quarta-feira, 11 de julho de 2012

Velório de dom Eugenio Sales é marcado pela serenidade

O papa Bento XVI, em telegrama, expressou pesar pela morte, chamando dom Eugenio de ´intrépido pastor´
Rio de Janeiro. O velório do cardeal dom Eugenio de Araújo Sales, arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi marcado pela serenidade. Cerca de sei mil pessoas acompanharam ontem o velório do corpo na Catedral de São Sebastião, no centro do Rio. Dom Eugenio será sepultado hoje, na cripta da catedral, após a missa que ocorrerá às 15 horas e será presidida pelo arcebispo do Rio, dom Orani João Tempesta.

Uma pomba branca que foi solta por um voluntário durante a solenidade simbolizando a paz, em vez de voar, pousou sobre o caixão e ali permaneceu durante mais de uma hora, emocionando as pessoas presentes ao velório FOTO: AGËNCIA ESTADO

Na entrada da catedral, o corpo do cardeal foi recebido com uma salva de palmas dos fiéis presentes e com a execução do Hino Nacional e da Marcha Pontifícia, o Hino do Vaticano, pela Companhia de Músicos da Polícia Militar.


Muitos se emocionaram com a cena que viria a seguir. O voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, soltou uma pomba branca, símbolo da paz, como parte da solenidade. Mas ao invés de voar, a ave pousou sobre o caixão e ali permaneceu durante mais de uma hora. "Eu não sei o que aconteceu, mas sei que tem um propósito para isso. Só mostra que ele está presente aqui, abençoando todos", disse o voluntário, emocionado.

A primeira missa de corpo presente foi presidida por dom Orani, que relembrou a trajetória daquele que dedicou quase 70 anos de sua vida ao sacerdócio e foi considerado pelo Papa Bento XVI um "intrépido pastor" e um "ponto de referência e de fidelidade à Sé Apostólica". "Ele soube trabalhar tanto na elaboração dos planos pastorais da arquidiocese, para evangelização das comunidades e aprofundamento da fé, como também na presença do Brasil junto à Santa Sé", afirmou o atual arcebispo.

Dom Eugenio , 91, morreu de infarto às 22h30 de segunda-feira, enquanto dormia em sua casa no alto do Sumaré, zona norte do Rio. Um ruído chamou a atenção dos acompanhantes, que entraram no cômodo e o encontraram morto. A causa da morte foi um enfarto agudo do miocárdio.

Além de autoridades religiosas, estiveram presentes ao velório o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, e o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Durante todo o dia, fiéis puderam participar da cerimônia de despedida ao cardeal.

Além das missas que ocorriam a cada duas horas até à meia-noite, estava programada também uma vigília durante toda a madrugada. Muitos fiéis vieram em pequenos grupos, representando diferentes movimentos eclesiásticos.

"Dom Eugenio foi um exemplo de santidade para a Igreja e para o povo do Rio de Janeiro, e isso se estendeu também para nós, que não somos do Rio", disse a missionária Meire Ferreira Machado. Ela é da comunidade Aliança de Misericórdia, de São Paulo, e está na cidade realizando missão de evangelização pelas ruas do centro do Rio, em conjunto com jovens voluntários do interior de São Paulo, de Minas e do Ceará. Para Meire, "temos hoje um santo no céu".

Pesar

O Papa Bento XVI encaminhou ontem, um telegrama ao Arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, expressando pesar pela morte. Na carta, o líder da igreja católica refere-se a dom Eugenio como um "intrépido pastor" e "autêntica testemunha do evangelho no meio do seu povo" e "ponto de referência e de fidelidade à Sé Apostólica".

Em sua trajetória, a preocupação social sempre esteve associada ao trabalho eclesiástico, como sintetizam as Campanhas da Fraternidade, uma de suas iniciativas, que marcam a ação da igreja. Em nota, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte do cardeal, comunicando pesar e "solidariedade ao povo do Rio de Janeiro e a todos os admiradores". "O cardeal Dom Eugenio deixa seu nome inscrito na história da Igreja Católica pelo relevante papel que desempenhou em toda a sua vida".

Em Brasília, o presidente do Senado, José Sarney, disse que o cardeal deixou um importante legado para a Igreja.

Cardeal foi ordenado no Seminário da Prainha
Eugenio de Araújo Sales nasceu em 11 de novembro de 1920 em Acari, Rio Grande do Norte. Sua vocação religiosa começou cedo. Quando cursava o primário e decidiu ser padre. Entrou para o seminário em 1936, aos 16 anos. Após o Curso de Humanidades, foi enviado ao Seminário Maior da Prainha, em Fortaleza, onde permaneceu de 1937 a 1943.

Aos 23 anos completou seus estudos e foi preciso o Vaticano autorizar sua ordenação, que aconteceu em 1943 no Seminário da Prainha, pois a idade mínima exigida era de 24 anos. Sua ascensão também foi rápida e com 34 anos já era bispo auxiliar de Natal (RN).

Dom Eugenio foi nomeado administrador apostólico de Natal (RN) em 1962 e arcebispo de Salvador seis anos depois. Em 1969, torna-se Cardeal. É nomeado arcebispo da Arquidiocese do Rio em 1971 onde ficou por 30 anos.

Sindicato
Foi no Rio Grande do Norte, nos anos 50, que dom Eugenio criou o programa de alfabetização rural, usando uma emissora e três mil rádios transistores doados pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Na mesma época, empenhou-se na legalidade do primeiro sindicato de trabalhadores rurais e montou a primeira campanha da fraternidade, depois adotada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Dom Eugenio recusou-se, em 1981, a comparecer a um encontro das comunidades eclesiais de base alegando que a atuação das CEBs não fora regulamentada pela igreja. Em 1988, apoiou a repreensão do papa ao bispo progressista d. Pedro Casaldáliga, de São Felix do Araguaia.

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