segunda-feira, 30 de abril de 2018

O artista, cantor e compositor cearense Belchior morria há um ano.

por Felipe Gurgel - Diário do Nordeste
No dia 30 de abril do ano passado, o compositor cearense Antonio Carlos Belchior morria, aos 70 anos de idade, em sua casa em Santa Cruz do Sul (RS). O corpo foi transferido para o Ceará, com auxílio do Governo do Estado. Uma comoção tomou conta dos fãs, da imprensa e do público local durante o processo de velório e sepultamento.

O artista foi velado, a princípio, em Sobral (CE), sua terra natal. Na sequência, o rito continuou no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza. E o sepultamento ocorreu, por fim, também na Capital, no cemitério do Parque da Paz.

Todo o processo foi acompanhado de perto pela imprensa local, mesmo diante dos limites físicos impostos pela família do músico. Autor do álbum "Alucinação" (1976, um clássico da MPB), Belchior teve, depois de partir, sua obra (intensamente) revista.

Expressões póstumas de reconhecimento incluem lançamento de livros, como a biografia do jornalista cultural Jotabê Medeiros/SP (lançada quatro meses depois do falecimento, pela editora Todavia); a abertura de um centro cultural (pela Prefeitura de Fortaleza, na Praia de Iracema); uma antologia e uma caixa de discos (o box "Tudo outra vez", organizado pelo jornalista mineiro Renato Vieira, reunindo seis discos editados pela Warner Music). Além de uma infinidade de shows-tributo, dentre outras iniciativas em torno da obra do poeta sobralense.

Dentre os shows-tributos, um dos que ganharam fôlego (e foi apresentado ainda antes da morte de Belchior) é o espetáculo "Canto Torto", criado pela banda sobralense Trovador Eletrônico. O grupo se apresenta nesta segunda (30), às 19h, ao lado da Orquestra Eleazar de Carvalho. Eles interpretarão a obra do compositor em um novo show, batizado como "Para Bel com Amor", em frente ao Theatro São João, de Sobral. O acesso é gratuito.

O jornalista Nelson Augusto, pesquisador da obra do Pessoal do Ceará, vai veicular, durante todo o dia de hoje, o repertório de dois CDs que saíram em tributo a Belchior pouco antes da morte do poeta.

Através da webrádio Nelsons (radio.Nelsons.Com.Br), Nelson apresenta o disco "Ainda Somos os Mesmos". Lançado em 2014 pelo site de cultura pop Scream and Yell (screamyell.Com.Br), o álbum reúne artistas independentes como Nevilton/PR, Bruno Souto/PE e The Baggios/SE).

O radialista também apresentará o álbum "Belchior Blues" (2012). Dentre 57 blueseiros do Brasil que gravaram o tributo, estão os cearenses da Blues Label, Felipe Cazaux e o guitarrista Artur Menezes (hoje radicado nos Estados Unidos).

Vida

Nelson Augusto percebe que a obra de Belchior já era reconhecida em vida. Embora no espaço de um ano a quantidade de tributos tenha crescido, o jornalista enfatiza que o cearense já era um "verbete" necessário para a compreensão da MPB, antes de morrer.

"Dentro dessa perspectiva da música que se faz para as novas gerações, aos formadores de opinião política, ele é como um Jackson do Pandeiro, um Luiz Gonzaga. Cada um com a sua proposta. Qualquer livro que seja escrito sobre a história do MPB, tem de incluir o Belchior como um verbete", observa Nelson.

Atemporalidade

Apesar de situar um perfil de público com o qual a obra de Belchior teria mais apelo, Nelson Augusto anota que o poeta deixou um cancioneiro "atemporal". O radialista frisa que o resgate das canções já acontecia antes do falecimento, quando o cearense "sumiu" e passou a se tornar uma incógnita para a própria família.

"Ele era um filósofo, porta voz de uma geração, e tinha anseio por liberdade. Já falava das minorias desde a década de 70, com o primeiro disco ('A Palo Seco', 1974). Com o 'Alucinação', que pra mim é o melhor disco dele, ele extrapolou toda a contestação", avalia Nelson. O jornalista destaca, ainda, como Belchior questionava o Estado por metáforas, através de seu texto.

Morte

Sobre os materiais lançados após a morte de Belchior, Nelson Augusto observa que o trato com a obra do poeta envolve diversas intenções. "Acho louvável, porque muita coisa estava obscura. Mas vejo também que, quando a pessoa morre, é que algumas pessoas vão atrás. Muita gente que nem cantava, passa a cantar. E alguns artistas pegam o seu quinhão também, com o que ele deixou", percebe.

Livros

Após o lançamento da biografia assinada por Jotabê Medeiros, outros livros a cerca da vida e obra de Belchior têm sido feitos. Nelson Augusto lembra da iniciativa de Angela Belchior, irmã do compositor, que escreve ao lado de Estevão Zizi. A família teria ficado insatisfeita com a versão de Jotabê, e tem providenciado uma alternativa para contar a história do poeta.

Nelson Augusto, que conversou com Jotabê Medeiros em depoimento para o livro do jornalista de São Paulo, avalia que em cada biografia sempre "vai faltar alguma coisa". "Quanto mais gente escrever, melhor. Claro que vai haver visões mais amenas, e umas que não misturam vida e obra. Mas acho importante que venha à tona toda essa intenção de escrever sobre a obra dele", coloca.

Ainda sobre Jotabê, ele destaca que "é interessante porque ele é jornalista cultural, tem uma estrada nessa área, e também tem identificação com a obra do Belchior", valida Nelson.

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