meio de diagnóstico clínico.
As primeiras ocorrências da febre de chikungunya confirmadas em residentes do município de Fortaleza foram registrados em 2014. Na época, as investigações evidenciaram tratar-se de casos importados, considerando que os pacientes haviam viajado para áreas com circulação do vírus CHIK. Os primeiros casos autóctones foram confirmados somente em novembro de 2015.
Com sintomas da doença, Eridan de Moura Brasil, 66, está acamada há quatro meses. Por sentir fortes dores nas articulações, ela se mexe somente para tomar remédios e se alimentar. "No início da doença eu gritava com muitas dores. Já gastei cerca R$150 reais essa semana com medicação", ressalta. A paciente foi diagnosticada, inicialmente, com a doença em um hospital da rede privada, e depois encaminhada ao Hospital São José.
Em outra casa, o pai da família Paulo Brasil, 65, e a adolescente Victória Vieira França, 16, também sofreram com os sintomas da doença. Já os irmãos José Eudes de Moura, 60, e Maria Odilea de Moura, 83, estão internados em Unidades de Pronto Atendimento (UPA), nos bairros Autran Nunes e José Walter.
Lixo
Na mesma rua, moradores reclamam de terrenos abandonamos que acumulam lixo. A comerciante Ivânia Pereira diz que já tentou buscar os donos de duas áreas com mato no endereço. "Pessoas de outros bairros vêm jogar lixo aqui. Não existe consciência nenhuma. Crianças e idosos estão todos doentes", declara. A reportagem conseguiu contato dos donos de dois terrenos tidos como possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti - transmissor da chikungunya, dengue e zika -, mas as ligações não foram atendidas.
Considerando apenas os dados de 2016, foram notificadas 3.097 suspeitas da febre de chikungunya, sendo 89 de residentes em outros municípios e 3.008 na Capital. Dos moradores de Fortaleza, 1.585 (51,17%) foram confirmadas, 494 descartadas, 24 classificadas como inconclusivas e 903 ainda estão em investigação. Os números de 2016 sugerem que o município tem um cenário de transmissão autóctone sustentada. Esse quadro epidemiológico permite que o Município passe a confirmar suspeitas da febre por critério clínico epidemiológico
Para o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco, clínico infectologista, as ações de combate devem ser realizadas com mais precisão e de acordo com o perfil de cada bairro da cidade. A preocupação do especialista é que diversos pacientes possam sofrer com sequelas. "Cerca de 10% dos pacientes sofrem com doenças como artrite, por exemplo. Diferentemente da dengue, a chikungunya é uma doença incapacitante. As pessoas ficam acamadas e caxingando devido às dores", declara.
O gerente da Célula de Vigilância Ambiental e Riscos Biológicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Nélio Morais, afirma que o Índice de Infestação Predial (IIP) do bairro Rodolfo Teófilo é grande. Para ele, diversas ações estão sendo realizadas na região, mas é necessária a consciência das pessoas. "Temos conhecimento dos terrenos com lixo. Já intensificamos, inclusive, o trabalho com carros fumacês. Outra ação na região é a operação quintal limpo".
Sobre as fiscalizações dos terrenos, o gestor informou que a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) repassa todas as informações relativas aos donos do terreno para que a SMS possa entrar em contato para realizar o trabalho de fiscalização.
por João Lima Neto - Repórter
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