Lixões são o destino final dos resíduos sólidos na maioria das cidades cearenses
FOTO: FABIANE DE PAULA
|
Fortaleza. Tem todas as chances de ser prorrogado o
prazo (próximo sábado) para que os municípios brasileiros destinem
corretamente os seus resíduos sólidos. O motivo é óbvio: existem muito
mais lixões que aterros para receber os resíduos atualmente produzidos. O
cumprimento difícil da Lei já pode ser chamado impossível. Dependendo
de quem fala, dinheiro ou vontade política é colocado como primeiro
culpado para tamanho problema de saúde pública. E com medo de serem
penalizados pela desobediência à legislação ambiental - também com
consequências eleitorais, prefeitos pressionam o Congresso Nacional, com
a Medida Provisória 651, para a desobrigação de aterros sanitários por
até oito anos.
Levando ao pé da letra, a legislação é descumprida há muitos anos.
Desde 1981, com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente; e
destinar os resíduos em lixões é crime desde 1998, com a promulgação da
Lei dos Crimes Ambientais.
O que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (criada na Lei 12.305)
diz é que até agosto de 2014 deverá ser implantada a disposição final
ambiental adequada dos rejeitos, ou seja em aterros sanitários.
O Ceará tem ao menos 280 lixões, para onde é destinada a maior parte
das nove mil toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos todos os
dias (não incluindo os resíduos hospitalares, chamados de sépticos, e os
entulhos de construção civil).
Aterro sanitário
Em alguns municípios, lixões um pouco mais "arrumados", porque com
galpões e áreas de coleta, são chamados por gestores municipais de
aterro sanitário. Mas só seriam se tivesse diferentes sistemas de
drenagem, que separam o chorume (líquido resultante de decomposição) e
os gases, além de acondicionar os resíduos no solo com membrana
impermeável, de modo a não poluir o lençol freático.
E se só deve ir para o aterro o que não pode ser reaproveitado
(reciclado), o que não é descartado deve ter por destino as usinas de
reciclagem, efetivando a logística reversa.
"É um problema muito complexo, em que o aterro é apenas a ponta disso
tudo", afirma Mário Fracalossi, secretário-adjunto das Cidades, para
quem os municípios precisam se sentir "empoderados" (leia-se:
responsáveis) pela destinação correta dos rejeitos. "O Estado tem
apoiado de diversas formas, incluindo financeira, mas os gestores locais
têm que saber custear operação e manutenção", salienta.
Pelos altos custos de criação e operação dos aterros, os municípios do
Ceará entenderam que a integração regional seria a melhor saída. Em
outras palavras, as prefeituras dividiriam as despesas da destinação
correta dos resíduos sólidos. E foi assim que nasceram 27 consórcios
regionais. Ainda estão todos no papel. O mais avançado, que compreende o
Cariri, está parado porque o Banco Mundial, que prometeu financiar em
R$ 20 milhões, disse que não enviará recursos enquanto não for mudado o
"modelo de governança". Em miúdos, não vai mandar dinheiro para
municípios onde a coleta seletiva não é plena, não há destinação correta
do material aproveitado, nem sabe qual exatamente como fazer em relação
ao custo operacional.
Atraso
Para Aloísio Pedoran, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o
descumprimento do prazo para a efetivação de aterros sanitários é
reflexo do atraso na forma de governar, sobretudo, nas prefeituras.
Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios,
chama de irresponsável a lei que obriga as prefeituras sem que haja
recurso para resolver o problema. "As prefeituras não tem um centavo",
reclamou. A procuradora de Justiça no Estado do Ceará, Sheila
Pitombeira, pontua que os gestores têm receio se desincompatibilizar com
eleitores ao tomar medidas como cobrar tarifas pela aplicação de
serviços básicos essenciais. "Tem cidadãos que não acham indispensável
ter um celular de última geração, mas acham dispensável pagar tarifa de
saneamento. Isso dificulta a tratativa com o poder público", afirmou.
Mais informações:Secretaria das Cidades do Estado do Ceará
Av. Gal Afonso Albuquerque Lima - Ed. Seplag - 1º Andar - Fortaleza
Telefone: (85)3101-4448
Melquíades Júnior
Repórter
Nenhum comentário:
Postar um comentário