sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Funceme prevê chuvas abaixo da média até março

O quadro atual de estiagem, caso continue em 2015, fechará o ciclo de cinco anos. Diante da gravidade da situação, a Funceme passou a divulgar as previsões climáticas mensais
O quadro atual de estiagem, caso continue em 2015, fechará o ciclo de cinco anos. Diante da gravidade da situação, a Funceme passou a divulgar as previsões climáticas mensais
Foto: José Leomar
 
A chuva faz parte do imaginário do povo nordestino, característica expressa em diversas manifestações, tanto artísticas quanto em tradições orais, que passam de pais para filhos, a exemplo da realização de previsões para saber como será a quadra chuvosa de cada ano.
Assim como a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) realiza estudos para identificar como será o comportamento da próxima quadra chuvosa, a última foi divulgada dia 18, apontando maior probabilidade de chuva abaixo da média nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2015, homens e mulheres anônimos do sertão fazem também as suas previsões.
O momento ainda é de incerteza quanto à projeção para o desempenho da quadra chuvosa do próximo ano, admitem os pesquisadores da Instituição. No entanto, os modelos pesquisados sinalizam para o percentual de 55% para chuvas abaixo da média; 30% na média; e 15% acima da média, respectivamente.
O estudo não corresponde ao desempenho da totalidade quadra chuvosa do Ceará, que ocorre entre os meses de fevereiro e maio de cada ano. A Funceme ressalva que a divulgação do prognóstico para 2015 só acontecerá na segunda quinzena de janeiro, adiantando que o acumulando de chuva do período poderá ficar abaixo dos 412 milímetros previstos.

O quadro atual de estiagem, caso continue em 2015, fechará o ciclo de cinco anos. Diante da gravidade da situação a Funceme passou a divulgar as previsões climáticas mensais.
O objetivo é orientar ações governamentais e informar a sociedade, de acordo com informações da Assessoria de Comunicação da Funceme. Os dados projetam o total de chuva que poderá ocorrer no período de janeiro a março do próximo ano.
No entanto, destaca que a previsão não corresponde ainda ao prognóstico da estação chuvosa, justificando se tratar de período diferente.
As condições dos oceanos Pacífico e Atlântico foram determinantes para a conclusão da pesquisa, que mostra tendência desfavorável à chuva.
O Pacífico Equatorial permanece aquecido, indicando que o El Niño está em atuação. Enquanto no Atlântico Equatorial é observada a configuração de diferença de temperaturas, o que significa atuação mais regular da zona de convergência intertropical (Zcit).
Trata-se de sistema meteorológico que começa a atuar na segunda quinzena de fevereiro, considerado como um dos responsáveis pelo desempenho de chuva durante a quadra chuviosa no Ceará.
Ancorados na fé, sobretudo em três santos - Santa Luzia, São Sebastião e São José - , muitos agricultores tentam antever como será o inverno do próximo ano. As rezas e as promessas começam no mês de dezembro, conforme a letra da música "A triste partida", poesia de Patativa do Assaré (1909-2002), conhecida na voz de Luiz Gonzaga (1912-1989).
Seguindo os relatos de alguns agricultores da região do sertão de Canindé, uma das áreas mais castigadas pela estiagem, é possível observar que as previsões dos chamados "profetas populares" se aproximam do discurso científico, materializado nos prognósticos da Funceme.
Alguns afirmam que o inverno não será nem ruim, nem bom, apostando que irá chover apenas nos meses de janeiro, fevereiro e março, como afirmou a agricultora Maria Teresa da Silva, natural de Caridade. Recomenda que as pessoas guardem água, porque o tempo de chuva será curto.
Enquanto outros preferem "ler" alguns sinais da natureza, traduzidos na localização da casa do pássaro João de Barro, sinalizando que o sertão terá chuva em 2015, a entrada ficou virada para o lado do poente.
Outro sinal de inverno identificado pelos agricultores é o "trabalho" das formigas. Ou seja, elas já começaram a juntar alimentos, o que significa sinal de inverno.
A agricultora Teresa Ramos de Sousa atenta para 2015, quando completam-se 100 anos da seca de 1915. Será o inverso, um ano de muita chuva e fartura, projeta.
As pedrinhas de sal, adivinhação feita da noite do dia 12 para 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, indicam ano de chuva, conforme previsão do agricultor Ademário Ferreira da Silva, de Canindé.
Somente o mês de maio não ficou molhado, revela. A adivinhação, que consiste em deixar ao relento seis pedrinhas de sal, correspondendo ao primeiro semestre do ano, abre o calendário dos santos que intercedem para um bom inverno.
Na sequência, aparecem São Sebastião, 20 de janeiro, quando os sertanejos fazem novas orações e promessas. Para fechar o ciclo, São José, santo festejado em todo o sertão, no dia 19 de março, a última esperança dos agricultores.
A região Nordeste apresenta desde a colonização do Brasil registros de secas ou estiagens, já que possui cerca de 53% de sua área localizada no Semiárido. Situação peculiar ao Ceará, possui mais de 90% de suas terras encravadas na região semiárida ou sertão, fazendo com que sua população esteja exposta a períodos cíclicos de estiagens, como o que vive no momento, iniciado há quatro anos, sendo considerado um dos piores dos últimos 60 anos.
Enchentes, estiagens mais severas, invernos e verões rigorosos materializam os prognósticos científicos cujas perspectivas para as regiões semiáridas são desfavoráveis, levando a crer que os efeitos das mudanças climáticas são percebidos ano a ano.
Iracema Sales
Repórter

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