Celly Campelo, aos 17 anos, em foto que ilustrou a capa de seu primeiro álbum, de 1959, puxado pelo sucesso de Estúpido Cupido |
Celly Campelo, aos 17 anos, em foto que ilustrou a capa de seu primeiro álbum, de 1959, puxado pelo sucesso de Estúpido Cupido
Pioneira do rock brasileiro, Celly Campelo tem sua discografia relançada. Caixa reúne, em seis CDs, principais álbuns e músicas raras da cantora que estourou com "Estúpido Cupido" e "Banho de Lua", versões de hits estrangeiros
Sucesso nos anos 60, a Jovem Guarda costuma ser vista como o marco inicial da história do rock nacional. Contudo, no fim da década de 50, uma geração já havia introduzido o ritmo entre os jovens brasileiros. Sua estrela mais fulgurante e consistente foi Celly Campelo (1942-2003).
"Ela foi o primeiro exemplo de popstar brasileiro... e também o primeiro ´teen idol´", explica o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes. Autor do livro "Ritmo de Aventura", obra de referência sobre a Jovem Guarda, ele é o proprietário da Discobertas, selo responsável pelas reedições de pérolas perdidas da música brasileira. Seu novo projeto é a reedição dos seis primeiros discos de Celly Campelo, alguns limitados a suas primeiras edições, reunidos na caixa "Estúpido Cupido".
Foram reproduzidas, na íntegra, as canções e as artes dos LPs "Estúpido cupido" (1959), "Broto certinho" (1960), "A bonequinha que canta" (1960), "A graça de Celly e as músicas de Paul Anka" (1961), "Brotinho encantador" (1961) e "Celly" (1968). Minucioso, Fróes ainda incluiu faixas bônus, com raridades gravadas pela cantora no mesmo período. "Esse box era algo que eu queria fazer há pelo menos 5 anos", confessa.
Segundo Marcelo Fróes, Celly Campello foi uma artista singular em sua época. "Em termos mercadológicos, foi o primeiro momento em que o jovem brasileiro sentiu-se compelido a consumir um artista - seus discos, seus produtos, seus shows, suas fotos etc. Ela foi uma febre, e nem precisamos explicar muito: gravou e lançou cinco LPs em menos de três anos", detalha.
Nascida em 1942, Celly começou sua carreira artística cedo, cantando em festas em Taubaté (cidade do interior onde a paulistana foi criada), em rádios locais e, mais tarde, iniciando-se no rock pelas mãos do irmão, o guitarrista Tony Campello. No começo de 1959, aos 17 anos, estourou com a gravação de uma versão de "Stupid Cupid", dos norte-americanos Neil Sedaka e Howard Greenfield. A Odeon gravou com ela um álbum completo. O sucesso de vendas fez da moça uma habitué dos estúdios, gravando ora em português, ora em inglês. Sempre cantando sobre inocentes paixões de uma adolescente recatada.
O álbum registrou seu melhor momento. É uma pérola cheia de bons momentos como "Túnel do amor" e "Who´s sorry now". O maior sucesso de Celly, contudo, só viria no disco seguinte, "Broto certinho". O LP trazia o rock "Banho de Lua" (versão de um hit pop italiano), que Celly regravaria, ainda mais rocker, no disco de 1968.
A Revista do Rock, publicação que capitalizava em cima da nova onda jovem, coroou Celly Campello, em 1961, como a Rainha do Rock do Brasil. O cantor Sergio Murillo era o Rei.
A carreira, no entanto, foi meteórica. Em 1962, Celly aposentou-se espontaneamente. Casou-se com o namorado desde a adolescência, José Eduardo Gomes Chacon. Com ele, teve dois filhos e viveu até morrer em 2003, em decorrência de um câncer. "Em 1968 ela fez um projeto especial (o disco ´Celly´), mas não chegou exatamente a retomar a carreira ali. Depois disso, fez esporadicamente alguns compactos anos 70. Mas, quando a novela ´Estúpido Cupido´ (1976) provocou um revival, ela entrou em estúdio e fez um LP para a RCA. Mas aí é outra história, outra época, outro som, outro conceito", conta Marcelo Fróes.
