
Há um mês, a vendedora autônoma Elizabeth Conceição Rios, moradora do Conjunto Ceará, em Fortaleza, retornou para casa. Foram 53 dias internada após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que deixou sequelas. Ela não fala, não anda e tem dificuldades para engolir. O Comitê de Atenção ao AVC da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) estima que apenas 30% dos pacientes que sobrevivem a um AVC voltam às atividades normais. Em 2015, em média, as unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) registraram 19 internações por dia de AVC no Ceará.
A doença cerebrovascular ocorre quando há entupimento ou rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro provocando paralisia da área cerebral por ficar sem circulação sanguínea adequada. No ano passado, gerou 7.249 internações no Estado. Em 2014, foram 6.986 registros, ou seja, 3,7% de internações a menos que em 2015.
O neurologista e presidente do Comitê de Atenção ao AVC da Sesa, João José Carvalho, explica que o registro é feito com base nas internações. Mas estima que, "considerando a abrangência do SUS e os casos de pacientes com sintomas mais leves, que não se internam, são cerca de 12.000 novos casos de AVC a cada ano no Ceará".
Com uma média de 4.400 mortes, por ano, nos últimos cinco anos, o AVC tem sido a doença que mais mata cearenses, conforme o médico. Apesar disto, o neurologista diz que "a proporção de mortes por AVC vem diminuindo consistentemente nos últimos anos". Entre 2009 e 2013, houve uma redução de 14,5% na mortalidade proporcional por AVC no Estado.
Desde 2014, o Ceará caracteriza a doença como uma ocorrência de notificação compulsória. É o único Estado, segundo o neurologista, a adotar a medida. "Com o Registro Estadual do AVC iniciamos a prospecção dos casos, o que permitirá definir políticas mais eficazes", afirma.
O neurologista chama atenção para o fato de o AVC continuar sendo a doença que mais mata e incapacita cearenses. Segundo ele, "nos países desenvolvidos, o AVC já é a terceira e, em alguns, a quinta doença que mais mata as pessoas". A ocorrência da doença cerebrovascular, explica o médico, em 90% dos casos está associada a fatores de risco, como hipertensão, fumo, obesidade, dieta inadequada, sedentarismo, colesterol elevado, diabetes, uso abusivo de álcool, estresse psicossocial e arritmias cardíacas.
No Estado, dados do Comitê apontam que cerca de 37% dos AVCs são recorrentes. Conforme o médico "este número é praticamente o dobro de outros países". Isto, avalia ele, "aponta que ainda estamos fazendo uma prevenção secundária muito ruim, ou seja, mesmo tendo um AVC, o paciente continua a não cuidar de seus fatores de risco e termina tendo outro". Dos casos registrados no Ceará, 80% são do tipo isquêmicos - quando uma artéria cerebral é entupida por um coágulo - e 20% hemorrágicos - quando há o rompimento de uma artéria cerebral.
Sinais
No caso de Elizabeth, a internação durou mais de 50 dias, sendo 20 deles em coma, conforme conta a enfermeira Rogéria Aragão Uchôa, cunhada da paciente. Elizabeth, que manifestou como sinais tontura e forte dor de cabeça, foi internada no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que junto ao Hospital Regional do Cariri, possui Unidade de AVC. "Estamos desenhando a rede integrada de cuidado ao AVC, que deve abranger todos os municípios", relata o médico.
Conforme o Comitê, Fortaleza responde por 49% das internações por AVC no SUS. Por ano, cerca de 1.900 pacientes chegam à Emergência do HGF com AVC agudo e, aproximadamente, 800 são internados na Unidade de AVC. Os demais são diagnosticados e encaminhados para os hospitais de apoio, diz o médico, "já com o plano terapêutico". Sequelas motoras são as mais comuns, mas os déficits sensitivos e da fala são frequentes e com muita limitação funcional.
por ThatianyNascimento - Repórter
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