sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Todo porte e calibre por aí


Nenhuma arma é mais apreendida pelos policiais cearenses do que o revólver calibre 38. Depoimentos de delegados, especialistas, oficiais miltares e os próprios números apontam que é a arma que mais mata, a que mais circula ilegalmente, a que mais é flagrada na cintura dos criminosos.  
No quantitativo de material apreendido entre 1º de janeiro e 22 de dezembro do ano passado, informado ao O POVO pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), foram 1.548 unidades recolhidas. É mais do triplo das calibre 32 retiradas das ruas (482 unidades). É outra das mais comuns.A lista de armas apreendidas no Ceará, na verdade, tem de tudo. São pelo menos 35 variações de modelos, todo porte e calibre. De meter medo. Estão por aí, a serem usadas numa próxima ação criminosa. Na edição de ontem, na matéria “Por que tanta arma nas ruas?” (Fortaleza, pág 4), que abriu esta série, a pergunta ecoou em vários comentários nas outras mídias do Grupo de Comunicação O POVO. Deu debate.
Os fuzis 223 e 556, que têm calibres similares, com a munição ajustada podem atravessar o bloco de ferro de um motor de carro. Ou estouram fácil a blindagem de um carro-forte. Os fuzis 762 e 308, equiparados entre si em poderio de fogo, são de guerra e “são terríveis”, na descrição do diretor da Federação Cearense de Tiro Esportivo, Francisco Xavier, também tenente do Exército. E pelo menos seis fuzis apareceram nas contagens de apreensões em 2010.
São armas que, pela lei, só poderiam estar nas mãos de agentes públicos, como policiais e gente das Forças Armadas, segundo o capitão Abraão dos Santos Costa, da Seção de Fiscalização de Produtos Controlados da 10ª Região Militar. Previsível, diz que essas armas “vêm por contrabando, há muito armamento vindo de outros países”. O setor controla a comercialização e registro de armas, munições, até coletes à prova de balas e também produtos químicos.

Há alguns anos, dois grandes extravios de armamento pesado chamaram atenção no noticiário local. Em 2000, furtaram um fuzil FAL, levado do Hospital do Exército (avenida Desembargador Moreira). E em 2006, sumiram 12 fuzis mosquefal, antigos, tirados a poucos metros da sala do Comandante Geral da PM. Desses, um reapareceu.

O ex-secretário da Segurança, Roberto Monteiro, analisa que “a perda de armas de policiais em assaltos, furtos, armas tomadas, acontece com alguma frequência, mas não que chame atenção” ou como extravio regular. Cerca de dois meses antes de deixar o cargo, Monteiro descobriu que vários policiais aposentados não devolviam armas acauteladas antigas (guarda provisória). Determinou a checagem da situação e devolução. “Foi arma cedida, não é doada”. Dia 13 último, um sargento da reserva foi preso em Solonópole (CE). Tinha duas escopetas calibre 12, duas pistolas 380 e ponto 40 e dois revólveres 38. Foi autuado para se explicar do porquê de tantas armas.

E agora

ENTENDA A NOTÍCIA
Autoridades locais da Segurança Pública precisam explicar como e por que tantas armas circulam, mesmo após apreensões cada vez maiores. Falar que é contrabando é a resposta mais cômoda. Temos barreiras e respostas?


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