quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mundo exalta Mandela em ato marcado por aperto de mãos


Johannesburgo. Dezenas de milhares de sul-africanos de todas as raças e inúmeros chefes de Estado e de Governo se despediram ontem, em uma cerimônia emotiva, mas cheia de cantos e danças, de Nelson Mandela, o homem que venceu o regime do apartheid com uma mensagem de reconciliação.

O presidente norte-americano Barack Obama, o primeiro a discursar, cumprimentou o líder cubano Raúl Castro, com quem trocou algumas palavras Foto: reuters
Em sua chegada ao estádio Soccer City de Soweto, o presidente americano Barack Obama, o primeiro dos presidentes a discursar, cumprimentou com um aperto de mãos os demais convidados, entre eles o líder cubano Raúl Castro, com quem trocou algumas palavras.

Esse foi o ponto alto de uma cerimônia marcada por uma forte chuva e pelas vaias constantes da multidão em direção ao presidente sul-africano Jacob Zuma.

Cerca de 55.000 pessoas assistiram ao ato, mas se mostraram mais alegres e barulhentas nos arredores do estádio e nos corredores, protegidos do frio.

O sentimento de presenciar um momento único e histórico, como ocorreu no enterro de Mahatma Gandhi ou de Yitzhak Rabin, atraiu milhares de pessoas, jornalistas e celebridades como Bill Gates, Charlize Theron, Oprah Winfrey, Bono e Naomi Campbell.

"É um momento único, uma experiência única na vida", declarou Cyrill Cameroon, um comerciante de Johannesburgo, acompanhado por sua esposa Evelyn, da Costa do Marfim.

No discurso, Obama elogiou Mandela como um "gigante da História", que conquistou seu lugar na posteridade através da luta, de sua astúcia e mostrando o poder da ação política.

Raúl Castro recordou, por sua vez, a amizade do líder sul-africano com seu irmão Fidel Castro e os vínculos criados pelo apoio cubano aos movimentos rebeldes africanos. "Jamais esqueceremos quando (Mandela) nos visitou em 1991 e disse que o povo cubano tem um lugar especial no coração dos povos africanos", declarou Castro.

Washington e Havana não têm relações diplomáticas desde 1961. Os Estados Unidos aplicam um embargo comercial contra a ilha comunista desde 1962. No ano 2000, o então presidente Bill Clinton e o líder cubano Fidel Castro apertaram as mãos na cúpula do milênio de Nova York.

União

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, muito aplaudido, destacou a capacidade de Mandela de seguir aproximando, de maneira póstuma, personalidades e países adversos entre si. Mandela "demonstrou a poderosa força do perdão e sua capacidade de unir o povo" e hoje "fez isso novamente", declarou Ban.

O longo caminho para a liberdade acaba em Qunu A cerimônia foi realizada no grande estádio de Soweto, no qual Mandela fez sua última grande aparição pública, no dia 11 de julho de 2010, na final do Mundial de futebol, e começou com o hino nacional sul-africano, "Nkosi sikelel´iAfrika" (Que Deus abençoe a África), entoado com orgulho pelos presentes.

"Se o morto fosse uma criança, o ambiente seria sombrio. Mas, com Mandela, celebramos uma vida plena", explicou Jenny Pomeroy, uma sul-africana branca de 25 anos vestida com roupas coloridas.

Também ontem ocorreu uma pequena homenagem na prisão de Robben Island, onde Mandela passou 27 anos detido, antes de ser libertado em 1990 para ser eleito presidente em 1994 e guiar a África do Sul a uma transição pacífica do regime racista à democracia multirracial.

"Quando saiu livre, Mandela levou da prisão sua experiência de conviver com diferentes raças, culturas e tendências políticas, para pedir a reconciliação", declarou na cerimônia Lionel Davis, um ex-prisioneiro.

Além disso, na cela de 2,5 por 2,1 metros na qual passou 18 anos de sua vida está acesa desde segunda uma vela que "simboliza o triunfo do espírito humano", declarou o diretor do museu, Sibongiseni Mkhize.

Segundo um porta-voz da família Mandela, Madiba com certeza estava sorrindo no céu ao ver a multidão reunida para homenageá-lo. "No estádio há fortes e fracos, ricos e pobres, poderosos e pessoas anônimas", assinalou o general Thanduxolo Mandela.

"Todos compartilham do mesmo objetivo: honrar o herói da luta contra o apartheid e primeiro presidente negro da África do Sul", acrescentou.

A celebração de ontem abre cinco dias de homenagens antes do enterro, no próximo domingo em Qunu, localidade onde Mandela passou uma infância feliz e que abandonou após a morte do pai.

Dilma: líder foi o "maior do século"

Johannesburgo Em discurso na cerimônia de homenagem a Nelson Mandela, a presidente Dilma Rousseff disse que o sul-africano foi uma "personalidade maior do século 20".

A presidente discursou em português, para uma plateia desinteressada, talvez pelo fato de a tradução ter sido feita em volume baixo Foto: Presidência da república
 "Mandela conduziu com paixão e inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano na história contemporânea, o fim do apartheid na África do Sul", declarou Dilma, em discurso de cerca de dez minutos.

Segundo Dilma, "o combate de Mandela transformou-se em um paradigma não só para esse continente, mas para todos os povos que lutam pela justiça e pela igualdade". A presidente discursou em português, para uma plateia desinteressada. O sistema de tradução simultânea para o inglês era muito baixo, tornando impossível sua compreensão pelos anéis superiores do estádio FNB, onde se concentrava a maior parte do público. Muitos aproveitaram o horário do almoço para sair de seus assentos e buscar comida.

De acordo com Dilma, o apartheid foi "a forma mais elaborada e cruel da desigualdade social e política de que se tem notícia nos tempos modernos". O líder, para a presidente brasileira, que lutou contra a ditadura militar no Brasil, "inspirou a luta no Brasil e na América do Sul".

Dilma discursou como representante da América do Sul e também na condição de integrante dos Brics, bloco que reúne Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul. Também discursaram representantes dos governos indiano e chinês.
IMAGENS DA CERIMÔNIA
Alegria e barulho
Com um público de cerca de 55 mil pessoas, o ato em homenagem a Mandela teve a alegria como sentimento dominante, apesar da celebração ser a perda do líder sul-africano. A multidão mostrava-se mais barulhenta nos arredores do estádio e nos corredores, protegida do frio Fotos: Reuters

Mulheres de Mandela

A ex-esposa e a viúva de Nelson Mandela, Winnie Mandela e Graça Machel (foto), tiveram recepção calorosa na cerimônia de despedida. Abraçaram-se

Michelle "ciumenta"
Repercutiu ontem o flagra da conversa animada de Barack Obama com a premiê dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt. O que chama atenção é a cara de poucos amigos da primeira-dama dos EUA, Michelle

Honraria
O arcebispo sul-africano e Nobel da Paz, Desmond Tutu, disse sentir honra em participar das homenagens

Sem segregação

Negros e brancos se uniram em um só sentimento, assim como pregava o líder: a igualdade de raças

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