quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sete dirigentes, entre eles o ex-presidente da CBF, são presos em operação do FBI

Marin presidiu a CBF de 2012 a 2015 e o comitê organizador da Copa no Brasil
Marin presidiu a CBF de 2012 a 2015 e o comitê organizador da Copa no Brasil
FOTO: REUTERS
Sete dos dirigentes mais poderosos do mundo do futebol, incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin, podem ser extraditados para os Estados Unidos para enfrentarem acusações de corrupção após serem presos nesta quarta na Suíça, onde as autoridades anunciaram ainda uma investigação criminal sobre a escolha das sedes das duas próximas Copas do Mundo.

O esporte mais popular do planeta mergulhou no caos depois que autoridades norte-americanas e suíças divulgaram inquéritos separados sobre as supostas irregularidades na Fifa.

Autoridades dos EUA declararam que sete dirigentes do futebol e cinco executivos dos ramos de mídia e marketing esportivo enfrentam acusações de corrupção envolvendo mais de US$ 150 milhões em suborno.

Marin, que presidiu a CBF de 2012 a abril de 2015 e foi o presidente do comitê organizador local da Copa de 2014, está entre sete dirigentes presos em Zurique. Atualmente, ele ocupa uma das vice-presidências da CBF.

Em nota, a CBF disse que os acontecimento na Suíça são "graves", mas vai esperar a conclusão da investigação sem fazer qualquer julgamento.

O suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa, não está entre os indiciados, mas a lista inclui vários subordinados diretos dele na hierarquia da entidade.

Quatro pessoas já se declararam culpadas de várias acusações, entre elas o brasileiro José Hawilla, dono e fundador do grupo de marketing esportivo Traffic, segundo o Departamento de Justiça. Em acordo fechado em dezembro de 2014 com a Justiça dos EUA, Hawilla aceitou devolver US$ 151 milhões, sendo US$ 25 milhões pagos quando de sua confissão.

'Cultura de corrupção'

A sede da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf) em Miami, na Flórida, foi revistada ontem. "Como dito no indiciamento, os réus fomentaram uma cultura de corrupção e ganância que criou um campo de atuação desigual para o maior esporte do mundo", disse James Comey, diretor do FBI. "Pagamentos secretos e ilegais, propinas e subornos se tornaram uma maneira de fazer negócios na Fifa", disse ele.

Os dirigentes parecem ter caído em uma cilada armada pelas autoridades norte-americanas e suíças. As prisões foram feitas de madrugada em um hotel de luxo de Zurique, o Baur au Lac, onde eles estão se hospedando para a eleição presidencial da Fifa. A entidade, por sinal, classificou as prisões como "um momento difícil", mas afirmou que Blatter irá manter sua candidatura a um 5º mandato e as próximas Copas do Mundo ocorrerão estão mantidas na Rússia e no Catar.

O Departamento de Justiça dos EUA nomeou os presos como: Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel, além de Marin (ver arte abaixo).


Propinas

De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, entre os acusados do grande esquema de corrupção estão executivos de marketing esportivo norte e sul-americanos que supostamente pagaram e concordaram em pagar "bem mais de 150 milhões de dólares em subornos e propinas para obterem direitos lucrativos de mídia e marketing".

À parte a investigação norte-americana, promotores suíços disseram ter iniciado seu próprio inquérito criminal contra pessoas não identificadas suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro relacionadas à concessão dos direitos de sediar os Mundiais de 2018 e 2022.

A maioria dos presos está na Suíça para o Congresso da Fifa, no qual Blatter encara o jordaniano Ali bin Al Hussein na eleição presidencial de amanhã.

Saiba mais

Como funcionava o esquema

A Fifa negociava os direitos de publicidade de torneios com certas empresas de marketing. Estas recebiam valores das TVs pela transmissão do evento e pagavam à Fifa para vincular suas marcas ao torneio, que seria o correto. No meio da negociação, cartolas corruptos eram subornados ou recebiam propinas das empresas de marketing para ganhar apoio nos bastidores da Fifa e facilitar a negociação

Por que o FBI?

A investigação do esquema foi conduzida pelo FBI porque os crimes foram cometidos em território americano, com operações financeiras suspeitas em bancos do país. A lei norte-americana dá autoridade ao Departamento de Justiça de lá para investigar e pedir a prisão de estrangeiros que vivem no exterior, em casos assim

Opinião do especialista

Será a chegada da 'tempestade perfeita'?

A prisão de dirigentes "de peso" da Fifa mostra a complexidade do atual sistema capitalista. Se ao mesmo tempo chegamos a isso por causa da forma altamente mercantilizada com que cartolas tratam o futebol, o mesmo não tolera mais modelos "tradicionais" de gestão dos clubes e entidades esportivas: sem transparência, patrimonialistas e exuberantemente permeáveis a múltiplas formas de corrupção.

Apesar de ser o início de uma investigação e ainda sem certeza de culpas e punições, a notícia do dia dá esperança, pois mexe com a estrutura do futebol mundial e mostra que o modelo precisa de mudanças já.

A diferença do fato atual em relação aos sucessivos escândalos que já vinham afetando o Sistema Fifa e parceiros é que, desta vez, as denúncias levaram a um processo nos EUA com a aplicação das atuais e bem rigorosas leis anticorrupção de lá. Isso realmente é um fato novo e pode gerar desdobramentos surpreendentes.

É importante lembrar a pressão sobre a Fifa vem num crescendo há bastante tempo. A entidade saiu do Brasil com a imagem extremamente arranhada, pois a gestão da Copa de 2014 só foi benéfica para ela. O Brasil ficou com a conta para pagar. Os protestos não perdoaram a entidade.

A péssima imagem acentuou-se com a definição de Rússia e Catar para as Copas de 2018 e 2022. Há inúmeras suspeitas de irregularidades nessas escolhas. O cenário de "tempestade perfeita" é completado com a chegada das eleições na Fifa. Ainda que os dirigentes neguem, o que está acontecendo leva o modelo da entidade "ao chão". A ver como e se ela conseguirá sair desse escândalo. Acho que dificilmente isso acontecerá sem perdas, ao menos do ponto de vista da imagem pública.

Anderson Gurgel
Professor da Un. Presb. Mackenzie e autor do livro "Futebol S/A - A Economia em Campo"

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