O Ceará vive um panorama de alerta ocasionado pela iminência de uma epidemia da febre chikungunya. Segundo dados do boletim epidemiológico da semana 10 do Ministério da Saúde, com dados coletados até 13 de março 2017, o Ceará é o Estado de maior índice de casos prováveis do vírus com 4.735 registros. O cenário se torna ainda mais alarmante ao comparar este número ao de 2016, quando foram registrados 912 casos durante todo o ano. Já por extrato populacional, os municípios cearenses de Aracoiaba, Baturité, Caucaia e Fortaleza, capital com o maior número de casos no país em 2017, então entre os mais acometidos pelo vírus no cenário nacional.
Os números apresentados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Online (Sinan Online), por meio do Ministério da Saúde, apesar de diferentes, corroboram com os últimos boletins divulgados pela Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa) sobre o aumento de casos de chikungunya no Estado. Na semana 12 deste ano, até 25 de março de 2017, o órgão registrou 8.667 casos de chikungunya. Destes, 21,5% (1.867/8.667) foram confirmados e 12,7% (1.106/8.667) descartados. Os casos confirmados concentraram-se nas faixas etárias de 20 e 59 anos e foi predominante no sexo feminino. Em 2016 foram 37 mortes ocasionadas pela chikungunya e um registro de óbito em 2017 relacionado ao vírus.
Já o boletim semanal de doenças compulsórias (PNS), da Sesa, referente a semana 13, registrou 2.677 casos confirmados de chikungunya. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Sesa afirma que os números ainda não caracterizam uma epidemia de chikungunya e que estão sendo tomadas as devidas ações para o combate ao vetor. "A Sesa tem monitorado os municípios com maiores índices de infestação pelo mosquito Aedes aegypti e de incidência de casos de arboviroses no Ceará. O cenário de cada um deles está sendo avaliado e, a depender do caso, pode contar com medidas como visita técnica da equipe da Sesa e monitoramento do plano de ação para o combate ao mosquito", destaca a nota.
O texto afirma ainda que, entre as ações que cabem aos municípios, de acordo com o Plano Estadual de Vigilância e Controle das Arboviroses 2017/2018, está a inclusão de casos suspeitos de arboviroses como dengue, zika e chikungunya no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). "Já o assessoramento técnico de vigilância epidemiológica das Coordenadorias Regionais de Saúde (Cres) e municípios e o monitoramento dos dados do Sinan estão entre as atribuições que devem ser realizadas pelo Estado, segundo o Plano de Arboviroses".
Para Luciano Pamplona, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), é necessário uma atenção diferenciada por parte do poder público e da sociedade na luta contra a proliferação do vírus e o mosquito Aedes aegypti. "É o momento de reorganizar a assistência nas Upas e Unidades básicas, e tratar de forma supervisionada, dando ênfase a triagem. O período chuvoso, no nosso verão, torna a proliferação do mosquito ainda mais intensa. No caso da chikugunya, o vírus tem uma taxa de ataque alarmante. Enquanto a taxa de ataque da dengue é de 4 a cada 10 picadas, a chikungunya tem uma taxa de 7 a cada 10 casos. A tendência é que entre abril e maio, aumente ainda mais o número de registros do vírus", destaca médico, que é pesquisador no controle do mosquito do Aedes aegypti.
Fumacê
O fumacê, nome popular para a Pulverização espacial UBV, é um procedimento que consiste na liberação via aérea de gases, que agem por contato, atingindo os mosquitos adultos em voo. Ou seja, a ação do produto só é efetiva quando o inseticida está em suspensão no ar e só mata o mosquito adulto. A recomendação aos moradores é que abram portas e janelas das casas na passagem do fumacê para que o inseticida atinja o mosquito dentro das residências.
O procedimento não diminui a necessidade da eliminação dos potenciais focos do vetor. Por isso, os órgãos públicos de saúde indicam que as famílias devem também fazer sua parte no combate ao Aedes aegypti. Cerca de 90% dos focos do mosquito que transmite a dengue, zika e chikungunya são encontrados dentro de casa. O fumacê não mata as larvas do Aedes aegypti, que estão em caixas d'água, potes, baldes, pneus, lajes.
Manter os quintais sempre limpos, recolher, eliminar ou guardar longe da chuva todo objeto que possa acumular água, como pneus velhos, latas, recipientes plásticos, tampas de garrafas, copos descartáveis e até cascas de ovos, também são orientações repassadas pelo Estado. O lixo doméstico deve ser acondicionado em sacos plásticos e descartado adequadamente, em depósitos fechados.
A eliminação de criadouros deve ser realizada pelo menos uma vez por semana. Assim, o ciclo de vida do mosquito será interrompido.
De acordo com o assessor técnico da vigilância ambiental da Prefeitura de Fortaleza, Carlos Alberto, a Capital segue as diretrizes nacionais de combate a dengue, e as demais arboviroses ocasionadas pelo vetor como chikungunya e zika. Atualmente a capital cearense conta com cerca de 700 agentes que fazem visitas domiciliares bimestralmente. Só neste ano, foram mais de 500 mil visitas em residências e 12 mil focos eliminados, além de 5 mil denúncias.
Ações
"Trabalhamos em quatro eixos: controle vetorial, controle químico, visita em imóveis abandonados, além da mobilização da sociedade. As altas temperaturas elevadas e grande intensidade de chuvas favorece a longevidade dos mosquitos, que podem chegar à fase adulta em até 7 dias. Além disso, o índice de sobrevivência do mosquito também aumenta para cerca de 40 dias. E quanto mais velho o mosquito, maior o seu potencial transmissor. Conjunto Palmeiras, Jangurussu, Mondubim, Joaquim Távora e São João do Tauape são os bairros que necessitam de maior atenção. Intensificaremos nossas ações em mais 25 bairros", disse o assessor.
Saiba mais
A expressão "casos prováveis" foi utilizada para incluir todos os casos notificados, exceto os que já foram descartados. Os casos são descartados quando possuem coleta de amostra oportuna com diagnóstico laboratorial negativo ou quando são diagnosticados para outras doenças.
Os casos de dengue grave, dengue com sinais de alarme e óbitos por dengue, chikungunya e zika informados incluem somente os casos ou óbitos confirmados por critério laboratorial ou por critério clínico-epidemiológico.
por Patrício Lima
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