Há um ano longe do Poder
Executivo, a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), parou um
pouco para se olhar. Dez quilos mais magra, olhos de menina, a petista
anda fazendo coisas de gente que está fora das rodas do poder dos paços e
palácios. Quando não está em Fortaleza, num apartamento simples que
terminou de pagar com um financiamento da Caixa Econômica, na Aldeota,
ela investe em se manter no anonimato no Rio de Janeiro, ao lado de Tiê.
O filho, hoje com 14 anos, adolesceu enquanto ela fazia o
papel de prefeita da capital cearense. Quando Tiê rebentou, Luizianne já
acumulava cruzadas políticas. “Esse é o primeiro ano da minha vida após
24 anos dentro do parlamento, no Executivo e em movimentos sociais
(como líder sindical e estudantil)”.
Tímido e simpático, Tiê
está experimentando a mãe de uma outra maneira. No Rio de Janeiro, onde
dificilmente são abordados, ele não é o “filho da prefeita” nem tem de
escutar indelicadezas ou piadinhas. Habitantes de um apartamento alugado
no Leblon, combinaram deixar na garagem, em Fortaleza, o Fiat Pálio da
família de dois. De caso pensado, esquadrinha Luizianne Lins. “Lá nos
deslocamos a pé ou de bicicleta”, diz, com a tranquilidade de quem se
reencontrou com alguns prazeres simples. “Voltei a ir para o cinema,
fazia tempo!”.
Fora do poder, a petista também teve de
refazer algumas rotinas e costumes. Quando menos esperou, viu-se sem
telefone celular. A conta foi a mais de R$ 1.500,00 sem que percebesse -
ainda pelo hábito de longas conversas de bastidores políticos que se
mantiveram - e a operadora bloqueou a conta da ex-prefeita.
“Sempre
usei funcionais, coloquei na ponta do lápis e optei pelos pré-pagos”.
Sem constrangimento, riu do dia em que estava falando com o senador
Eunício Oliveira (PMDB) e teve que dizer que seus créditos estavam
acabando. Pediu que ele ligasse de volta pra ela. “Ele demorou para
entender ou acreditar”, brinca com um iPhone e um aparelho mais simples
na mão. Ela vai se reacostumando à vida na aldeia.
Luizianne
tem agora um orçamento medido. Um bom salário, mas longe dos benefícios
legais de gabinete que teve direito como vereadora, deputada estadual e
prefeita. Beira hoje os R$ 10 mil por duas atividades: é professora
efetiva do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará
(UFC) - licenciada das aulas para fazer o mestrado no Rio - e atua como
conselheira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Por ter ficado entre os cinco primeiros colocado na PUC do Rio,
poderia até requerer a bolsa como mestranda. Abriu mão por quem se
classificou abaixo dela. “No BNDES, toda semana, avalio projetos e há
reuniões a cada três meses”.
Foi um achado ter uma vaga no
BNDES “carioca”. A presidente Dilma Rousseff havia lhe oferecido um
cargo na Secretaria de Políticas para Mulheres, em Brasília. Mas os
planos, principalmente por causa de Tiê e do mestrado, direcionavam para
o Rio. Fizesse ou não o sucessor em Fortaleza, iria reorganizar a vida
na capital fluminense. “Não queria ser comentarista de governo de
ninguém”.
O retorno
Para além da volta à
prática de atividade física, acupuntura, passeios de bicicleta com filho
e cinema, Luizianne Lins agora dá sentido aos bastidores da política.
Está tão forte e influente como sempre esteve. Age na articulação e
conversa com quem pode dar outro tom à linha traçada pelos Ferreira
Gomes para o Ceará. Foi assim quando se encontrou várias vezes com o
governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), desafeto de Cid e Ciro
Gomes (ex-PSB, agora do Pros). “A política está medíocre. Acreditei que
Cid pudesse ser diferente de Ciro. Ele também não pensa nas pessoas”.
Disposta
a reeditar 2004, quando saiu candidata a Prefeita de Fortaleza sem o
apoio de cardeais do PT local e nacional (o candidato de Lula era Inácio
Arruda, do PCdoB), Luizianne diz que “topa ser candidata à sucessão de
Cid Gomes”. Não é prioridade nem projeto de vida no momento, ressalta a
petista. Voltaria para os embates dos palaques “para tornar menos
previsível a campanha”. A política fervilha no sangue.
A seu
favor, Luizianne tem uma pesquisa encomendada pelo próprio Partido dos
Trabalhadores que a aponta como a segunda maior líder para influenciar
as eleições de 2014. O senador José Pimentel confirma. Segundo a
ex-prefeita, num cenário sem o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB),
ela e o senador Eunício Oliveira dividem o potencial de modificar
cenários.
Luizianne faz outras contas. Elmano Freitas, seu
candidato derrotado nas eleições para prefeito em 2012, saiu com 47% dos
votos no 2º turno. “Fortaleza está insatisfeita”. E mais, o PT dobrou o
número de prefeituras no Interior do Estado: de 15 para 29. Além disso,
afirma baseada em pesquisa, a maior preferência partidária pelo PT é no
Brasil é no Ceará (38%). Ela não é carta fora do jogo.
CONTRA TODOS
Luizianne
Lins não é a preferida. O diretório estadual do PT, comandado por
Diassis Diniz, um apadrinhado do deputado federal José Guimarães, já
declarou que apoiará quem Cid Gomes (Pros) indicar. A intenção dos
petistas aqui, segundo Ruy Falcão, presidente nacional da sigla, é
angariar votos para a reeleição da “companheira” Dilma.Não importa se
haverá dois ou três palanques políticos e qual o pedigree dos aliados.
Luizianne não se dá por vencida.
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