A poucos meses do fim do ano e orçamento pré-aprovado, os novos gestores terão que correr contra o tempo
Com
pouco mais de três meses para o fim do ano, os oito novos secretários
de Estado nomeados no início deste mês pelo governador Cid Gomes têm
quase R$ 3,5 bilhões de orçamento previsto até 31 de dezembro de 2014.
Entretanto, esses novos gestores enfrentarão uma política de ações em
andamento e, conforme apontam especialistas em administração pública,
terão de correr atrás do tempo perdido, especialmente em pastas como
Cultura e Segurança, apontadas como as mais problemáticas.
O
ex-secretário das Cidades, Camilo Santana, diz que a baixa execução se
dá porque alguns empréstimos foram aprovados, mas não liberados Foto:
ALEX COSTA
De acordo o Portal da Transparência do Governo do
Estado, em pesquisa realizada no dia 13 de setembro, no orçamento
estadual, R$ 1,6 bilhão foi planejado para a Secretaria de Segurança
Pública e Defesa Social no exercício de 2013. Desse montante, já foram
devidamente executados R$ 932,8 milhões. O setor que mais recebeu
recursos da pasta foi a Polícia Militar, total de R$ 597 milhões, embora
esteja previstos investimentos que chegam a R$ 1bilhão.
Já a
Polícia Civil recebeu apenas R$ 178 milhões do Governo do Estado até o
momento. Na avaliação do sociólogo César Barreira, ex-diretor geral da
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp), os investimentos
na Polícia Militar sempre são mais elevados, porque ela engloba 80% do
contingente de profissionais. No entanto, ele acredita que, na nova
gestão, devem ser fortalecidas as ações estratégicas da Civil.
Na
avaliação de Barreira, que também é professor da Universidade Federal
do Ceará, apesar do pouco tempo para implementar as ações, o novo
secretário, Servilho Paiva, que substitui o Coronel Francisco Bezerra,
terá condições de implantar ações para reverter o quadro de insegurança
no Estado, mas os resultados só serão perceptíveis a médio e longo
prazo, aponta.
"Necessariamente não teremos resultados de
imediato, mas é interessante que uma secretaria tão importante como essa
trabalhe com planejamento estratégico, metas de curto, médio e longo. A
Secretaria vai ter que fazer isso. O secretário anterior não deixou
claro esse planejamento estratégico", analisa. Para César Barreira,
algumas propostas se fazem essenciais: qualificação dos profissionais,
melhores condições de trabalho, redefinição de programas como o Ronda do
Quarteirão e reforço de investigação da Polícia Civil.
Críticas
Já
a Secretaria da Cultura, uma das que mais recebeu críticas durante a
gestão Cid Gomes, tem orçamento aprovado de R$ 86,5 milhões para 2013,
dos quais apenas R$ 39,4 milhões foram executados até o momento. A pasta
era comandada pelo deputado Francisco Pinheiro. Agora, quem assume é o
jornalista Paulo Mamede. Dos R$ 11,6 milhões previstos, por exemplo,
para serem investidos em patrimônio histórico, artístico e arqueológico,
apenas R$ 1,3 milhão foi efetivamente liquidado, pouco mais de 11% do
estimado.
A Secretaria da Saúde do Ceará pode gastar até R$ 2,4
bilhões durante o ano, segundo a dotação orçamentária aprovada, mas, até
o momento, desembolsou apenas metade desse valor, R$ 1,2 bilhão. Foram
gastos R$ 875,5 milhões do Fundo Estadual de Saúde, embora a previsão
seja de R$ 1,6 bilhão para ser distribuído em administração geral,
assistência hospitalar, atenção básica, dentre outras áreas.
Alguns
pontos do orçamento da Saúde acompanham lentamente o planejamento
orçamentário. Para o Hospital de Saúde Mental de Messejana, o Governo do
Estado planejava gastar R$ 78,3 milhões, mas só executou R$ 5,6
milhões, 7% do total. Respondia pela pasta o médico Arruda Bastos, que
foi substituído por Ciro Gomes. O novo secretário já declarou que, em
três meses, vai resolver as pendências do Hospital Geral de Fortaleza
(HGF), que só este ano recebeu R$ 130 milhões do Estado.
Uma das
secretarias que estão mais aquém no quesito execução orçamentária é a de
Cidades. O planejamento anual da pasta prevê incremento de R$ 1,2
bilhão, mas somente R$ 212,3 milhões foram liquidados, um percentual de
17,6% do planejado. O titular da pasta era o deputado Camilo Santana. O
novo gestor é Carlo Ferrentini Sampaio, que já era secretário executivo
das Cidades.
