segunda-feira, 22 de outubro de 2012

INTERNET: Mensagens falsas causam transtornos e trazem riscos à segurança

Uma das mais recentes vítimas das mensagens de correntes falsas foi uma professora do curso de Letras da UFC
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A professora universitária Sandra Maia Vasconcelos começou a receber e-mails e ligações de amigos e conhecidos prestando solidariedade pelo sumiço da filha dela, a adolescente Ashley Flores, de 13 anos. Dispostos a ajudar a encontrar a menina, internautas reenviavam o e-mail com a foto da garota para todos os contatos de suas listas. Quem conhecia a funcionária pública, fazia mais, e ligava oferecendo orações e apoio emocional. O único problema é que a garota não era filha da professora e também não estava desaparecida. Tudo não passa de uma ´brincadeira´ de mau gosto.
O caso da adolescente sumida Ashley Flores vem, há cerca de seis anos, trazendo preocupação e aborrecimento para muitas pessoas ao redor do mundo. A mensagem que informa o desaparecimento da jovem circula pela internet desde 2006, em vários idiomas. Em cada país ou estado, a história ganha novos ingredientes para dar mais credibilidade à história. Um engenheiro já foi o pai da garota e aqui no Ceará, ele seria casado com a professora da UFC.

Mensagens
As mensagens, que são divulgadas por e-mail ou pelas redes sociais, afirmam que Ashley sumiu há duas semanas, mas não informam a data, o que faz com que seja repassada várias vezes e quem a recebe pela primeira vez pode achar que o texto é recente.

O e-mail não cita características físicas, que roupa ela estaria usando quando desapareceu, onde foi vista pela última vez, não acrescenta nenhum detalhe que possa ajudar na identificação da adolescente.

Na última semana, a "triste história" de Ashley e da sua suposta "família" chegou ao e-mail da editoria de Polícia do Diário do Nordeste e relatava no assunto, o "pedido emergencial de um colega da UFC (Universidade Federal do Ceará)".

O conteúdo da mensagem revelava o drama de uma mãe, que clamava por ajuda. "Passe foto a todo o mundo, nunca se sabe. Por favor, olha a foto, lê a mensagem de uma mãe desesperada e passa foto a todos seus contatos", dizia um trecho do arquivo.

O apelo funcionou e os e-mails foram se espalhando rapidamente. Ao checar a informação, a reportagem descobriu que tudo não passava de uma farsa e resolveu contar o drama que a funcionária pública vem enfrentando há cerca de um mês.

"Para mim não teve graça nenhuma passar por esse constrangimento", desabafou a professora doutora, que dá aulas no mestrado e doutorado do Curso de Letras da UFC. "Infelizmente eu fui a escolhida da vez e está sendo muito aborrecedor", lamentou a professora.

Sandra disse ter recebido o primeiro e-mail de um conhecido perguntando se era verdade que a filha dela estava desaparecida. "Os contatos que apareciam no texto eram do tempo em que eu chefiava um departamento, cargo que não ocupo há mais de dois anos". Além do número do telefone do trabalho, o e-mail continha ainda o número do celular da professora e o link para o currículo acadêmico dela.

Transtornos
Mas os transtornos estavam apenas começando. Ela realizou uma busca e descobriu o que estava acontecendo. A funcionária pública retornou a primeira mensagem esclarecendo o fato de não ter nenhuma filha desaparecida e também que o nome do marido dela era outro e não o que aparecia no texto. Quando o número de pessoas repassando o ´engodo´ aumentou, a professora resolveu enviar um e-mail para todos os seus contatos desmentindo o boato. Não funcionou. Ela contou que, desde setembro deste ano, não há um dia sequer em que não tenha que esclarecer, seja por e-mail ou telefone, que teve o nome envolvido em uma fraude.

A funcionária pública disse que vai aguardar até o fim deste mês o desfecho da ´brincadeira´. "Se não parar de receber mensagens ou telefonemas, vou fazer um Boletim de Ocorrência para tentar descobrir quem começou isso". A professora teme ainda que o nome dela esteja sendo usado em outras fraudes.

Há cerca de uma semana, Sandra Maia recebeu e-mail de um suposto professor da Universidade Federal do Mato Grosso dizendo que "a permuta entre os dois não daria certo". Ela respondeu, indagando a que o remetente da mensagem estava se referindo, já que ela nunca cogitou sair do Ceará em uma transferência de unidade de ensino. "Não sei o que pode acontecer depois se isso continuar", afirmou.

Protagonista
Falso sumiço se espalhou por vários países
Ashley Flores, segundo sites especializados em desvendar o que está por trás das correntes e e-mails que espalham boatos eletrônicos, como - www.quatrocantos.com e www.e-farsas.com -, é uma pessoa real e um amigo dela teve a ideia de fazer uma brincadeira com a menina, em meados de 2005, aproveitando alguns textos falsos famosos que rondavam a internet na época... A ´brincadeira´ ganhou contornos mundiais e a história falsa do desaparecimento tem versões em inglês, francês, espanhol, português e até japonês. No início dos anos 2000, outro e-mail invadiu a web dando contava que uma criança, conhecida como Penny Brown estaria desaparecida. O texto era falso e teria servido de inspiração para o amigo da jovem Ashley Flores a criar o e-mail falso que tem trazido transtornos e aborrecimentos para muita gente.

