quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Estudo brasileiro revela a importância do sono para a evolução dos mamíferos

RIO — Um estudo realizado pela neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel propõe uma nova explicação para a evolução dos mamíferos na Terra: o sono. Mais especificamente, a característica do cérebro desses animais que determina a quantidade de descanso necessária. Os primeiros mamíferos que surgiram no planeta eram pequenos, com o comprimento medido em centímetros, mas ao longo de milhões de anos, eles cresceram e se diversificaram em milhares de espécies de vários tamanhos. E para crescer, foi preciso comer mais, ter mais tempo para alimentação, e, logo, menos tempo para dormir.

— Para o animal ser grande, ele precisa dormir pouco para ter muito tempo para se alimentar — explica Suzana, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. — Para isso, ele precisa de um cérebro que se contente com pouco sono, e a nossa descoberta é que a quantidade de horas que um mamífero precisa dormir depende, universalmente, da densidade de neurônios por área da superfície do cérebro.

Os primeiros mamíferos do planeta, que surgiram há cerca de 225 milhões de anos, tinham poucos neurônios e dormiam muito, provavelmente entre 16 e 18 horas por dia. O estudo, publicado nesta quarta-feira na revista científica “Proceedings of the Royal Society B”, propõe que o aumento no número de neurônios corticais levou a uma queda na necessidade de sono, o que possibilitou mais tempo para alimentação e aumento da massa corporal, que, por sua vez, facilitou o acréscimo no número de células cerebrais por causa da maior ingestão calórica, criando um ciclo evolutivo.

“Ligando o aumento no número de neurônios à menor necessidade de sono e aumento nas horas de alimentação deve não apenas ter permitido, mas impulsionado a tendência de aumento do cérebro e da massa corporal na evolução dos mamíferos”, destaca o estudo.

A explicação é que os metabólitos que induzem ao sono, como a adenosina, se acumulam, durante as horas de vigília, mais lentamente em córtices que possuem menor densidade neuronal. E, durante o sono, esses metabólitos são removidos mais rapidamente. Como regra geral, quanto maior o número de neurônios, menor a densidade, porque tanto os neurônios como o cérebro crescem.

Mas isso não quer dizer que pessoas que durmam muito tenham menos neurônios que outras que dormem pouco. Entre os primatas, o cérebro cresce de forma proporcional ao aumento no número de neurônios, mantendo a mesma densidade. Por esse motivo, todos os primatas, incluindo o homem, têm praticamente a mesma necessidade de sono, entre 8 e 9 horas.

— Um primata com dez vezes mais neurônios que outro, tem o cérebro dez vezes maior. Nos outros mamíferos, se um animal qualquer tiver dez vezes mais neurônios que outro, seu cérebro será 40 vezes maior — explica Suzana. — Mas essa regra também explica porque os filhotes, inclusive os nossos, dormem muito. De maneira geral, os mamíferos quando jovens possuem um cérebro pequeno, e conforme ele cresce, a densidade cai rapidamente e reduz a necessidade do sono.

O estudo avaliou dados de 24 espécies sobre o número de horas dormidas por dia, massa cerebral, números de neurônios, densidade neuronal, área de superfície cortical e espessura da massa cinzenta no córtex. Os resultados são curiosos. Os morcegos dormem por até 24 horas por diz, e se alimentam por apenas duas; e elefantes dormem entre 3 e 4 horas diárias, e gastam 18 se alimentando.

Apesar de terem cérebros grandes, os carnívoros são bastante dorminhocos, entre 12 e 15 horas por dia, porque a densidade neuronal também é elevada. O estudo também analisou ratos em várias etapas da vida. Logo após o nascimento, esses roedores passam 95% do dia dormindo, mas com duas semanas de vida, eles se estabilizam com a quantidade de sono de um adulto, entre 12 e 13 horas.

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