Romero Jucá protocolou ação junto ao Ministério Público para que o órgão indique se houve irregularidade ou crime na conversa ( Foto: AG. ESTADO ) |
Brasília. O presidente interino Michel Temer foi surpreendido, ontem, pela primeira crise política de seu governo. Há pouco mais de uma semana no comando do Palácio do Planalto, o peemedebista teve a primeira baixa no ministério, com o afastamento de Romero Jucá do Planejamento, após a divulgação de áudio em que o ministro sugeria um "pacto" para tentar barrar a Operação Lava-Jato.
O jornal "Folha de S.Paulo" divulgou, ontem, diálogos entre Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, gravados, de forma oculta, semanas antes da votação na Câmara dos Deputados que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As conversas somam 1h15min e estão em poder da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Surpreendido pela repercussão do noticiário e pelas críticas de aliados de Dilma, Romero Jucá anunciou que, a partir de hoje, se licenciará do cargo até que o Ministério Público (MP) se pronuncie sobre a gravação. Ele deve ser exonerado do cargo hoje. Embora tenha anunciado "licença", Jucá afirmou que "tecnicamente" pediria exoneração porque voltará a exercer o mandato de senador. No lugar do peemedebista, entrará Dyogo Henrique de Oliveira, hoje secretário-executivo do Planejamento.
Estancar sangria
Nos diálogos divulgados, Jucá sugere a Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Lava-Jato. O ministro foi um dos principais articuladores do impeachment de Dilma. Embora tenha afirmado que falava da situação da economia e que a conversa foi divulgada fora de contexto, a transcrição do diálogo revela que ele não mencionou aspectos econômicos.
Em dois áudios, Jucá e Machado conversam, antes da votação do processo de impeachment, sobre a Lava-Jato. Em uma das gravações, o ex-presidente da Transpetro comenta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar prisões após a decisão em segunda instância. A mudança de entendimento do STF ocorreu em 17 de fevereiro.
Na conversa, Machado teme que aumente o número de delações: "vai todo mundo delatar". Depois, diz que é preciso "montar uma estrutura para evitar que eu desça", para evitar que seu caso fosse encaminhado para a Justiça Federal de Curitiba, onde atua o juiz Sérgio Moro.
Sérgio Machado também expõe preocupação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot: "Ele está visando o Renan e vocês. E acha que eu sou o canal". Na sequência, Romero Jucá responde: "Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. (...)Tem que ser política, advogado não encontra (trecho inaudível). Se é político, como é a política? Tem que resolver essa p... Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria".
Desgaste
A decisão de pedir licença do cargo foi tomada após reunião com Michel Temer no Palácio do Jaburu, na qual os dois avaliaram que a situação havia se tornado insustentável e que o afastamento do ministro seria a melhor forma de evitar o aumento do desgaste. Em uma entrevista coletiva conturbada, Jucá voltou a negar que tenha cometido crime no diálogo que teve o ex-presidente da Transpetro.
"A sangria é de um modo geral, sobre a questão política, econômica, social. O governo estava sangrando, o País estava sangrando", disse.
Enquanto Jucá falava, um grupo de servidores e deputados gritava "golpista" e "ladrão", o que o obrigou a falar em voz alta. O ministro chamou os manifestantes de "babacas".
Em nota, o presidente interino elogiou Romero Jucá e ressaltou que ele ficará afastado do cargo até que seja esclarecido o conteúdo da gravação. Segundo Temer, Jucá voltará ao Senado para auxiliar o governo "de forma decisiva, com sua imensa capacidade política". O peemedebista disse que Jucá fez um trabalho competente e dedicado.
A defesa de Romero Jucá protocolou ação junto ao Ministério Público para que o órgão indique se houve ou não irregularidade ou crime na conversa.
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