Opinião do especialista
Cautela na hora de repassar e-mails
Pablo Ximenes - pablo@ximen.es
Professor de Segurança da Informação

É preciso cautela na hora de lidar com correntes de e-mail. Quando encaminhamos um e-mail de corrente, comumente enviamos, além da mensagem original, todos os endereços de e-mail originalmente contidos nela. Além disso, temos o péssimo hábito de enviar mensagens com a lista de destinatários aberta, às vistas de todos que as recebem. Assim, quem recebe a corrente acaba vendo todos os endereços de quem já a recebeu e todos aqueles para os quais ela está sendo enviada. Esse fenômeno continua com a próxima pessoa que encaminha, fazendo a lista de e-mails crescer como que em uma bola de neve a qual nunca sabemos onde irá parar. Essa bola de neve, via de regra, acaba nas mãos da indústria do spam e o sossego de quem tem o e-mail nessa lista acaba.

Outro problema é que correntes são, quase sempre, estórias inventadas sem nenhum fundo de verdade. Ao encaminhar esses e-mails, estamos associando nossa reputação a um engodo, nos passando por ingênuos (ou, até mesmo, por mentirosos). Isso é particularmente perigoso quando a mensagem traz recomendações médicas ou de saúde, como é o caso de uma que sugeria absurdamente cobrir queimaduras no corpo com farinha de trigo. Da mesma forma, alguns programas de computador maliciosos se disfarçam de corrente para ludibriar internautas. Geralmente, e-mails desse tipo pedem que você abra um anexo ou que visite determinada página na rede, o que acaba por deixar o computador contaminado pelas piores mazelas eletrônicas.

Apesar de tudo isso, não podemos deixar o poder multiplicador da internet ser banalizado ou perder sua eficácia. Temos que continuar encaminhando mensagens, mas com hábitos seguros, sempre considerando nossa privacidade e a de nossos amigos. Por isso, se for repassar uma mensagem, sempre dê uma olhada no Google pra ver se a estória é verídica, apague os e-mails da mensagem original e esconda os e-mails dos seus amigos, colocando-os no campo CCO (Cópia Carbono Oculta).

PF combate cibercrimes no CE
O departamento de Crimes Virtuais, da Polícia Federal (PF) cearense, investiga os ´cibercrimes´, mas somente os que estejam atrelados às suas competências. O que fica caracterizado como crime comum, ou contra a pessoa, como injúria, difamação e calúnia devem ser denunciados à Polícia Civil.

O delegado da Polícia Civil, Jairo Pequeno, disse que há um projeto para criação de uma unidade para investigar crimes cibernéticos.
No entanto, no Ceará não existe um órgão estadual especializado na apuração de crimes cibernéticos. No Nordeste, somente o Estado de Pernambuco conta com uma delegacia de Polícia especializada para este tipo de investigação. No Brasil inteiro são somente 11.

O diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), delegado Jairo Façanha Pequeno, afirmou que há um projeto de criação de uma unidade especializada na Polícia Civil do Ceará, mas que ainda não há data prevista para que este projeto seja concretizado. "Por enquanto, a Delegacia de Defraudações e Falsificações investiga esses crimes, já que eles sempre são desencadeados por uma fraude".

Segundo o perito criminal da Polícia Federal, especializado em Informática, Murilo Tito Pereira, a vítima de um ´cibercrime´ deve procurar a Polícia, munido de comprovantes do fato. "Você precisa ir até à PF e formalizar sua denúncia. Um inquérito será aberto e a partir daí deve haver um convencimento da Polícia e da Justiça de que aquela prática caracterizou um crime. É um procedimento burocrático, que pode levar meses para ser resolvido" afirmou Murilo Tito. O perito lembra ainda, que redes sociais como o facebook, que tem o provedor em outro País, têm entraves ainda maiores para o fornecimento de informações. "Algumas grandes empresas como Google e Microsoft já têm convênios com a Polícia do Brasil, mas outras ainda não. Se o conteúdo estiver hospedado em um provedor pequeno e estrangeiro é muito difícil chegar ao autor", ressaltou o perito.

Prostituição infantil
Para ele, crimes que envolvem fraudes bancárias e prostituição infantil, praticados na rede, são os mais incidentes nos trabalhos da PF do Ceará. A prostituição infantil vem sendo combatida em constantes operações baseadas em investigações virtuais.

"Este conteúdo não se espalha abertamente, não é repassado em correntes de e-mails, como alguns racistas e xenófobos fazem. Algumas delas, são organizadas e restritas apenas para convidados, outras são acessadas por ´palavras-chave´ que quem procura já conhece. Juntando provas contundentes conseguimos pedir a quebra de sigilo de computadores suspeitos, para que as providências com os usuários sejam tomadas".

Denúncias sobre conteúdos suspeitos enviados como spams, correntes ou e-mails comuns podem ser feitas para a unidade da Polícia Federal pelo endereço: crime.internet@dpf.gov.br.

EMERSON RODRIGUES/MÁRCIA FEITOSAREPÓRTER/ESPECIAL PARA POLÍCIA

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