
A informação é do presidente da Associação dos Municípios do Estado do
Ceará (Aprece), Expedito José do Nascimento, que voltou, ontem, a
demonstrar preocupação não apenas com a falta d'água para consumo
humano, mas também para o rebanho.
Segundo a Defesa Civil do Estado, a Operação Carro-Pipa já está
presente em 54 cidades, mobilizando 174 veículos, atendendo cerca de 280
mil pessoas.
O presidente da Aprece, que tomou posse do cargo no último dia 30,
lembrou que nesta mesma data reuniu-se com o governador Camilo Santana,
ocasião que pediu maior atenção para a questão hídrica no Estado.
"Mostramos que, se o problema ainda não é alarmante na Capital, o
interior já vive momentos de agonia pela falta d'água", disse Expedito.
Ele manifestou ao governador a preocupação que agora se concentra nas
sedes, onde será preciso o socorro dos carros-pipas, o que representará
em mais custos e recursos do poder público.
Expedito aponta que o monitoramento dos níveis dos açudes chega a ser
desesperador no Sertão Central e até no Vale do Jaguaribe. Em Piquet
Carneiro, cidade onde é prefeito, o açude São José II, com capacidade
para 29 milhões de metros cúbicos de água, está hoje com apenas 1,92% de
suas reservas.
Crise
Em Senador Pompeu, o açude Patu, que também abastece Milhã, está com
12% da sua capacidade. A barragem Serafim Dias, que atende a cidade de
Mombaça, está com 8% e Acopiara vem sendo servida pelo Trussu, em
Iguatu, por meio de adutora de engate rápido, após o reservatório
Raimundo Moreira ter chegado ao volume morto. "Essas são medidas
emergenciais, mas acreditamos que a prioridade também deva ser a
perfuração de poços profundos, instalação de mais adutoras e a conclusão
das obras da Transposição", disse o presidente Aprece. Segundo ele, o
argumento de contingenciamento dos recursos federais em vista da crise
econômica do País não pode servir de pretexto para interrupção ou
adiamento da conclusão da obra. "Essa é a prioridade número um, pois a
sobrevivência do ser humano vai depender desta água", ressaltou.
Para tanto, a Aprece deverá marcar ainda neste mês uma reunião com a
bancada cearense no Congresso Nacional, no sentido de unir forças para
que não haja interrupção nos investimentos previstos para as obras
estruturantes. Expedito informou que, por isso, já manteve um contrato
preliminar com o líder do governo na Câmara Federal, o deputado federal
José Guimarães.
Ceticismo
As ações de infraestrutura implementadas no Estado são elogiadas pelo
ex-secretário de Recursos Hídricos do Ceará e ex-secretário Nacional de
Recursos Hídricos do Ministério da Integração Nacional, Hypérides
Macedo. No entanto, expressa descrença quanto ao cronograma definido
para as obras da Transposição, que estão previstas para chegar ao Ceará
em 2016.
Sobre a infraestrutura hídrica do Estado no contexto de mais um ano de
seca, Hypérides Macedo, observa que, pelo atual quadro de mais um ano de
chuvas irregulares, o quarto seguido, a infraestrutura hídrica do Ceará
já se encontra no limite das reservas, apesar do esforço realizado nos
últimos vinte anos. "Considerando que Fortaleza é a única capital do
País localizada no Semiárido e ainda não atingiu o nível de alerta. É
sinal que o planejamento hídrico do Ceará funcionou. É lógico que, em
anos de seca, o consumo de água na irrigação e na indústria aumenta.
Este é o maior problema", afirmou o engenheiro.
Ao avaliar as estratégias adotadas pelo governo do Estado para o
enfrentamento da estiagem através de anos seguidos, observa que a
construção de adutoras e poços é a mais objetiva ação, contudo, está na
hora de limitar a produção de culturas temporárias na irrigação.
Além disso, fixar um padrão de planilha de custo de produção e
estabelecer uma margem de subsídio para o agricultor, visando garantir a
água para as atividades essenciais, principalmente o abastecimento
humano e animal.
Por outro lado, é pessimista com relação à possibilidade do Estado
contar com as águas da Transposição do Rio São Francisco a partir do
próximo ano. "Na situação de caixa do País e a questão das empreiteiras
na operação "Lava Jato", principalmente aquelas comprometidas com o Eixo
Norte, devo acreditar que o cronograma de 2016 já está prejudicado",
afirmou.
Marcus Peixoto
Repórter
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