
O ex-secretário das Cidades, Camilo Santana, diz que a baixa execução se dá porque alguns empréstimos foram aprovados, mas não liberados Foto: ALEX COSTA
De acordo o Portal da Transparência do Governo do Estado, em pesquisa realizada no dia 13 de setembro, no orçamento estadual, R$ 1,6 bilhão foi planejado para a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social no exercício de 2013. Desse montante, já foram devidamente executados R$ 932,8 milhões. O setor que mais recebeu recursos da pasta foi a Polícia Militar, total de R$ 597 milhões, embora esteja previstos investimentos que chegam a R$ 1bilhão.
Já a Polícia Civil recebeu apenas R$ 178 milhões do Governo do Estado até o momento. Na avaliação do sociólogo César Barreira, ex-diretor geral da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp), os investimentos na Polícia Militar sempre são mais elevados, porque ela engloba 80% do contingente de profissionais. No entanto, ele acredita que, na nova gestão, devem ser fortalecidas as ações estratégicas da Civil.
Na avaliação de Barreira, que também é professor da Universidade Federal do Ceará, apesar do pouco tempo para implementar as ações, o novo secretário, Servilho Paiva, que substitui o Coronel Francisco Bezerra, terá condições de implantar ações para reverter o quadro de insegurança no Estado, mas os resultados só serão perceptíveis a médio e longo prazo, aponta.
"Necessariamente não teremos resultados de imediato, mas é interessante que uma secretaria tão importante como essa trabalhe com planejamento estratégico, metas de curto, médio e longo. A Secretaria vai ter que fazer isso. O secretário anterior não deixou claro esse planejamento estratégico", analisa. Para César Barreira, algumas propostas se fazem essenciais: qualificação dos profissionais, melhores condições de trabalho, redefinição de programas como o Ronda do Quarteirão e reforço de investigação da Polícia Civil.
Críticas
Já a Secretaria da Cultura, uma das que mais recebeu críticas durante a gestão Cid Gomes, tem orçamento aprovado de R$ 86,5 milhões para 2013, dos quais apenas R$ 39,4 milhões foram executados até o momento. A pasta era comandada pelo deputado Francisco Pinheiro. Agora, quem assume é o jornalista Paulo Mamede. Dos R$ 11,6 milhões previstos, por exemplo, para serem investidos em patrimônio histórico, artístico e arqueológico, apenas R$ 1,3 milhão foi efetivamente liquidado, pouco mais de 11% do estimado.
A Secretaria da Saúde do Ceará pode gastar até R$ 2,4 bilhões durante o ano, segundo a dotação orçamentária aprovada, mas, até o momento, desembolsou apenas metade desse valor, R$ 1,2 bilhão. Foram gastos R$ 875,5 milhões do Fundo Estadual de Saúde, embora a previsão seja de R$ 1,6 bilhão para ser distribuído em administração geral, assistência hospitalar, atenção básica, dentre outras áreas.
Alguns pontos do orçamento da Saúde acompanham lentamente o planejamento orçamentário. Para o Hospital de Saúde Mental de Messejana, o Governo do Estado planejava gastar R$ 78,3 milhões, mas só executou R$ 5,6 milhões, 7% do total. Respondia pela pasta o médico Arruda Bastos, que foi substituído por Ciro Gomes. O novo secretário já declarou que, em três meses, vai resolver as pendências do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que só este ano recebeu R$ 130 milhões do Estado.
Uma das secretarias que estão mais aquém no quesito execução orçamentária é a de Cidades. O planejamento anual da pasta prevê incremento de R$ 1,2 bilhão, mas somente R$ 212,3 milhões foram liquidados, um percentual de 17,6% do planejado. O titular da pasta era o deputado Camilo Santana. O novo gestor é Carlo Ferrentini Sampaio, que já era secretário executivo das Cidades.
Do que foi previsto para a habitação, só R$ 25,3 milhões foram executados, quando o planejamento anual apontava R$ 338,4 milhões. A execução é inferior a 8%. O deputado Heitor Férrer (PDT) chegou a levar os números à tribuna da Assembleia Legislativa. Em resposta, o deputado Mauro Filho, ex-secretário da Fazenda, desqualificou o discurso de Férrer, justificando que a maior parte da execução se concentra no segundo semestre.
