segunda-feira, 2 de julho de 2012

Unifor forma 1º surdo mestre em Administração

Emocionado com a conquista, Fábio Benício Nogueira já se prepara para concorrer a uma vaga no doutorado da Unifor em 2013 Foto: Lucas de Menezes
Trabalho final do aluno foi aprovado com nota 10 e louvor, no último dia 19, na Universidade de Fortaleza
Contribuir para derrubar as barreiras das desigualdades e para promover a inclusão social por meio de suas próprias pesquisas. Estas são algumas das metas de Fábio Benício Nogueira, 33 anos, o primeiro mestre surdo em Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza (Unifor), do Ceará e do Brasil. “Sinto orgulho e felicidade por essa conquista. Meu choro, no momento da defesa da dissertação, não foi de tristeza, e sim por mais essa superação”, diz Fábio.
Intitulada “Políticas Institucionais e Ações Inclusivas nas Universidades: Análise das Condições de Acesso para Discentes Surdos”, sua dissertação foi aprovada com nota 10 e também louvor, no dia 19 último na Universidade de Fortaleza (Unifor).

O estudo, feito ao longo de dois anos, traz dados quantitativos sobre a população surda cearense e brasileira. Aponta, por exemplo, que o Estado do Ceará lidera o ranking de alunos com surdez, com 30%, quando no Brasil a taxa média é de 23%.

Os resultados da pesquisa dizem respeito à inclusão e à acessibilidade nas universidades e sobre a população surda de uma forma geral. A professora doutora Mônica Tassigny, titular do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Fortaleza, foi a orientadora do aluno. “No século XXI, a Universidade incorpora grande responsabilidade com a democratização e a promoção da igualdade na sociedade. E ao possibilitar a realização do mestrado para esse aluno ou outros que enfrentam algum tipo de barreira, a instituição sai da teoria e concretiza a inclusão”, acrescentou a professora.

Mônica Tassigny observou, ainda, que algumas iniciativas e adaptações foram necessárias para possibilitar o ingresso do servidor público no curso, com destaque para adaptação do Edital da Seleção para o Mestrado, que passou a incluir a acessibilidade linguística, ou seja, aceitou a Língua Brasileira de Sinais (Libras). “Com isso, foi possível mostrar que o surdo é tão capaz quanto as demais pessoas e que suas pesquisas têm valor e rigor científicos”, citou.

Oralidade

Atualmente, a Universidade de Fortaleza conta com nove intérpretes em Libras. Nas aulas do Mestrado, Fábio contou com um intérprete e na fase da produção de texto de sua pesquisa foi auxiliado por uma segunda intérprete, Natália Almeida. “A Libras apresenta uma comunicação com estrutura e uma gramática diferentes do Português”, disse Natália, esclarecendo que Fábio também é oralizado, ou seja faz leituras labiais.

Casado e pai de duas filhas (também surdas), o novo mestre é servidor público de uma instituição de ensino federal em Fortaleza. Incansável, anunciou que, em 2013, pretende concorrer a uma vaga para o doutorado em Administração pela Unifor.

Dentre as conclusões mais importantes de seu estudo, Fábio Nogueira ressaltou ter descoberto a existência de acessibilidade nas universidades que pesquisou, a Unifor e em uma outra instituição pública cearense. Além do respeito à Língua Brasileira dos Sinais, citou que, no caso da Universidade de Fortaleza, isso se verifica também por meio do Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP), que estabelece diretrizes de acessibilidade para todas as pessoas com deficiência e aos surdos, fomentando, dessa maneira, o processo de inclusão.

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