Uma análise do genoma de mais de 3.000 habitantes do atual Reino Unido indica que a seleção natural continuou a afetar a espécie humana nos últimos milênios, favorecendo a reprodução de homens mais altos, mulheres com quadris mais largos e gente com cabelos louros e olhos azuis, entre outras características.
A pesquisa, que está saindo na revista especializada americana “Science”, dá novo fôlego à ideia de que a evolução humana não ficou parada em tempos relativamente recentes, mas tem respondido de maneiras variadas a pressões ambientais e transformações culturais nos diferentes lugares do mundo.
Uma das maneiras de identificar essas “assinaturas” de evolução relativamente recente é obter DNA a partir dos ossos de pessoas mortas há milhares de anos e comparar esse material genético com o de seres humanos vivos hoje. Se houver diferenças significativas, e se essas diferenças estiverem ligadas a funções específicas do organismo, é possível propor que elas foram motivadas pela seleção natural: os ancestrais das pessoas com o DNA “moderno” teriam conseguido sobreviver e se reproduzir com mais eficiência do que os portadores das variantes genéticas mais antigas.
O problema é que nem sempre é muito prático seguir o esquema descrito no parágrafo acima. Extrair DNA de ossos antigos é trabalhoso, ineficiente e nem sempre dá certo; além disso, só uma pequena proporção dos esqueletos das pessoas mortas há séculos ou milênios chegaram até nós.
Há diversos métodos para contornar essas dificuldades. No novo estudo, coordenado por Yair Field e Jonathan Pritchard, da Universidade Stanford, os cientistas usaram uma abordagem que se baseia na presença de trocas de uma única “letra” química de DNA, os chamados SNPs (pronuncia-se “snips”).
A ideia é que a região de DNA em torno de um SNP favorecido pela seleção natural fica relativamente uniforme em muitos membros da população, porque uma quantidade grande de pessoas herda aquele trecho do genoma graças à vantagem reprodutiva que ele confere (ou seja, os donos desse pedaço de DNA deixam mais descendentes que as demais pessoas).
Com esse método, os pesquisadores descobriram pistas de que a seleção natural, nos últimos 2.000 anos, favoreceu portadores de variantes genéticas ligadas à presença de olhos azuis e cabelos louros entre os ancestrais dos britânicos. O mesmo vale para uma forma de um gene que permite a digestão da lactose, o açúcar do leite, após a infância -em populações mais antigas da Europa, esse gene não era comum porque não havia surgido ainda a pecuária leiteira.
Os últimos casos se referem a genes individuais, mas também há características afetadas pela seleção natural que dependem da ação conjunta e sutil de um grande número de genes. É o caso da altura, da largura do quadril e do tamanho dos bebês ao nascerem -todas essas características foram se intensificando em épocas relativamente recentes, indica o estudo.
Fonte: Folhapress
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