segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Câmara entrega título de "Cidadão de Fortaleza" ao ex-jogador Nando

Vereador Evaldo Lima e Nando Antunes
A Câmara Municipal de Fortaleza concedeu nesta segunda-feira (28) o título de Cidadão de Fortaleza ao professor e ex-jogador de Futebol, Fernando Antunes Coimbra, o Nando. A homenagem foi proposta pelo vereador Evaldo Lima (PCdoB) e aprovada, por unanimidade, pela Casa Legislativa. A solenidade foi presidida pelo vereador Evaldo Lima, representando o presidente da Casa, vereador Salmito Filho.
A mesa dos trabalhos foi composta por: Carlos Campelo Costa Júnior, secretário-executivo da Secretaria de Esporte de Fortaleza; Marcos Gaúcho, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado Ceará; Mário Albuquerque, conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça; Vera Felício, presidente do Centro Cultural do Ceará Sporting Clube; Inês Cabral, coordenadora da ala feminina do Ceará Sporting Clube; Francisco Ernande da Silva, o Mirandinha, ex-embaixador da Copa no Ceará de 2014.

Em sua saudação ao homenageado e aos presentes, o vereador Evaldo Lima disse que conheceu a trajetória de Nando através de Mário Albuquerque que afirmou ter sido ele o primeiro jogador de futebol a receber a anistia. “Ele jogou no Ceará Sporting Clube, em 1968, e foi um grande jogador”, revelou. Evaldo afirma que futebol é inspiração para o que há de melhor. É uma alegoria perfeita que representa a vontade de vencer do povo brasileiro. “É impossível pensar o Brasil sem se falar de futebol”.
Observou que o Futebol nasceu com a elite, mas acabou sendo um instrumento de superação do racismo e das desigualdades. “Futebol não é só inspiração, mas respiração. É uma ação democrática, capaz de influir nas lutas políticas da sociedade brasileira. Capaz de arrebatar multidões e chamado até de ópio do povo. Mas que ópio é esse que embriaga o povo e potencializa a ação? ”, indagou.
Ele disse que talvez o primeiro político que observou esse lado do futebol, tenha sido Getúlio Vargas, que acabou usando o futebol para a mover as massas e se popularizar. “Foi nessa época que foram construídos os grandes estádios, como o Pacaembu, em São Paulo e o Presidente Vargas, aqui em Fortaleza”.
“Na ditadura, o governo militar queria vincular as conquistas políticas a uma pátria grande. O Brasil vinha tendo um crescimento de 10% ao ano devido a empréstimos estrangeiros. Temos muitas belas histórias, mas histórias sombrias. No dia 30 de agosto de 1970, quando houve a prisão de Nando. A perseguição a Nando e a intolerância de um Governo Ditatorial paralisou uma carreira. Mas hoje, Nando foi alçado ao panteão dos ídolos do Ceará.
Em seguida o vereador passou a ler a biografia do homenageado: “Nascido no Rio de Janeiro, em Quintino Bocaiuva, Nando teve o privilégio de ter seis irmãos, sendo três deles também muito talentosos com a bola no pé. São eles José Antunes Coimbra Filho, conhecido por “Zeca”, que jogou no Fluminense-RJ; Eduardo Antunes Coimbra, o “Edu”, que jogou no América-RJ; e, claro, o Zico, o “Galinho de Quintino”, maior ídolo da história do Flamengo. Os outros dois, Antônio e Maria José, ficaram afastados das quatro linhas”.
“O sucesso dos quatro irmãos Coimbra no futebol era motivo de orgulho, mas o posicionamento político progressista de Nando e de vários membros da família atraiu os olhares pérfidos dos agentes da repressão, que temiam que a influência deles dentro e fora dos campos fosse usada para combater o regime militar”.
“Nando, que a parou da carreira no futebol, havia entrado para a Universidade de Filosofia do Rio de Janeiro, chegou a ser professor do Plano Nacional de Alfabetização (PNA), projeto baseado nas propostas do pedagogo Paulo Freire para combater ao analfabetismo entre jovens e adultos. Com o Golpe de 1964, o PNA foi encerrado, pois estava promovendo ideias “subversivas”, jargão dos militares para definir todos que lutavam em defesa liberdade de expressão”.
