terça-feira, 29 de julho de 2014

Débora Ingrid ficou entre as contempladas com prêmio de Melhor Atriz do 6º Paulínia Film Festival

Débora Ingrid é natural de Russas, interior do Ceará. Ela tem 21 anos e foi descoberta por Camilo Cavalcante por sua atuação no curta-metragem Doce de Coco (2010), do cearense Allan Deberton- foto: reprodução do Facebook

No vilarejo de Santa Fé, a 60 km de Petrolina, em Pernambuco, três histórias de amor envolvem personagens de um sertão arquetípico: uma jovem fica encantada pelo tio artista, uma recém viúva entrega-se a um cego sanfoneiro e uma avó dedica seu carinho ao neto que retorna de São Paulo. Com delicadeza poética para intercalar as narrativas, A História da Eternidade, do diretor pernambucano Camilo Cavalcante, arrebatou os principais prêmios do 6º Paulínia Film Festival: melhor longa-metragem, prêmio da crítica, melhor diretor, ator (Irandhir Santos) e atriz (dividido por Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora Ingrid).

“O sertão que a gente aborda é uma metáfora da alma humana, em um lugar onde o desenvolvimento não chegou. Por isso, as relações pessoais acontecem de forma mais direta”, explica Camilo Cavalcante. Ao priorizar cenas noturnas e filmadas com luz natural ou de lamparinas, o filme apresenta um sertão mais precário e sombrio – distante de um olhar fetichista e ensolarado presente em parte das produções nordestinas que retratam o sertão. “Foi preciso encontrar um lugar com referenciais próprios de tempo e espaço. É um Nordeste intocado, que ainda é muito real e concreto no nosso País. O sertão costuma ser tratado de forma estereotipada. Prefiro trabalhar com arquétipos”, acrescenta o diretor.

Cuidadoso com o apuro técnico cinematográfico, Camilo Cavalcante levou 12 anos para realizar A História da Eternidade. O diretor de fotografia Beto Martins pesquisou as pinturas de Caravaggio (artista italiano do século XVI) como referência para o tratamento da luz no filme. Na trilha musical, há o peso do nome de Zibgniew Preisner, compositor dos filmes do cineasta polonês Krzysztof Kieslowski. O rigor de encenação também transparece a cada plano, especialmente nos dois planos sequências que giram 360º: a do mar imaginado por Alfonsina (Débora Ingrid) e a da performance de Joãozinho (Irandhir Santos). Nesta segunda sequência, Irandhir interpreta a canção “Fala”, de Secos e Molhados, com tamanha força performática que levou o público a aplaudir três vezes a cena durante a projeção. “São dois giros libertários em termos de poesia, sonho, rebeldia, de encontro com algo que sai do material para o metafísico”, afirma Camilo.

Atriz de Russas
Com o elenco, o cineasta não precisou de preparador, mas apenas da convivência dos atores no sertão para descobrir juntos os personagens. Entre as atrizes do filme que levou o prêmio, Débora Ingrid é natural de Russas, interior do Ceará. Ela tem 21 anos e foi descoberta por Camilo Cavalcante por sua atuação no curta-metragem Doce de Coco (2010), do cearense Allan Deberton. “Alfonsina tem um desejo forte, tem vontades próprias. É muito bonito ver como ela vai se construindo ao longo do filme”, diz Débora sobre sua personagem em A História da Eternidade.
* A jornalista viajou a convite do festival.

ALGUNS PRÊMIOS

Longa-metragem

Melhor longa: A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante

Melhor direção: Camilo Cavalcante, por A História da Eternidade

Melhor ator: Irandhir Santos, por A História da Eternidade

Melhor atriz: Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora Ingrid, por A História da Eternidade

Melhor roteiro (R$ 15 mil): Fellipe Barbosa e Karen Sztajnberg, por Casa Grande

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