Diego
Neria Lejárraga era Cuca até há oito anos, quando decidiu fazer a
operação de mudança de sexo. Católico praticante, sofreu durante anos
com o facto de não ser aceite pela Igreja. Pelo menos pela parte mais
conservadora da Igreja na pequena cidade espanhola de Plasencia, em
Cáceres, onde sempre viveu. Há uns meses resolveu escrever uma carta ao
Papa Francisco onde expunha o que sentia e onde questionava se era mesmo
filho de Deus. Mensagem recebida. O Papa telefonou-lhe e o encontro com
Diego e a namorada, Macarena, concretizou-se este fim de semana no
Vaticano.
“Deus quer bem a todos os seus filhos, sejam como forem,
e tu és filho de Deus por isso a Igreja aceita-te como és”, terá dito o
Papa Francisco quando telefonou ao espanhol de 48 anos, que chegou a
ser apelidado por um padre de ‘filha do diabo’, para marcar os
pormenores da sua ida ao Vaticano. O encontro realizou-se no sábado
passado, mas foi marcado propositadamente fora da agenda oficial do
chefe da Igreja Católica, longe dos holofotes.
Conhecido
por telefonar às pessoas sem se fazer anunciar, o Papa Francisco ligou
pela primeira vez a Diego a 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, e
voltou a apanhá-lo no telemóvel no dia 20 para acertar os pormenores da
viagem. Segundo o El Mundo,
que já falou com Diego Lejárraga depois do encontro papal, a primeira
vez foi apenas para dizer que estava a par da sua situação e que queria
recebê-lo no Vaticano. Prometia ligar novamente.
Prometido,
cumprido. A 20 de dezembro, Diego estava de visita a Sevilha, onde vive a
namorada, quando recebeu a segunda chamada. Entrou numa loja para
acalmar o ruído e poder ouvir melhor. Era o Papa que estava do outro
lado da linha a perguntar-lhe quando lhe dava mais jeito ir a Itália.
“Durante o fim de semana é melhor, não é?”, perguntou o chefe da Igreja
Católica. “Quando quiser”, limitou-se a responder. Ficou então marcado
para um sábado, para não interferir com a semana normal de trabalho do
convidado, e depois de Francisco ter pedido uns minutos para olhar para a
agenda, lá atirou: “Tenho uma possibilidade no dia 24 de janeiro às
17h, que tal?”.
Feito. Respondendo às dúvidas logísticas de Diego,
o Papa ainda terá pedido para não se preocupar com os gastos da viagem.
De resto, “basta chegarem à porta da residência de Santa Marta e
dizerem que estou à vossa espera”.
Oficialmente, a Igreja não
reconhece mudanças de sexo, mas o Papa Francisco instou-a a mostrar mais
compaixão para com setores da sociedade que se sentem excluídos,
nomeadamente quando recentemente disse, a propósito dos homossexuais,
“Quem sou eu para os julgar?”.
Diego Lejárraga não adiantou muito à
imprensa sobre o que foi dito na audiência com o Papa, por ser “um
segredo só deles [nosso]”, mas descreveu o momento como “uma experiência
única”. No limite, sabendo que a transsexualidade ainda não é bem
aceite por todos, espera pelo menos que o seu caso sirva para que outras
pessoas na sua situação não passem pelo mesmo tipo de discriminação que
ele passou.
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