Josefa Maria da Conceição faz aniversário hoje. Ainda traz muitas lembranças de quando conheceu o 'Padim' em Juazeiro do Norte HONÓRIO BARBOSA |
Antonina do Norte. Uma das mulheres mais velhas do Ceará comemora, hoje, 108 anos de idade. Josefa Maria da Conceição permanece lúcida, caminha em casa, lembra das dificuldades que enfrentou para sobreviver aos anos de seca e criar os filhos. Traz no coração recordações de Padre Cícero, da chegada do trem à cidade de Juazeiro do Norte, do primeiro automóvel no Crato.Dona Josefa mora com a filha mais velha, Geraldina Ferreira Gomes, 76 anos, em uma casa de taipa, mas com alpendre e reboco, a 200 metros da CE-373, no Distrito Tabuleiro, a 5km da cidade de Antonina do Norte. Hoje à tarde, quatro filhos, seis netos e um bisneto vão se reunir para cantar parabéns à matriarca querida pela família. Não haverá festa, mas um encontro fraterno, um bolo já encomendado, para marcar a data.
E qual o segredo para uma vida centenária? "Não tem. Deus é quem sabe", responde dona Josefa. A senhora imaginava viver tanto assim? "Nunca pensei. Sou de quatro (1904) e já cheguei aos 108, não é isso?", ri, passa a mão no rosto e fica pensativa. "Estou vivendo". Devota de Padre Cícero e de Nossa Senhora das Dores, disse que sempre confiou em Deus e nos santos para seguir vivendo.
Dona Josefa só foi ao médico uma vez, em 1986. Deixou de fumar, aos 82 anos, por recomendação médica. Não reclama de dores, mas escuta com muita dificuldade. A vista é boa. Sentada numa área com alpendre, onde fica o fogão a lenha, ao lado do terreiro da casa, observa no fim de tarde, um grupo de alunos voltando da escola e comenta: "São os meninos do colégio". Parece estar atenta a tudo.
Rotina diária
Nas duas últimas décadas, mantém uma rotina em casa. Acorda cedo, às 5h, e não dorme após o almoço. Fica sentada até as 19 h. "Ela almoça frango, porco, mas não come arroz, só o caldo, com os pedacinhos de carne e pirão", conta a filha. "A janta é papa". Depois, assiste TV e, às 20h vai dormir. Josefa Maria da Conceição nasceu em Brejo de Madre de Deus, interior de Pernambuco. A mãe dela, Maria Rufina de Jesus, na seca de 1915, retirou-se com os filhos para Alagoas em busca de sobrevivência.
Em 1919, a família viajou para Juazeiro do Norte. Foram 31 dias de caminhada entre veredas. Naquele tempo, notícias sobre Padre Cícero já se espalhavam pelo sertão nordestino e muitos seguiam em busca de conhecer o sacerdote milagreiro e líder político. "Só tinha mato e um pequeno povoado", recorda a anciã centenária. Foram anos difíceis. A lida era dura. Cortava e transportava capim e lenha para vender, fazia trança de chapéu de palha, plantava roça e colhia os legumes.
"Quando o trem chegou ao Juazeiro muita gente ficou assustada. Que bicho é aquele? Parece o diabo", comentavam as pessoas. Dona Josefa lembra que Padre Cícero falava muito bem. "O sermão dele era muito bonito". Na seca de 1932, decidiu não se alistar nas frentes de emergência criadas pelo Governo Federal. "Fui para a cidade do Crato, trabalhar como operária, na construção de casas e de calçamento. Era um trabalho duro e trabalhei como homem".
Ela lembra que o bispo do Crato, na época, reclamava contra os romeiros. "Esses cachorros do Padre Cícero vieram para cá, mas vou dar de comer e fornecia farinha de mandioca e um quarto de rapadura preta". Casou em 1936 com um viúvo de 60 anos, e pouco tempo depois ficou viúva, com quatro filhos.
Resolveu então sair do Crato e veio com as crianças para Antonina do Norte, morar na localidade de Tabuleiro, em 1951.
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER
E qual o segredo para uma vida centenária? "Não tem. Deus é quem sabe", responde dona Josefa. A senhora imaginava viver tanto assim? "Nunca pensei. Sou de quatro (1904) e já cheguei aos 108, não é isso?", ri, passa a mão no rosto e fica pensativa. "Estou vivendo". Devota de Padre Cícero e de Nossa Senhora das Dores, disse que sempre confiou em Deus e nos santos para seguir vivendo.
Dona Josefa só foi ao médico uma vez, em 1986. Deixou de fumar, aos 82 anos, por recomendação médica. Não reclama de dores, mas escuta com muita dificuldade. A vista é boa. Sentada numa área com alpendre, onde fica o fogão a lenha, ao lado do terreiro da casa, observa no fim de tarde, um grupo de alunos voltando da escola e comenta: "São os meninos do colégio". Parece estar atenta a tudo.
Rotina diária
Nas duas últimas décadas, mantém uma rotina em casa. Acorda cedo, às 5h, e não dorme após o almoço. Fica sentada até as 19 h. "Ela almoça frango, porco, mas não come arroz, só o caldo, com os pedacinhos de carne e pirão", conta a filha. "A janta é papa". Depois, assiste TV e, às 20h vai dormir. Josefa Maria da Conceição nasceu em Brejo de Madre de Deus, interior de Pernambuco. A mãe dela, Maria Rufina de Jesus, na seca de 1915, retirou-se com os filhos para Alagoas em busca de sobrevivência.
Em 1919, a família viajou para Juazeiro do Norte. Foram 31 dias de caminhada entre veredas. Naquele tempo, notícias sobre Padre Cícero já se espalhavam pelo sertão nordestino e muitos seguiam em busca de conhecer o sacerdote milagreiro e líder político. "Só tinha mato e um pequeno povoado", recorda a anciã centenária. Foram anos difíceis. A lida era dura. Cortava e transportava capim e lenha para vender, fazia trança de chapéu de palha, plantava roça e colhia os legumes.
"Quando o trem chegou ao Juazeiro muita gente ficou assustada. Que bicho é aquele? Parece o diabo", comentavam as pessoas. Dona Josefa lembra que Padre Cícero falava muito bem. "O sermão dele era muito bonito". Na seca de 1932, decidiu não se alistar nas frentes de emergência criadas pelo Governo Federal. "Fui para a cidade do Crato, trabalhar como operária, na construção de casas e de calçamento. Era um trabalho duro e trabalhei como homem".
Ela lembra que o bispo do Crato, na época, reclamava contra os romeiros. "Esses cachorros do Padre Cícero vieram para cá, mas vou dar de comer e fornecia farinha de mandioca e um quarto de rapadura preta". Casou em 1936 com um viúvo de 60 anos, e pouco tempo depois ficou viúva, com quatro filhos.
Resolveu então sair do Crato e veio com as crianças para Antonina do Norte, morar na localidade de Tabuleiro, em 1951.
HONÓRIO BARBOSA
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