O ex-titular da pasta, deputado Camilo Santana (PT), faz coro à defesa do colega Mauro Filho e justifica que alguns projetos só devem ter os recursos liberados nos últimos meses do ano. Como exemplo, cita um financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de R$ 243 milhões que já foi aprovado, mas ainda não foi executado. Os recursos serão direcionados ao projeto Cidade do Ceará II, beneficiando a região de Sobral e do Baixo Jaguaribe.
Execução baixa
Em relação aos investimentos em habitação, o petista cita empréstimo com a Caixa Econômica Federal, de R$ 220 milhões, que, embora aprovado, também não foi liberado. "Reconheço que a execução orçamentária poderia ser melhor, muitas vezes não depende só do Estado. Uma menor parcela é de recursos da União. Não pode só chegar e dizer que a execução é baixa, tem que estudar o porquê. Elas (previsões orçamentárias) são apresentadas, mas não existem de concreto ainda", pondera.
Outra secretaria complexa é a do Esporte, cujo ex-secretário, o deputado Gony Arruda, deixa a pasta em meio a denúncias de inadimplência de convênios que ultrapassam os R$ 7 milhões de recursos aplicados em anos anteriores. O novo titular da pasta, Gilvan Paiva, encontra uma secretaria com R$ 59,2 milhões de recursos liquidados de um orçamento de R$ 93 milhões.
O ex-secretário da pasta e agora deputado em exercício, Gony Arruda, não soube detalhar as principais fontes de arrecadação da pasta em 2013. "Não sei, não queria mais falar. O que eu deixei foram todos os programas em andamento. Todos os projetos estão em andamento e prontos para serem executados", responde. Ele diz acreditar que a inadimplência apontada nos convênios não deve interferir nas ações da pasta. "Alguns já foram até regularizados. Não posso falar mais porque não estou mais lá (...) A execução está equilibrada, não vai haver prejuízos para 2013".
A Secretaria Trabalho e Desenvolvimento Social, outra que foi alvo da troca de secretários, já executou R$ 146,9 milhões dos R$ 314 milhões da pasta. O ex-secretário Evandro Leitão foi substituído por Josbertini Clementino. O Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) liquidou quase 33% da previsão orçamentária anual, o que representa R$ 24,8 milhões dos R$ 75,3 milhões que constam na dotação orçamentária do Estado. O ex-gestor da pasta é o deputado federal Paulo Henrique Lustosa. Assumiu a titularidade Bruno Sarmento, ex-assessor de Eunício Oliveira.
Ruptura
Uma das pastas centrais do Governo do Estado, a Secretaria da Fazenda passou pela reforma imposta por Cid Gomes. Deixou o comando Mauro Filho e assumiu João Marcos Maia, ex-secretário adjunto. O total liquidado pela pasta foi de R$ 700 milhões. Conforme explica o economista Andrei Simonassi, professor da Universidade Federal do Ceará, essa deve ser uma das estruturas do Governo que menos sofrerão com a ruptura de gestão. Isso porque Marcos Maia representa continuidade da política tocada por Mauro Filho, hoje um dos nomes cotados do PSB para a sucessão do Governo Estadual.
Para Simonassi, os novos secretários terão um arco de atuação limitada, porque pegarão o bonde andando, com orçamento e políticas pré-aprovados. "A quantidade de execução vai depender da sintonia do secretário com o que saiu. No caso do Mauro Filho, fica mais fácil manter a execução ou até ampliar, mesmo que não tenha sido iniciado por ele (novo gestor)", avalia.
Nas demais pastas, os prejuízos podem ser maiores. "Nos outros casos, a capacidade de execução fica comprometida. O novo secretário vai primeiro entender e o ano já acabou. A Fazenda é a menos prejudicada com as mudanças". E completa: "Extraordinariamente pode ser aprovado (crédito extra), mas não acredito que os novos secretários vão solicitar remanejamento, a não ser que haja carência grande. Talvez a Saúde e Segurança Pública, que são os gargalos do Governo Estadual".
Conforme Simonassi, caberá aos novos secretários uma atuação mais contundente no exercício de 2014, quando poderão planejar o orçamento da pasta. Ele opina que teria sido esse um dos motivos que fez Cid Gomes antecipar a exoneração, prevista para dezembro, dos secretários que querem disputar algum cargo nas eleições de 2014.
LORENA ALVES
REPÓRTER

Nenhum comentário:
Postar um comentário