Escritor cearense José de Alencar |
O aniversário de 186 anos do nascimento do escritor cearense José de Alencar, em dia 1º de maio de 1829 em Messejana, Região Metropolitana de Fortaleza, foi tema de pronunciamento do deputado Leônidas Cristino nesta quinta-feira, no plenário da Câmara. Considerado patriarca da literatura brasileira e patrono da cadeira nº 23 da Academia Brasileira de Letras, o escritor foi lembrado também por sua militância política no período do Segundo Reinado e pela oposição ao Imperador Pedro II.
“Político por tradição familiar, ministro da Justiça no governo do Imperador Pedro II e deputado federal pelo Ceará por quatro legislaturas, ele é neto da revolucionária Bárbara de Alencar, Heroína da Pátria, e filho do senador José Martiniano de Alencar e Ana Josefina de Alencar”, disse Leônidas Cristino. O deputado observou que Dona Bárbara e José Martiniano tiveram papeis de destaque na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador de 1824, pagando com a prisão e expropriação dos bens a luta em defesa do ideário republicano.
“Também teatrólogo e jurista, José de Alencar foi jornalista notabilizado pela polêmica na defesa das suas ideias e pela luta na oposição no Segundo Reinado. Pela postura crítica intransigente foi designado de Inimigo do Rei, alcunha que deu título ao livro que resgata a sua história, do escritor cearense Lira Neto”, afirmou o deputado.
O Alencar jornalista foi destacado no pronunciamento. “De colaborador da imprensa a editor e dono de jornal, a carreira jornalística de José de Alencar de 22 anos de militância foi marcada pela crítica mordaz e polêmica travada com personalidades da vida política e literária da época. Os acirrados atritos de opinião levaram Alencar a polarizar com um grupo de articulistas reunidos em torno de dom Pedro II que procuravam destruir a reputação literária do autor, com ataque a detalhes da sua obra, a que ele reagia com verdadeiro furor”, afirmou o parlamentar.
A chegada de José Alencar à tribuna da Câmara não correspondeu à expectativa, uma vez que sua personalidade tímida e voz de timbre suave não correspondiam à linguagem envolvente dos romances e à virulência demonstrada nos artigos de jornal. Mas logo o escritor assimilou a linguagem do parlamento, o gestual e a palavra no imediatismo do debate, ao enfrentar de igual para igual os maiores expoentes da tribuna na época em improvisos de polêmica renhida.
Segundo o parlamentar cearense, Alencar relutou em entrar para a política, alegando que “não tinha vocação para a carreira ou considerava o governo do Estado coisa tão importante e grave que não se animara nunca a ingerir-se nesse negócio”. Porém, uma vez que entrou, foi radical na defesa das suas posições, sem transigir diante das adversidades.
Sobre a sua obra literária, o deputado observou que o talento e a devoção com que Alencar transportou a realidade brasileira para a representação literária plasmaram no imaginário nacional uma identidade do homem e do meio ambiente. Segundo Leônidas, dos “verdes mares bravios da minha terra natal”, que lemos na abertura do romance Iracema, livro aclamado pela crítica, aos pampas de O Gaúcho e ao semiárido da obra O Sertanejo, o escritor imortalizou sua obra nos gêneros do indianismo, romance regional, romance mundano e romance histórico.
“Sua obra literária teve mais de 40 livros lançados, entre estes três perfis de mulher – Senhora, Diva e Lucíola – que mostram a sensibilidade do autor com a alma feminina”, disse o parlamentar. Muito do ambiente que emoldura a narrativa de romances regionais e indigenistas vieram da memória da infância de José Alencar quando tinha 10 anos na viagem a cavalo através dos sertões do interior de Fortaleza a Salvador, na Bahia.
Chamado de Terra Alencarina, o Ceará reverencia a memória do teatrólogo com o seu nome no Theatro principal de Fortaleza, referência artística, turística e arquitetônica no Estado, e na Casa José de Alencar, parque urbano com cinco hectares e espaço cultural de exposições e convívio social. O equipamento, hoje pertencente à Universidade Federal do Ceará, conserva a casa onde nasceu o escritor e as ruínas do antigo engenho de rapadura, açúcar e cachaça, referência no turismo cultural no Brasil.
Por ser de temperamento sensível à crítica, carente do reconhecimento em vida à sua obra literária, ressentido por ter sido preterido pelo Imperador na lista tríplice para o Senado, após ter sido o mais votado, o criador do romance brasileiro teve a saúde abalada. Com 41 anos rendeu-se ao sentimento de uma velhice que trouxe para si em tempo precoce, um cansaço da luta que foi agravado pela tuberculose que acabou por tirar-lhe a vida aos 48 anos.
Mas, como externava o criador da virgem dos lábios de mel, o que lhe causava medo não era a morte, mas a desonra. O que lhe preocupava era a indiferença pública, a possibilidade de não ser reconhecido.
Nesse 1º de maio, quando são comemorados 186 anos do seu nascimento, pode-se assegurar, por um lado, que a dedicação e arrojo criativo da construção literária, somados à honestidade intelectual com que defendia as suas convicções, podem ser considerados como grandes legados do homem José de Alencar e fazem jus à sua memória.
Por outro lado, como afirmou outro gênio das letras, Machado de Assis, “O futuro nunca se engana. Cada ano que passa é uma expansão da glória de José de Alencar. Outros apagam-se com o tempo; ele é dos que fulguram a mais e mais, serenamente, sem tumulto, mas com segurança. São assim as glórias definitivas. Na história do romance e na do teatro, para não sair das letras, José de Alencar escreveu as páginas que todos lemos, e que há de ler a geração futura”.
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