“A perseguição política sofrida por Nando, posteriormente à sua prisão pelo regime militar é uma mancha vergonhosa na história do futebol brasileiro. A intolerância de um governo antidemocrático interrompeu a sua carreira, e nos privou de desfrutar por mais tempo da sua aptidão invulgar e sensibilidade para o futebol-arte.”
“A prisão de Nando não era punição suficiente para os militares, e toda sua carreira profissional foi da ditadura. Forçado ao exílio, Nando tentou jogar futebol fora do Brasil e foi para Portugal, país de origem dos seus pais, mas lá terminou sendo ameaçado pela polícia política do ditador Salazar, a mando da ditadura brasileira”.
“Nando, que para muitos que o viram jogar seria um craque superior ao próprio Zico, teve o curso de sua vida alterado por um período trágico da nossa história. A sua reabilitação pública, pelo estado brasileiro através da Comissão Nacional da Anistia, é um ato de justiça, um testemunho às gerações futuras para que nunca cometamos os mesmos erros ao permitir que a nossa liberdade e democracia sejam ameaçadas”.
“Nem todos que amam o futebol serão grandes atletas, mas todos aprendem a lição de que jogar bola também é opção de educação para a vida e seus irmãos simbolizam um pouco do sonho brasileiro de talento e superação, euforias e tristezas de um país que ainda luta para construir a cidadania extensiva a todos e que precisa resgatar páginas arrancadas da nossa memória. Viva o futebol, viva Nando e viva o povo brasileiro!”
Segundo Evaldo, hoje, Nando passeia pela poesia e em alguns poemas fala sobre as belezas do Ceará e do Ceará Sporting. “Hoje ele é sinônimo de heroísmo e digno de infinitas homenagens. A partir dessa solenidade é cidadão de Fortaleza por sua luta política e por seu belo Futebol. Os que apoiaram o golpe militar se envergonham daquela fase negra da história do Brasil, já nós nos orgulhamos de sua trajetória Nando, cidadão de Fortaleza”, concluiu.
Após receber o título de Cidadão de Fortaleza das mãos do vereador Evaldo Lima, Nando recebeu uma homenagem da torcida Ceará Amor. Em seus agradecimentos Nando observou que foi convidado para fazer várias palestras no interior cearense, com o jogador Rondinelli, esteve em várias cidades, como Reriutaba, Croatá, Varjota, entre outras. “No interior está sendo feito um grande trabalho com crianças. Nas minhas palestras muitas pessoas ficam com lágrimas nos olhos ao ouvirem minha trajetória. Em Portugal, eu tinha 22 anos e a polícia de lá tinha sido formada por nazistas. Eu sai do Ceará porque recebi uma proposta melhor. Sai do paraíso e cai no inferno. Uma noite quando estava desesperado, uma pessoa do time do Belenenses me auxiliou a sair do País”.
“Eu guardei minha história por 40 anos e só revelei quando ganhei na Comissão de Anistia, Não falei nada porque tinha que proteger meus irmãos, tinham dois que já eram famosos. Trilhei por outros caminhos, mas fui frustrado porque o que eu queria fazer era jogar futebol. Fui torturado. O crime que cometi foi ser professor. E o Plano Nacional de Alfabetização criado por Paulo Freire ganhou prêmio nacional. Ele criaram o Mobral que era uma piada. Mas hoje vejo que valeu a pena. O que mais debato que hoje temos uma democracia fortíssima, que todos temos que agarrar. Nossa liberdade está na democracia”, frisou.
“Somos um país livre. Enquanto eu puder fazer palestra vou falar isso. Nas palestras com as crianças eu sempre falo que escolinha é para formar cidadão. Se for bom jogador poderá ter sucesso, mas não pode deixar de estudar”, disse.
Quando a situação atual do país, Nando afirmou que o Brasil é a sétima economia do mundo e que a crise é uma coisa momentânea. Os Estados Unidos estavam em crise recentemente e hoje superou. Não devemos ser pessimistas. O Brasil é um país grande e vai conseguir vencer. Mas não devemos abrir mão da democracia. Hoje eu me sinto feliz, por me tornar cidadão fortalezense. Sou um “cearoca” com muito orgulho!”, finalizou.
Fonte : Cmfor

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