sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Irmãos Aniceto preparam nova fase

A imagem da formação anterior ficará na memória das novas gerações
A imagem da formação anterior ficará na memória das novas gerações
Foto: Allan Bastos
Crato Próxima de comemorar seus 200 anos de existência, o aniversário será celebrado no mês de maio, a banda cabaçal dos Irmãos Aniceto entra definitivamente em sua terceira formação. Após a morte de Mestre Antônio, primeiro pífano da mais emblemática banda cabaçal do nordeste brasileiro, a função passará a ser exercida por seu filho caçula, Cícero Aniceto, que assumiu o posto no início da semana, após convite feito pelo coordenador do grupo, Mestre Raimundo Aniceto, último remanescente da segunda formação da banda. Nesta nova formação, os sobrinhos de Mestre Raimundo, Cícero e Adriano, filhos de Mestre Antônio; e Jeová, Cícero e Vicente, filhos de Mestre João; assumem o legado da família e a obrigação de manter a tradição da cultura popular efetivada pelos Irmãos Aniceto.
A primeira apresentação da nova formação da banda acontecerá no próximo dia 25 de janeiro, quando participarão das comemorações em torno da Santa Cruz da Baixa Rasa. O evento, que no ano passado comemorou cem anos de celebrações, é realizado em plena área da Chapada do Araripe e atrai milhares de pessoas. A participação da banda cabaçal dos Irmãos Aniceto durante o evento acontece há muitos anos e, por conta da morte de Mestre Antônio e a chegada do novo componente, há grande expectativa em torno de como o grupo se comportará daqui por diante.

"Agora a banda é composta pelos sobrinhos. Do começo da segunda geração só fiquei eu. Meus irmãos mais velhos partiram e eu fiquei na missão de dar continuidade, ensinando o pessoal mais novo pra que a tradição não se acabe", explicou Mestre Raimundo, líder dos Irmãos Aniceto. Segundo ele, que integra o grupo há 72 anos, existe uma espécie de compromisso familiar que impulsiona os mais jovens a também dar prosseguimento à tradição dos Aniceto. "Não vai morrer nunca. A banda vai passando de geração pra geração e os mais novos é que vão tomar de conta. Essa tradição vem de muito tempo. Aprendi isso com meu pai e, junto com Antônio, fomos passando para o pessoal mais novo da família. Hoje, até uma bandinha de criança já existe, que é pra dar continuidade ao trabalho", disse Mestre Raimundo Aniceto.
A bandinha ressaltada por ele é coordenada por Jeová Aniceto, filho de Mestre João, um dos componentes da banda cabaçal. Composta por cinco integrantes, já assume papel importante na produção cultural da família. "A banda cabaçal mirim também realiza muitas apresentações. A gente quer preparar os meninos logo cedo, porque, se precisar, já tem como substituir componente na dos adultos", observou Jeová Aniceto. Conforme afirma, o projeto de preparação das crianças vem acontecendo há pouco mais de cinco anos e, além de parentes, o grupo também é formado por filhos de amigos da família Aniceto. "No começo também foi assim. Eram parentes e amigos. A gente só manteve a tradição", afirmou.
Novos projetos
Nesta nova fase dos Irmãos Aniceto, dois projetos estão sendo analisados: a criação de um Memorial Cabaçal e da banda cabaçal das Irmãs Aniceto, que seria formada pelas sobrinhas e netas de Mestre Raimundo. Ambos os projetos estão sendo discutidos junto à Secretaria de Cultura de Crato e, conforme a secretária Dane de Jade, poderão ser efetivados ainda neste ano. "As conversações em torno da criação da versão feminina da banda cabaçal dos Anicetos estão bastante adiantadas. As mulheres desta família também possuem um potencial cultural muito rico. É preciso fortalecer essa perspectiva e auxiliá-las na efetivação deste projeto", afirmou a secretária, ressaltando que a pasta já trabalha a elaboração de um projeto para a construção do Memorial Cabaçal: "O projeto é importante para que haja a guarda de um material muito importante que vem sendo produzido há quase dois séculos. A história dos Irmãos Aniceto precisa ser preservada, bem como deve servir para que a cultura popular fomentada no Crato seja continuada pelas futuras gerações".
Roberto Crispim
Colaborador

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