Foi com muito pesar que gestores, ex-alunos, colegas, amigos e família
receberam, na manhã de ontem, a notícia de falecimento do ator, educador
e diretor Sidney Souto, aos 49 anos. O artista estava internado havia
quatro dias no Hospital São José, em Fortaleza, com um quadro de
histoplasmose (doença causada por fungo, transmitida por via
respiratória), e faleceu por volta das 7 horas.
Referência no cenário teatral do Estado, Sidney dividia-se entre o
palco e as salas de aula. Formado pedagogo, foi professor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e, mais
recentemente, da Escola Porto Iracema das Artes, onde ministrou módulo
do curso "Atuação para Cinema", oferecido em 2014.
Como ator e diretor, detinha currículo igualmente robusto. Iniciou sua
formação ainda na década de 80, quando fundou, junto com o colega
Wellington Pará, a Cia. Diabo a 4 de Teatro. Os dois se conheceram na
Faculdade de Pedagogia da UECE, durante uma oficina de teatro.
A paixão pelas artes, porém, vinha de muito antes, ainda no município
de Monsenhor Tabosa, onde Sidney nasceu. Quando criança, participava de
encenações natalinas e de celebrações ao Sete de Setembro.
Após o fim precoce da Cia. Diabo, Sidney recebeu convite para
substituir um ator no espetáculo "De Amor Encarcerado ou a Paixão de
Oscar Wilde", sob direção de Bruno Lima. Terminada a temporada,
ingressou na Trupe Caba de Chegar, onde conheceu a fundo o teatro de
rua. Apaixonado, abandonou outras atividades que mantinha para se
dedicar exclusivamente ao teatro. Mas foi em 1998 que ele deu um salto
fundamental, ao ingressar no Colégio de Direção Teatral, do extinto
Instituto Dragão do Mar. Como trabalho de conclusão, participou do
espetáculo "Os IKS", (1998/99), sob direção de Celso Nunes.
Nos anos seguintes esteve em "Os Desencantos do Diabo" (2001) - que
cumpriu temporada no Nordeste e em Portugal - e "A Estrela Dalva"
(2002), como ator e cantor, entre outras montagens. A qualidade de seu
trabalho lhe rendeu ainda participações em produções da Rede Globo, como
a minissérie Gabriela (2012), e, mais recentemente, na novela Boogie
Oogie.
Como diretor, assinou os espetáculos "A saga de uma certa Bárbara"
(2004/2005), "Um Sonho de uma Noite de Verão" (2007), "Apocalipse"
(2008) e "Majestic Bar" (2008).
Fez mestrado em artes cênicas na Universidade de São Paulo (USP). De
volta a Fortaleza, ingressou como professor do IFCE, onde ministrou
disciplinas de interpretação, dirigiu espetáculos e ajudou a montar a
estrutura do curso. Atuou ainda como arte-terapeuta, nos Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS). Completaria 50 anos em julho.
Repercussão
Em nota, o secretário municipal de Cultura de Fortaleza, Magela Lima,
lamentou a morte precoce do artista. "Sidney era dono de um talento
extraordinário. Fez parte de uma geração de gigantes audaciosos do
teatro de Fortaleza, tendo integrado a memorável Trupe Caba de Chegar e
passado pelo Colégio de Direção Teatral em seu momento mais
efervescente. Atualmente, tinha um diálogo muito produtivo com novos
realizadores. Deixa um legado de dedicação e talento", destacou. O mesmo
foi destacado pelo secretário de cultura do Estado, Guilherme Sampaio,
em nota da Secult. Para ele, Sidney deixa "um amplo legado de
contribuições às artes cênicas no Ceará e no Brasil".
Para a atriz Ana Marlene, que trabalhou com Sidney na Trupe Caba de
Chegar, trata-se de uma perda muito grande para amigos e o teatro no
Ceará. "Nesse momento um pedaço do nosso grupo se desfaz e todas as
artes choram e sentem uma dor inexplicável. O Sidney era de uma coragem,
força e talento únicos. Era um agitador cultural, um educador.
Estimulava artistas iniciantes a fazerem o melhor teatro possível",
reconhece.
No palco, ela o descreve como um profissional "criativo, dinâmico. Na
trupe, nos deu muito impulso, porque era um ator de improviso rápido. Na
rua, passamos por todo tipo de coisa e de públicos, e Sidney estava
sempre preparado. É uma perda enorme".
O corpo de Sidney foi velado na tarde de ontem, no pátio interno do
Theatro José de Alencar. Até o fechamento desta edição, não havia
informações sobre se o ator seria sepultado em Fortaleza ou em Monsenhor
Tabosa - seus pais estavam vindo do município para decidir a questão.
Sidney tinha dois irmãos que moravam em Fortaleza.
Adriana Martins
Repórter
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