Do que foi previsto para a habitação, só R$ 25,3
milhões foram executados, quando o planejamento anual apontava R$ 338,4
milhões. A execução é inferior a 8%. O deputado Heitor Férrer (PDT)
chegou a levar os números à tribuna da Assembleia Legislativa. Em
resposta, o deputado Mauro Filho, ex-secretário da Fazenda,
desqualificou o discurso de Férrer, justificando que a maior parte da
execução se concentra no segundo semestre.
O ex-titular da pasta,
deputado Camilo Santana (PT), faz coro à defesa do colega Mauro Filho e
justifica que alguns projetos só devem ter os recursos liberados nos
últimos meses do ano. Como exemplo, cita um financiamento com o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) de R$ 243 milhões que já foi
aprovado, mas ainda não foi executado. Os recursos serão direcionados ao
projeto Cidade do Ceará II, beneficiando a região de Sobral e do Baixo
Jaguaribe.
Execução baixa
Em relação aos
investimentos em habitação, o petista cita empréstimo com a Caixa
Econômica Federal, de R$ 220 milhões, que, embora aprovado, também não
foi liberado. "Reconheço que a execução orçamentária poderia ser melhor,
muitas vezes não depende só do Estado. Uma menor parcela é de recursos
da União. Não pode só chegar e dizer que a execução é baixa, tem que
estudar o porquê. Elas (previsões orçamentárias) são apresentadas, mas
não existem de concreto ainda", pondera.
Outra secretaria
complexa é a do Esporte, cujo ex-secretário, o deputado Gony Arruda,
deixa a pasta em meio a denúncias de inadimplência de convênios que
ultrapassam os R$ 7 milhões de recursos aplicados em anos anteriores. O
novo titular da pasta, Gilvan Paiva, encontra uma secretaria com R$ 59,2
milhões de recursos liquidados de um orçamento de R$ 93 milhões.
O
ex-secretário da pasta e agora deputado em exercício, Gony Arruda, não
soube detalhar as principais fontes de arrecadação da pasta em 2013.
"Não sei, não queria mais falar. O que eu deixei foram todos os
programas em andamento. Todos os projetos estão em andamento e prontos
para serem executados", responde. Ele diz acreditar que a inadimplência
apontada nos convênios não deve interferir nas ações da pasta. "Alguns
já foram até regularizados. Não posso falar mais porque não estou mais
lá (...) A execução está equilibrada, não vai haver prejuízos para
2013".
A Secretaria Trabalho e Desenvolvimento Social, outra que
foi alvo da troca de secretários, já executou R$ 146,9 milhões dos R$
314 milhões da pasta. O ex-secretário Evandro Leitão foi substituído por
Josbertini Clementino. O Conselho de Políticas e Gestão do Meio
Ambiente (Conpam) liquidou quase 33% da previsão orçamentária anual, o
que representa R$ 24,8 milhões dos R$ 75,3 milhões que constam na
dotação orçamentária do Estado. O ex-gestor da pasta é o deputado
federal Paulo Henrique Lustosa. Assumiu a titularidade Bruno Sarmento,
ex-assessor de Eunício Oliveira.
Ruptura
Uma
das pastas centrais do Governo do Estado, a Secretaria da Fazenda
passou pela reforma imposta por Cid Gomes. Deixou o comando Mauro Filho e
assumiu João Marcos Maia, ex-secretário adjunto. O total liquidado pela
pasta foi de R$ 700 milhões. Conforme explica o economista Andrei
Simonassi, professor da Universidade Federal do Ceará, essa deve ser uma
das estruturas do Governo que menos sofrerão com a ruptura de gestão.
Isso porque Marcos Maia representa continuidade da política tocada por
Mauro Filho, hoje um dos nomes cotados do PSB para a sucessão do Governo
Estadual.
Para Simonassi, os novos secretários terão um arco de
atuação limitada, porque pegarão o bonde andando, com orçamento e
políticas pré-aprovados. "A quantidade de execução vai depender da
sintonia do secretário com o que saiu. No caso do Mauro Filho, fica mais
fácil manter a execução ou até ampliar, mesmo que não tenha sido
iniciado por ele (novo gestor)", avalia.
Nas demais pastas, os
prejuízos podem ser maiores. "Nos outros casos, a capacidade de execução
fica comprometida. O novo secretário vai primeiro entender e o ano já
acabou. A Fazenda é a menos prejudicada com as mudanças". E completa:
"Extraordinariamente pode ser aprovado (crédito extra), mas não acredito
que os novos secretários vão solicitar remanejamento, a não ser que
haja carência grande. Talvez a Saúde e Segurança Pública, que são os
gargalos do Governo Estadual".
Conforme Simonassi, caberá aos
novos secretários uma atuação mais contundente no exercício de 2014,
quando poderão planejar o orçamento da pasta. Ele opina que teria sido
esse um dos motivos que fez Cid Gomes antecipar a exoneração, prevista
para dezembro, dos secretários que querem disputar algum cargo nas
eleições de 2014.
LORENA ALVES
REPÓRTER
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