quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

"Topo ser candidata"

IANA SOARES
Mais leve, pela distância do poder oficial, Luzianne não descarta disputar eleições em 2014, mas precisará vencer prévias no PT


Há um ano longe do Poder Executivo, a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), parou um pouco para se olhar. Dez quilos mais magra, olhos de menina, a petista anda fazendo coisas de gente que está fora das rodas do poder dos paços e palácios. Quando não está em Fortaleza, num apartamento simples que terminou de pagar com um financiamento da Caixa Econômica, na Aldeota, ela investe em se manter no anonimato no Rio de Janeiro, ao lado de Tiê.


O filho, hoje com 14 anos, adolesceu enquanto ela fazia o papel de prefeita da capital cearense. Quando Tiê rebentou, Luizianne já acumulava cruzadas políticas. “Esse é o primeiro ano da minha vida após 24 anos dentro do parlamento, no Executivo e em movimentos sociais (como líder sindical e estudantil)”.

Tímido e simpático, Tiê está experimentando a mãe de uma outra maneira. No Rio de Janeiro, onde dificilmente são abordados, ele não é o “filho da prefeita” nem tem de escutar indelicadezas ou piadinhas. Habitantes de um apartamento alugado no Leblon, combinaram deixar na garagem, em Fortaleza, o Fiat Pálio da família de dois. De caso pensado, esquadrinha Luizianne Lins. “Lá nos deslocamos a pé ou de bicicleta”, diz, com a tranquilidade de quem se reencontrou com alguns prazeres simples. “Voltei a ir para o cinema, fazia tempo!”.

Fora do poder, a petista também teve de refazer algumas rotinas e costumes. Quando menos esperou, viu-se sem telefone celular. A conta foi a mais de R$ 1.500,00 sem que percebesse - ainda pelo hábito de longas conversas de bastidores políticos que se mantiveram - e a operadora bloqueou a conta da ex-prefeita.

“Sempre usei funcionais, coloquei na ponta do lápis e optei pelos pré-pagos”. Sem constrangimento, riu do dia em que estava falando com o senador Eunício Oliveira (PMDB) e teve que dizer que seus créditos estavam acabando. Pediu que ele ligasse de volta pra ela. “Ele demorou para entender ou acreditar”, brinca com um iPhone e um aparelho mais simples na mão. Ela vai se reacostumando à vida na aldeia.

Luizianne tem agora um orçamento medido. Um bom salário, mas longe dos benefícios legais de gabinete que teve direito como vereadora, deputada estadual e prefeita. Beira hoje os R$ 10 mil por duas atividades: é professora efetiva do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC) - licenciada das aulas para fazer o mestrado no Rio - e atua como conselheira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por ter ficado entre os cinco primeiros colocado na PUC do Rio, poderia até requerer a bolsa como mestranda. Abriu mão por quem se classificou abaixo dela. “No BNDES, toda semana, avalio projetos e há reuniões a cada três meses”.

Foi um achado ter uma vaga no BNDES “carioca”. A presidente Dilma Rousseff havia lhe oferecido um cargo na Secretaria de Políticas para Mulheres, em Brasília. Mas os planos, principalmente por causa de Tiê e do mestrado, direcionavam para o Rio. Fizesse ou não o sucessor em Fortaleza, iria reorganizar a vida na capital fluminense. “Não queria ser comentarista de governo de ninguém”.

O retorno
Para além da volta à prática de atividade física, acupuntura, passeios de bicicleta com filho e cinema, Luizianne Lins agora dá sentido aos bastidores da política. Está tão forte e influente como sempre esteve. Age na articulação e conversa com quem pode dar outro tom à linha traçada pelos Ferreira Gomes para o Ceará. Foi assim quando se encontrou várias vezes com o governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), desafeto de Cid e Ciro Gomes (ex-PSB, agora do Pros). “A política está medíocre. Acreditei que Cid pudesse ser diferente de Ciro. Ele também não pensa nas pessoas”.

Disposta a reeditar 2004, quando saiu candidata a Prefeita de Fortaleza sem o apoio de cardeais do PT local e nacional (o candidato de Lula era Inácio Arruda, do PCdoB), Luizianne diz que “topa ser candidata à sucessão de Cid Gomes”. Não é prioridade nem projeto de vida no momento, ressalta a petista. Voltaria para os embates dos palaques “para tornar menos previsível a campanha”. A política fervilha no sangue.

A seu favor, Luizianne tem uma pesquisa encomendada pelo próprio Partido dos Trabalhadores que a aponta como a segunda maior líder para influenciar as eleições de 2014. O senador José Pimentel confirma. Segundo a ex-prefeita, num cenário sem o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), ela e o senador Eunício Oliveira dividem o potencial de modificar cenários.

Luizianne faz outras contas. Elmano Freitas, seu candidato derrotado nas eleições para prefeito em 2012, saiu com 47% dos votos no 2º turno. “Fortaleza está insatisfeita”. E mais, o PT dobrou o número de prefeituras no Interior do Estado: de 15 para 29. Além disso, afirma baseada em pesquisa, a maior preferência partidária pelo PT é no Brasil é no Ceará (38%). Ela não é carta fora do jogo.

CONTRA TODOS
Luizianne Lins não é a preferida. O diretório estadual do PT, comandado por Diassis Diniz, um apadrinhado do deputado federal José Guimarães, já declarou que apoiará quem Cid Gomes (Pros) indicar. A intenção dos petistas aqui, segundo Ruy Falcão, presidente nacional da sigla, é angariar votos para a reeleição da “companheira” Dilma.Não importa se haverá dois ou três palanques políticos e qual o pedigree dos aliados. Luizianne não se dá por vencida.

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