Os domicílios recebem apenas 10% de toda a água coletada e
tratada no Brasil. Os estudos indicam que a alta perda de recursos
hídricos se dá exatamente nas próprias redes de distribuição
Foto: José Leomar
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Brasília. Diante da mais grave crise hídrica de toda a
história do país, o debate sobre as alternativas emergenciais já não
exclui a hipótese de racionamento da oferta de água nas principais
regiões metropolitanas, a começar pela região Sudeste. Apelos por ajuda à
população também se multiplicam, assim como campanhas para que as
pessoas economizem água.
Cada gota de água poupada é importante e gestos simples devem ser
estimulados, como o fim de banhos demorados e a suspensão da lavagem de
calçadas e carros. É necessário lembrar, porém, que os domicílios
recebem apenas 10% da água coletada e tratada e que estudos indicam um
problema ainda maior: o alto índice de perda de água nas próprias redes
de distribuição, estimado em 37,5%, na média nacional. Foi o que mostrou
a última edição da revista Em Discussão!, uma publicação feita pela
Secretaria de Comunicação do Senado.
O desperdício de água já tratada representa uma perda de mais de R$ 10
bilhões por ano, segundo estudo que resultou de parceria entre o
Instituto Trata Brasil e a Universidade de São Paulo (USP), publicado em
março de 2013.
Além de agravar a escassez hídrica, essas perdas dificultam novos
investimentos em abastecimento e saneamento, limitando a oferta de
serviços essenciais à população. A explicação, em boa parte, está nas
tubulações antigas e mal conservadas, por onde a água escorre sem
controle. Com desperdício tão elevado, as companhias acabam retirando do
ambiente mais água do que realmente a população necessita para viver.
Além disso, há roubos e ligações clandestinas, ausência de medição ou
medições incorretas, com impacto notável sobre o faturamento das
empresas do setor.
Combate ao desperdício
Segundo estratégia traçada pela Agência Nacional de Águas (ANA), na
publicação Atlas Brasil - abastecimento urbano de água, todos os
municípios teriam condições de reduzir as perdas para patamar de 30% até
2025. Para que essa meta possa ser alcançada, o órgão defende a
aplicação de R$ 834 milhões em ações diversas.
Com redução de apenas 10% nas perdas de água, as operadoras já
agregariam R$ 1,3 bilhão anuais às suas receitas. É o que indica o
estudo do Instituto Trata Brasil e da USP, intitulado "Perdas de Água:
entraves ao avanço do saneamento básico e riscos de agravamento à
escassez hídrica no Brasil".
"As perdas fazem com que mais água tenha que ser retirada da natureza
para cobrir a ineficiência. É preciso que governo federal, governadores e
prefeitos lutem por reduções de perdas desafiadoras", avalia Édison
Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil.
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