Ingenuidade
"Celly era a mesma, nas canções e pessoalmente", relembra Carlos Alberto Pavão Neto, que fez sucesso na virada dos anos 50 para os 60 como Albert Pavão. Para ele, suas canções registraram "a ingenuidade de uma época de valores mais rígidos".
Nesse período, o espírito selvagem do rock havia dado uma esfriada. Com Elvis deixando a rebeldia para se alistar no exército, a moda agora era posar de bom moço. Ainda assim, os pioneiros do rock nacional eram vistos com desconfiança. "Quem cantava ou dançava rock and roll era chamado de playboy. No entanto, artistas como Sérgio Murilo eram respeitados porque, além de cantar, estudava em faculdade de Direito. A Celly era uma boa moça que namorava firme e até acabou abandonando a carreira para se casar", revela Albert Pavão
A conquista do BrasilPavão relembra que o rock apareceu por aqui em meados dos anos 50, via rádio e cinema. Os primeiros ídolos eram os norte-americanos Elvis Presley, Little Richard e Bill Halley. "As músicas de rock and roll entraram no Brasil e foram gravadas aqui em inglês e português por intérpretes de música brasileira, como Nora Ney que foi a primeira a gravar ´Rock around the clock´ (de Bill Halley) no Brasil; Agostinho dos Santos gravou ´Até logo, Jacaré´; Cauby Peixoto, ´Rock and roll em Copacabana´; e Lana Bittencourt fez sucesso com ´Little Darling´. Tudo entre 1955 e 1957", conta o cantor, enciclopédia viva dos primórdios do rock no País.
Os primeiros cantores e grupos a se dedicar exclusivamente ao rock só apareceram no Brasil em 1958. "Primeiramente, os irmãos Campello, Tony e Celly, e Carlos Gonzaga, que tinha mais de 30 anos, mas resolveu cantar rocks e baladas e se deu bem. Ele fez muito sucesso com a versão de ´Diana´, em 1958. No ano seguinte, apareceria Sérgio Murilo e, daí por diante, toda a turma", enumera.
BOX
"Estúpido Cupido"Celly Campelo
R$ 109,90
6 CDS
2011
DISCOBERTAS
A caixa inclui "Estúpido cupido" (1959), "Broto certinho" (1960), "A bonequinha que canta" (1960), "A graça de Celly e as músicas de Paul Anka" (1961), "Brotinho encantador" (1961) e "Celly" (1968)
Sucesso nos anos 60, a Jovem Guarda costuma ser vista como o marco inicial da história do rock nacional. Contudo, no fim da década de 50, uma geração já havia introduzido o ritmo entre os jovens brasileiros. Sua estrela mais fulgurante e consistente foi Celly Campelo (1942-2003).
"Ela foi o primeiro exemplo de popstar brasileiro... e também o primeiro ´teen idol´", explica o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes. Autor do livro "Ritmo de Aventura", obra de referência sobre a Jovem Guarda, ele é o proprietário da Discobertas, selo responsável pelas reedições de pérolas perdidas da música brasileira. Seu novo projeto é a reedição dos seis primeiros discos de Celly Campelo, alguns limitados a suas primeiras edições, reunidos na caixa "Estúpido Cupido".
Foram reproduzidas, na íntegra, as canções e as artes dos LPs "Estúpido cupido" (1959), "Broto certinho" (1960), "A bonequinha que canta" (1960), "A graça de Celly e as músicas de Paul Anka" (1961), "Brotinho encantador" (1961) e "Celly" (1968). Minucioso, Fróes ainda incluiu faixas bônus, com raridades gravadas pela cantora no mesmo período. "Esse box era algo que eu queria fazer há pelo menos 5 anos", confessa.
Segundo Marcelo Fróes, Celly Campello foi uma artista singular em sua época. "Em termos mercadológicos, foi o primeiro momento em que o jovem brasileiro sentiu-se compelido a consumir um artista - seus discos, seus produtos, seus shows, suas fotos etc. Ela foi uma febre, e nem precisamos explicar muito: gravou e lançou cinco LPs em menos de três anos", detalha.
