Débora Ingrid é natural de Russas, interior do Ceará. Ela tem 21 anos e foi descoberta por Camilo Cavalcante por sua atuação no curta-metragem Doce de Coco (2010), do cearense Allan Deberton- foto: reprodução do Facebook |
No vilarejo de Santa Fé, a 60 km de Petrolina, em Pernambuco, três
histórias de amor envolvem personagens de um sertão arquetípico: uma
jovem fica encantada pelo tio artista, uma recém viúva entrega-se a um
cego sanfoneiro e uma avó dedica seu carinho ao neto que retorna de São
Paulo. Com delicadeza poética para intercalar as narrativas, A História
da Eternidade, do diretor pernambucano Camilo Cavalcante, arrebatou os
principais prêmios do 6º Paulínia Film Festival: melhor longa-metragem,
prêmio da crítica, melhor diretor, ator (Irandhir Santos) e atriz
(dividido por Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora Ingrid).
“O
sertão que a gente aborda é uma metáfora da alma humana, em um lugar
onde o desenvolvimento não chegou. Por isso, as relações pessoais
acontecem de forma mais direta”, explica Camilo Cavalcante. Ao priorizar
cenas noturnas e filmadas com luz natural ou de lamparinas, o filme
apresenta um sertão mais precário e sombrio – distante de um olhar
fetichista e ensolarado presente em parte das produções nordestinas que
retratam o sertão. “Foi preciso encontrar um lugar com referenciais
próprios de tempo e espaço. É um Nordeste intocado, que ainda é muito
real e concreto no nosso País. O sertão costuma ser tratado de forma
estereotipada. Prefiro trabalhar com arquétipos”, acrescenta o diretor.
Cuidadoso
com o apuro técnico cinematográfico, Camilo Cavalcante levou 12 anos
para realizar A História da Eternidade. O diretor de fotografia Beto
Martins pesquisou as pinturas de Caravaggio (artista italiano do século
XVI) como referência para o tratamento da luz no filme. Na trilha
musical, há o peso do nome de Zibgniew Preisner, compositor dos filmes
do cineasta polonês Krzysztof Kieslowski. O rigor de encenação também
transparece a cada plano, especialmente nos dois planos sequências que
giram 360º: a do mar imaginado por Alfonsina (Débora Ingrid) e a da
performance de Joãozinho (Irandhir Santos). Nesta segunda sequência,
Irandhir interpreta a canção “Fala”, de Secos e Molhados, com tamanha
força performática que levou o público a aplaudir três vezes a cena
durante a projeção. “São dois giros libertários em termos de poesia,
sonho, rebeldia, de encontro com algo que sai do material para o
metafísico”, afirma Camilo.
Atriz de Russas
Com
o elenco, o cineasta não precisou de preparador, mas apenas da
convivência dos atores no sertão para descobrir juntos os personagens.
Entre as atrizes do filme que levou o prêmio, Débora Ingrid é natural de
Russas, interior do Ceará. Ela tem 21 anos e foi descoberta por Camilo
Cavalcante por sua atuação no curta-metragem Doce de Coco (2010), do
cearense Allan Deberton. “Alfonsina tem um desejo forte, tem vontades
próprias. É muito bonito ver como ela vai se construindo ao longo do
filme”, diz Débora sobre sua personagem em A História da Eternidade.
* A jornalista viajou a convite do festival.
ALGUNS PRÊMIOS
Longa-metragem
Melhor longa: A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante
Melhor direção: Camilo Cavalcante, por A História da Eternidade
Melhor ator: Irandhir Santos, por A História da Eternidade
Melhor atriz: Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora Ingrid, por A História da Eternidade
Melhor roteiro (R$ 15 mil): Fellipe Barbosa e Karen Sztajnberg, por Casa Grande
Camila Vieira
camilavieira@opovo.com.br
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