quarta-feira, 13 de março de 2013

BNB cobra dívidas de agricultores

590 produtores rurais do Pronaf estão com seus nomes expostos no edital do banco e ameaçados de Cadin

Se dependesse dos pronunciamentos dos deputados da Assembleia Legislativa, o problema da seca no Ceará já teria sido resolvido há muito tempo. O problema é que sequer os discursos deles são ouvidos pelos governantes. Ontem, por exemplo, saiu publicado um edital do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), cobrando dívidas atrasadas dos agricultores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Deputada Fernanda Pessoa defende mais construções de poços profundos e ampliação do sistema de distribuição de água com a população interiorana que está sofrendo com a falta do líquido para suas necessidades pessoais FOTO: JOSÉ LEOMAR


O BNB, ligado ao Governo Federal, está cobrando financiamentos feitos a 590 produtores rurais (veja edital ao lado) e ainda os ameaça de inscrever seus nomes no Cadastro Informativo de Créditos Não-Quitados do Setor Público Federal (Cadin), além da inscrição de cada um dos devedores na Dívida Ativa da União.

Quando da sessão ordinária de ontem, os deputados ainda não sabiam dessa posição do Banco do Nordeste. A discussão sobre a seca, porém, ficou na denúncia dos prejuízos causados aos agricultores e pecuaristas. A cobrança do Bando Nordeste feitas aos agricultores é somente da agência de Limoeiro do Norte, segundo o edital.

Máquinas

O deputado Osmar Baquit (PSD), além de denunciar os prejuízos dos pequenos agricultores e dos pecuaristas, sugeriu que o Governo comprasse cem máquinas de perfurar poços como uma alternativa emergencial para que a situação fosse amenizada. Ele ressaltou que o custo para tal seria de até R$ 100 milhões, visto que cada perfuradora, segundo disse, custa em média R$ 1 milhão.

Para Baquit, o fato de a seca ser uma constante no Ceará faz com que seja necessária a compra dessas máquinas, porque dessa forma, quando outra estiagem assolar o Estado, o Governo já terá um equipamento para evitar o sofrimento da população. "A seca não é imprevisível, ela é previsível, portanto, temos que ter soluções antes de começar a causar danos", ressaltou.

Nenem Coelho (PSD) afirmou que a reunião do Comitê de Combate à Seca na última segunda-feira serviu para mostrar que milhões em dinheiro surgem, mas que não chega efetivamente ao Interior do Estado, onde as pessoas estão mais necessitadas das ações do Governo. Para ele, a cada dia que passa o quadro se complica ainda mais e prova disso é o rebanho nas áreas atingidas que tem sido dizimado.

Apesar das propostas feitas e algumas já aplicadas, ele garante que são insuficientes e que seria necessário um trabalho mais incisivo por parte da bancada federal junto ao Ministério da Agricultura para que as pessoas sintam de forma mais efetiva as ações propostas.

Pedindo

"Diante das dificuldades que estamos vivenciando não podemos aceitar que no Centro-Oeste tenha uma super safra e a gente aqui com rebanho morrendo. Daí o nosso alerta. Nós não estamos criticando, mas pedindo que as ações sejam efetivadas".

O deputado cobrou do seu colega João Jaime (PSDB), presidente da Comissão Especial da Seca, uma reunião urgente para que os parlamentares possam se debruçar sobre o relatório da primeira reunião do colegiado com o Comitê da Seca, na segunda-feira passada. O oposicionista Roberto Mesquita (PV), por sua vez, solicitou medidas mais urgentes para o combate a estiagem, principalmente, no que tange a utilização de máquinas para perfuração de poços.

Afirmando que o Estado possui quatro equipamentos com capacidade de perfuração de 120 metros, o deputado lembrou que pessoas estão com sede e tendo os seus patrimônios dizimados. Para ele, não existem apoio ou força de vontade política por parte do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas para dar contribuição no tratamento com a seca.

Mesquita ainda alertou seus pares para um possível colapso em alguns municípios que podem sofrer com a falta de abastecimento de água, e que, diante da situação, faz-se necessário "provocar" o Governo do Estado, sugerindo a utilização de vagões-pipa, levando água por linha férrea.

"É preciso que o governador, que nos orgulha com suas políticas de desenvolvimento, tenha sensibilidade para cuidar dos 2,5 milhões de cearenses que sofrem com a falta da água", apontou. O deputado Tin Gomes (PHS), sugeriu a Mesquita que a Comissão da Seca da AL poderia organizar uma visita aos órgãos responsáveis pelas máquinas a fim de fazer um levantamento exato da capacidade.

Decepcionada

Já a deputada Fernanda Pessoa (PR), que esteve na reunião do Comitê Integrado de Combate à Seca na segunda-feira, juntamente com alguns parlamentares e representantes do Governo, como o secretário de Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins, afirmou que ficou decepcionada com a reunião.

Ela lembrou ainda matéria do Diário do Nordeste ressaltando que o período prolongado da falta de chuvas tem ocasionado a deficiência no suprimento de alimentação animal, visto que desde fevereiro não chegou remessas de milho.

"E, sejamos claros, há quantos anos essas famílias sofrem com a estiagem? Se já estamos na sexta maior seca, se a última pior seca foi há 40 anos? Então, mesmo depois de 40 anos, ainda não conseguimos solucionar a falta de água desses sertanejos?" Ela fez um comparativo entre obras entregues em tempo hábil pelo Governo do Estado em detrimento de políticas de solução para os problemas da seca.

"O nosso Ceará não conseguiu solucionar a seca. Mas conseguiu entregar o Castelão em tempo recorde, fazer o maior Centro de Eventos da América latina, e está construindo um Aquário. Mas, o nosso Ceará não conseguiu minimizar, muito menos solucionar, a falta de água nos nossos municípios cearenses", atacou, defendendo a perfuração de mais poços profundos e entrega de água por meio de carros-pipa a um maior número de vítimas cearenses.





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