Cumprindo a promessa de punição aos deputados da base que votaram contra a reforma trabalhista na Câmara dos Deputados, o presidente Michel Temer (PMDB) iniciou série de exonerações de apadrinhados dos políticos considerados traidores.
As demissões de pelo menos cinco indicados a cargos foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU) de ontem, uma delas no Ceará.
Integrantes do Governo afirmam, porém, que o número de exonerações é maior que 30 e que a maioria já aconteceu, mas ainda não foi publicada no DOU. A estimativa de Temer é de que houve cerca de 70 traições, mas o número de punidos não deve chegar à metade.
Isso porque o objetivo é mirar nos votos tidos como “irrecuperáveis”, daqueles deputados que também não irão votar a favor da reforma da Previdência, e servir de exemplo aos partidos que registraram grande número de infiéis.
A medida serve ainda como forma de pressionar indecisos sobre as mudanças na Previdência, cuja votação na comissão da Câmara deve acontecer já nesta semana. Temer deve reunir-se pessoalmente com as bancadas menores para conseguir mais votos favoráveis.
Ceará
Foram três os deputados federais cearenses da base que votaram contra a reforma trabalhista: Cabo Sabino (PR), Ronaldo Martins (PRB) e Vitor Valim (PMDB). Com posição contrária às duas reformas, os parlamentares se enquadram na categoria de “votos irrecuperáveis”.
Até ontem, somente Valim teria tido um apadrinhado demitido, o superintendente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) do Ceará, Maximiano Leite Barbosa. O deputado, porém, negou a indicação.
“Até tenho grande admiração e amizade com ele, mas não fui eu que indiquei”, afirmou. A reportagem tentou contato com a Funasa, que não atendeu as ligações. Maximiano não foi localizado.
Valim admitiu pressão do partido para mudar o voto, mas nega ter traído o Governo. “Em dezembro de 2016, eu já me manifestei contra a reforma da Previdência e do trabalho, não foi surpresa para o partido meu voto”, disse. “Não considero traição votar a favor do trabalhador”, continuou o deputado.
A posição é a mesma de Sabino. “O Governo Temer sabe que eu venho da luta sindical, eu não poderia votar contra a minha gente”, respondeu ao O POVO. (com agências)
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Os alvos das demissões são Deley (PTB-RJ), Ronaldo Fonseca (Pros-DF), Expedito Neto (PSD-RO), Dr. Sinval Malheiros (PTN-SP) e Vitor Valim (PMDB), que votaram “não” à proposta de reforma à Consolidação de Leis do Trabalho (CLT) na votação no último dia 26.
Perderam os cargos o diretor de Finanças e Administração das Indústrias Nucleares do Brasil S.A., Marcelo Xavier de Castro, indicado por Deley; o diretor-geral do Arquivo Nacional do Ministério da Justiça, José Ricardo Marques, indicado por Ronaldo; o delegado da Delegacia Federal de Desenvolvimento Agrário de Rondônia, Luiz Fernando Martins, indicado por Expedito Neto, além de dois superintendentes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), um de São Paulo, Daniel Kenji Tokuzumi, indicado por Sinval, e Maximiano Leite Barbosa Chaves, no Ceará, que teria sido indicado por Valim.
As exonerações de indicados por deputados "infiéis" nos estados começaram a ser acertadas na última quinta-feira, 27, em reunião no Palácio do Planalto entre líderes da base aliada e o presidente Michel Temer. O governo avaliou que precisava dar o exemplo com os cortes de cargos, para impedir que novas traições prejudiquem a votação da reforma da Previdência, prevista para este mês.
LETÍCIA ALVES
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