Do maior açude do Estado do Ceará, a água socorre, por meio do Rio Jaguaribe, as cidades ribeirinhas abaixo. Já pelo Eixão das Águas (bombeamento), atende à demanda da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) ( Foto: Kid Júnior ) |
por Honório Barbosa - Diário do Nordeste
Após reunião entre o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, e o diretor geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Ângelo Guerra, ontem, houve entendimento para ampliar a liberação de água do Açude Castanhão para atender demanda de consumo de seis cidades do Vale do Baixo Jaguaribe, que corriam risco de entrar em colapso.
A situação mais grave é enfrentada pela cidade de Quixeré e pelo distrito de Lagoinha, que já ficam no fim do trecho de 100Km de extensão a partir do Castanhão, no leito do Rio Jaguaribe. A água é barrada pelo Açude Sucurujuba, ponto de captação para o sistema de abastecimento. Outros centros urbanos atendidos são Limoeiro do Norte, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Russas e a própria Jaguaribara, no entorno do reservatório.
A SRH e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (SRH) consideravam urgente a liberação de mais água. Na terça-feira passada (14), a Cogerh enviou uma nota técnica solicitando ao Dnocs ampliar a vazão de 4,6m³ para 5,2m³ para o Rio Jaguaribe. O coordenador do reservatório, administrado pelo Dnocs, Fernando Pimentel, considerou estranha a solicitação e decidiu por não ampliar a vazão. "Só vou ampliar a vazão se vier ordem da direção", frisou. A direção do Dnocs exigia uma justificativa técnica da Cogerh.
Na manhã desta quinta-feira o titular da SRH apresentou a justificativa técnica e os dois órgãos entraram em entendimento. Segundo o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias, a ampliação da vazão já começou na tarde de ontem. "Houve um entendimento e tudo ficou esclarecido, pois não estamos liberando mais do que foi acordado na reunião de alocação dos comitês de bacia, em junho passado, na cidade de Iguatu. Não usamos toda a água autorizada, havia um saldo, e agora precisamos com urgência dessa água", explicou.
João Lúcio esclareceu que a Cogerh faz um esforço para utilizar menor quantidade de água do que foi autorizado. "A gente sempre tenta deixar um saldo para um momento de maior dificuldade ou para usar no período seguinte. A situação agora é de necessidade urgente porque havia o risco de colapso no abastecimento de várias cidades do Baixo Jaguaribe", frisou.
Para João Lúcio Farias, houve um mal entendido por parte do operador local do Dnocs e água liberada não se destina a Fortaleza, mas ao Baixo Jaguaribe. A operação segue até o fim deste ano, quando deverá ocorrer reunião com a comissão de usuários para reavaliar a situação.
O Castanhão libera ainda 2,85 m³/s pelo Eixão das Águas (por bombeamento) para atender a demanda de outras cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). "A prioridade do uso da água é para o consumo humano", pontuou João Lúcio Farias. "Vamos intensificar a fiscalização ao longo do trecho do rio, com apoio da Polícia Ambiental, da SRH e já ampliamos o número de fiscais, lacramos e retiramos bombas irregulares. O produtor, quando vê uma água passando, quer usar, produzir". João Lúcio observou.
Nos últimos meses, a Cogerh passou a usar máquinas (retroescavadeiras e pá mecânicas) para desobstruir barreiras artificiais feitas por produtores rurais e corrigir o leito, com o objetivo de facilitar o escoamento da água até o açude Sucurujuba, em Quixeré. "Já usamos drone para estudar melhor os pontos de captação, os obstáculos na calha do Jaguaribe", disse João Lúcio.
O presidente do Sub-Comitê de Bacia do Baixo Jaguaribe, Aridiano Belk de Oliveira, reforçou o argumento da Cogerh sobre a necessidade de ampliar a vazão na válvula dispersora do Castanhão. "Na verdade, não é mais água porque na reunião de alocação decidida pelos comitês em Iguatu ficou autorizado o uso médio de 4,5m³ e só foram utilizados 4,3m³. Havia um saldo na operação", disse.
Aridiano Belk disse que os moradores das cidades do Baixo Jaguaribe precisam com urgência do recurso hídrico. "A situação vem se agravando e essa água é muito necessária", frisou. Além do consumo humano, ainda se utiliza água para a produção nos perímetros irrigados Tabuleiro de Russas e Jaguaribe Apodi. "Houve uma redução de mais de 70% de água para irrigação em relação ao consumo de 2014. De forma precária, estamos tentando manter uma produção de culturas perenes", explicou. Graças ao uso de tecnologia, irrigação localizada por microaspersão e gotejamento ainda há produção de fruteiras nos perímetros (uva, banana, goiaba).
A água está ficando escassa no Vale do Jaguaribe. No alto, os usuários reclamam da falta de medidas compensatórias. "Os produtores ficaram sem condições de trabalhar porque a água foi liberada para o Castanhão", questionou Paulo Landim, integrante do Comitê da Sub-Bacia do Alto Jaguaribe. "Até poços profundos não foram ainda instalados e as comunidades sofrem com a falta de água".
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