segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Obesidade atinge 140 mil crianças e jovens

O mal pode ser evitado com atividades físicas e uma alimentação adequada. Estudos apontam que crianças que dormem pouco têm mais probabilidade de sofrer com aumento de peso, mesmo sem outros fatores de risco Foto: Fábio Lima (17/06/06)
Problema maior é observado dos cinco aos 9 anos de idade e motiva médicos a fazer campanha na Capital
Uma doença silenciosa vem se alastrando em Fortaleza: a obesidade infanto-juvenil. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), baseada em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 140 mil crianças e jovens entre cinco e 19 anos de idade estão com o peso bem acima do ideal.
A faixa etária dos cinco aos nove anos é o de maior prevalência, onde três em cada dez crianças estão obesas. O estudo também demonstra ainda que o aumento de pessoas que estão acima do peso é maior em meninos pertencentes às classes de renda mais baixas.

O cenário é agravado por mudanças nos hábitos alimentares, ampla oferta de produtos hipercalóricos e menos atividades físicas nas horas de lazer e vem preocupando médicos que lidam com o problema. Por esta razão, a regional Ceará da SBEM realizou, no último sábado, campanha de alerta sobre a questão, no Shopping Iguatemi.

De acordo com a presidente da SBEM - regional Ceará, Cristina Façanha, a obesidade de crianças e jovens provoca doenças antes exclusivas de adultos, como patologias cardiovasculares, que hoje já afetam alunos do ensino fundamental e médio. "Hábitos alimentares indevidos e o sedentarismo são dois dos principais fatores de risco, apesar de não se descartar questões hereditárias", afirma a médica.

Além disso, ressalta ela, estudos afirmam que crianças que dormem pouco têm uma maior probabilidade de sofrer com aumento de peso, mesmo controlando outros fatores de risco.

A cada hora de sono adequado, aponta a especialista, a chance da criança se tornar obesa em um futuro próximo é diminuída consideravelmente. Já em relação à falta de atividade física, vários são os fatores que contribuem para essa situação.

Entre eles, cita Cristina Façanha, o ritmo de vida das grandes cidades, levando-se à falta de tempo dos pais de participarem conjuntamente de momentos de lazer fora de casa com seus filhos e ao aumento da violência nos grandes centros, que, via de regra, confina as crianças em suas residências, na maior parte das vezes, em frente ao computador, videogame ou TV.

Em um estudo realizado pelo sistema Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde, Fortaleza foi classificada em segundo lugar entre as capitais brasileiras em números percentuais de adultos com excesso de peso e em primeiro lugar em termos de aumento do número de pessoas com diabetes.

"Sabemos que a obesidade é uma doença crônica, de tratamento difícil e que a prevenção é a única abordagem realmente eficaz. Se, por um lado, a obesidade na infância prediz obesidade no adulto, por outro, é justamente na infância o momento ideal para uma abordagem mais eficaz do problema", afirma.

Diante deste panorama, avalia a médica, a situação só poderá mudar quando a sociedade tomar consciência da real gravidade do problema, vindo de dentro para fora as medidas em busca da reversão deste quadro. "Não podemos ficar esperando que os governos tomem para si, espontaneamente e unilateralmente, as atitudes necessárias para controle de uma situação tão complexa e delicada", frisa.

Tratamento
Entre as unidades especializadas no tratamento e acompanhamentos de crianças e adolescentes em Fortaleza, está o Serviço de Endocrinologia Pediátrica do Hospital Albert Sabin (Hias), que funciona desde 2008.

De acordo com a endocrinopediatra Débora Cabral, lá são atendidos 300 crianças por mês. Desse total, 30% enfrentam a obesidade e recebem tratamento diferenciado. "Não ministramos medicamento, e o apoio de toda a família é essencial para motivar e ajudar o menino ou menina durante esse período".

O serviço do Hias não é porta aberta, ou seja, somente o pediatra do posto de saúde ou outras unidades podem encaminhar o paciente. "Ele ainda passará por avaliação para saber o grau de seu quadro. Somente aí, começamos o tratamento, que não é fácil e precisa do envolvimento de vários profissionais e, principalmente dos pais. É preciso combater esse mal que causa tantas outras patologias graves", diz.

LÊDA GONÇALVESREPÓRTER



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