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Reajuste anunciado ontem é o primeiro desde 29 de novembro de 2013
Foto: Bruno Gomes
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São Paulo/Rio. A Petrobras informou que irá reajustar a
gasolina em 3% e o diesel em 5% nas refinarias a partir de hoje. O
anúncio foi feito ontem, em comunicado enviado à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM). Este é o primeiro aumento desde 29 de novembro de
2013.
A Petrobras havia recebido na última terça-feira (4) o aval do ministro
da Fazenda, Guido Mantega, presidente do conselho de administração da
empresa, para reajustar os combustíveis. Na ocasião, o ministro havia
pedido à empresa não divulgasse o anúncio no dia, segundo a reportagem
apurou.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, fez uma
apresentação ao grupo, em Brasília, em que mostrava projeções com o
percentual de 8% de reajuste. O esperado, contudo, era que o aumento
para a gasolina ficasse em torno de 5%.
Repasse
De acordo com o assessor técnico do Sindicato dos Proprietários de
Postos de Combustíveis do Ceará (Sindipostos-CE), Antônio José Costa, o
reajuste promovido pela Petrobras nas refinarias pode chegar ao bolso do
consumidor a qualquer momento. "É muito imprevisível. Como o mercado é
livre, fica a critério de cada um repassar logo esse aumento ou não.
Pode ocorrer hoje ou daqui a meses", ressalta.
Antonio José afirma também que ainda não é possível dizer se o reajuste
promovido pela Petrobras é suficiente para compensar o preço reprimido
da gasolina no mercado, que vinha sendo controlado pelo governo como
forma de combate à inflação. "Quem vai ter que dizer isso é a própria
Petrobras", pontua.
Negociação
Pelo estatuto da Petrobras, a decisão pelo reajuste dos combustíveis é
da diretoria-executiva da empresa, liderada pela presidente Maria das
Graças Foster. Na prática, porém, a alta é negociado junto ao governo,
uma vez que a concessão traz impactos inflacionários, e depois a
proposta é apresentada aos conselheiros. A União controla a Petrobras e,
nessa condição, nomeia sete dos dez conselheiros.
Como depende do aval do governo federal para aumentar valores, a
Petrobras não reajusta imediatamente os combustíveis conforme as
oscilações do mercado internacional. Por conta dessa política, as perdas
da empresa nos últimos quatro anos são calculadas em aproximadamente R$
60 bilhões, de acordo com a corretora Gradual.
Neste ano, os combustíveis permaneceram a maior parte do tempo com
preço abaixo da cotação internacional, chegando, em alguns casos, a uma
defasagem de 20%. Com a queda no preço mundial do petróleo, da faixa de
US$ 100 para US$ 85 o barril, no último mês, a perda diária da Petrobras
praticamente deixou de existir.
Até a semana passada, último dado disponível, a gasolina estava 1% mais
cara no Brasil do que no exterior. O diesel, por sua vez, tinha
defasagem de 4,5%.
Apesar da menor defasagem, analistas dizem que o reajuste é necessário
para recompor parte das perdas de caixa dos últimos anos, já que a
dívida líquida da empresa subiu 237% nos últimos cinco anos, de R$ 71,5
bilhões para R$ 241,3 bilhões.
Diesel puxa etanol
O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, presidente do conselho
deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), afirmou
ontem que o reajuste de 3% da gasolina nas refinarias não deve melhorar a
margem do etanol, mas o repasse da alta de 5% no valor do diesel
acabará ampliando os custos do setor. O diesel é o combustível mais
utilizado em tratores e caminhões na produção e transporte, tanto da
cana quanto do etanol por parte das usinas.
"O aumento diesel é mais custo para o nível de rentabilidade do etanol e
essa alta não beneficia nada", disse Rodrigues, salientando que a
principal demanda do setor no curto prazo é o retorno da cobrança da
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a
gasolina. "O que tem de funcional para nós é a Cide e espero que
ressurja com o tempo", complementa o ex-ministro.
Opinião do especialista
Impacto pequeno para a inflação neste ano
Este ano, o impacto inflacionário vai ser pequeno, mas existe um risco
muito grande de nós não atingirmos a meta da inflação. Agora, claro, não
dá para colocar a culpa na gasolina. Ela foi, sem trocadilhos, apenas a
gota d'água.
O aumento é algo que tem de acontecer, pois a Petrobras possui sócios
da iniciativa privada e ela sozinha não pode pagar as contas do governo
federal. Tudo isso mostra o quanto o risco inflacionário é relevante e
que temos uma inflação represada principalmente nos preços
administrados. Estamos vendo combustível, mas a energia também beira um
reajuste muito significativo.
Em outros ocasiões, inclusive, já mencionei o quanto os preços livres -
aqueles sem o controle do governo - estão em alta e, agora, não tem
mais como segurar os administrados.
A única forma de conseguirmos ficar dentro da meta da inflação este ano
é se o ritmo da economia baixar e setores como a energia não serem
pressionados.
Ênio Arêa Leão
Economista
Economista

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