Nascida em 1942, Celly começou sua carreira artística cedo, cantando em festas em Taubaté (cidade do interior onde a paulistana foi criada), em rádios locais e, mais tarde, iniciando-se no rock pelas mãos do irmão, o guitarrista Tony Campello. No começo de 1959, aos 17 anos, estourou com a gravação de uma versão de "Stupid Cupid", dos norte-americanos Neil Sedaka e Howard Greenfield. A Odeon gravou com ela um álbum completo. O sucesso de vendas fez da moça uma habitué dos estúdios, gravando ora em português, ora em inglês. Sempre cantando sobre inocentes paixões de uma adolescente recatada.
O álbum registrou seu melhor momento. É uma pérola cheia de bons momentos como "Túnel do amor" e "Who´s sorry now". O maior sucesso de Celly, contudo, só viria no disco seguinte, "Broto certinho". O LP trazia o rock "Banho de Lua" (versão de um hit pop italiano), que Celly regravaria, ainda mais rocker, no disco de 1968.
A Revista do Rock, publicação que capitalizava em cima da nova onda jovem, coroou Celly Campello, em 1961, como a Rainha do Rock do Brasil. O cantor Sergio Murillo era o Rei.
A carreira, no entanto, foi meteórica. Em 1962, Celly aposentou-se espontaneamente. Casou-se com o namorado desde a adolescência, José Eduardo Gomes Chacon. Com ele, teve dois filhos e viveu até morrer em 2003, em decorrência de um câncer. "Em 1968 ela fez um projeto especial (o disco ´Celly´), mas não chegou exatamente a retomar a carreira ali. Depois disso, fez esporadicamente alguns compactos anos 70. Mas, quando a novela ´Estúpido Cupido´ (1976) provocou um revival, ela entrou em estúdio e fez um LP para a RCA. Mas aí é outra história, outra época, outro som, outro conceito", conta Marcelo Fróes.
Ingenuidade
"Celly era a mesma, nas canções e pessoalmente", relembra Carlos Alberto Pavão Neto, que fez sucesso na virada dos anos 50 para os 60 como Albert Pavão. Para ele, suas canções registraram "a ingenuidade de uma época de valores mais rígidos".
Nesse período, o espírito selvagem do rock havia dado uma esfriada. Com Elvis deixando a rebeldia para se alistar no exército, a moda agora era posar de bom moço. Ainda assim, os pioneiros do rock nacional eram vistos com desconfiança. "Quem cantava ou dançava rock and roll era chamado de playboy. No entanto, artistas como Sérgio Murilo eram respeitados porque, além de cantar, estudava em faculdade de Direito. A Celly era uma boa moça que namorava firme e até acabou abandonando a carreira para se casar", revela Albert Pavão
A conquista do BrasilPavão relembra que o rock apareceu por aqui em meados dos anos 50, via rádio e cinema. Os primeiros ídolos eram os norte-americanos Elvis Presley, Little Richard e Bill Halley. "As músicas de rock and roll entraram no Brasil e foram gravadas aqui em inglês e português por intérpretes de música brasileira, como Nora Ney que foi a primeira a gravar ´Rock around the clock´ (de Bill Halley) no Brasil; Agostinho dos Santos gravou ´Até logo, Jacaré´; Cauby Peixoto, ´Rock and roll em Copacabana´; e Lana Bittencourt fez sucesso com ´Little Darling´. Tudo entre 1955 e 1957", conta o cantor, enciclopédia viva dos primórdios do rock no País.
Os primeiros cantores e grupos a se dedicar exclusivamente ao rock só apareceram no Brasil em 1958. "Primeiramente, os irmãos Campello, Tony e Celly, e Carlos Gonzaga, que tinha mais de 30 anos, mas resolveu cantar rocks e baladas e se deu bem. Ele fez muito sucesso com a versão de ´Diana´, em 1958. No ano seguinte, apareceria Sérgio Murilo e, daí por diante, toda a turma", enumera.
BOX
"Estúpido Cupido"Celly Campelo
R$ 109,90
6 CDS
2011
DISCOBERTAS
A caixa inclui "Estúpido cupido" (1959), "Broto certinho" (1960), "A bonequinha que canta" (1960), "A graça de Celly e as músicas de Paul Anka" (1961), "Brotinho encantador" (1961) e "Celly" (1968)
DELLANO RIOSEDITOR
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