Para celebrar as múltiplas possibilidades da cultura

Mestre Zé Pio  se apresenta hoje no Dragão

 

Da imensidão geográfica brasileira, saltam as manifestações culturais. Heranças africanas, indígenas e europeias dialogam e passam por transmutações, convergindo em diferentes linguagens voltadas para um mesmo fim: a representação do povo.

A festa, e também os desafios, fazem parte do cotidiano. Mas uma data em especial comemora, desde 1970, com a aprovação da Lei nº 5.579, o Dia Nacional da Cultura. Escolhido em homenagem ao aniversário de nascimento do jurista, político, escritor e diplomata Rui Barbosa (1849-1923), o 5 de novembro será recebido com uma programação especial na capital cearense. Durante todo o dia, atividades ocuparão os principais equipamentos culturais da cidade.

O Estoril, prédio histórico localizado na Praia de Iracema, será palco do "Encontro de Linguagens". A programação, organizada pela Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza, em parceria com o Instituto Teatro Público começará às 15 horas e seguirá até às 22 horas. As atividades, todas gratuitas, serão voltadas para a saudação de artistas do teatro, da música, da literatura popular e da cultura de rua. O evento terá início com o espetáculo de mamulengo "A Bruxa Catifunda", voltado para o público infantil, do Grupo Formosura de Teatro.

À noite, a programação continua com lançamento do cordel "Martelo Agalopado sobre o Galo de Barcelos", de Josy Maria, apresentando recital e cantoria com a Companhia Catirina. A atividade terá participação do repentista Zé Maria de Fortaleza e da musicista Luciana Costa.

Às 19 horas, a Arte Urbana da Cufa (Central Única de Favelas) comanda a programação com Davi Favela e o Crew Hip Hop. Para encerrar a festa, às 20h30, Lidia Maria, Bárbara Sena, Mel Mattos e Jord Guedes apresentam o show "Alencarinas", com composições em homenagem a cantoras que marcaram época em Fortaleza, como Teti, Mona Gadelha, Amelinha, Ana Fontelles e Kátia Freitas.

Identidade

A reverência às raízes africanas estará presente no Teatro Carlos Câmara, com o espetáculo "Negrume", do grupo Balé Baião de Dança Contemporânea, de Itapipoca (CE).

A apresentação faz parte do projeto "Centro em Cartaz" e se propõe a poetizar as aspirações contemporâneas afrodescendentes, unificando técnicas de dança afro contemporânea, contato-improvisação e teatro físico. Exposições que retratam a identidade e a história cearense também ficam abertas a visitação no Museu do Ceará e no Sobrado Dr. José Lourenço. "O Início do Ceará - Cenas do Imaginário" traz ao primeiro as pinturas e gravuras do historiador e professor Ernane Pereira.

Já "50 Xilos de João Pedro de Juazeiro" comemora os 50 anos de vida do artista cearense, oferecendo a oportunidade de um mergulho na cultura tradicional popular, na história e nos costumes do Estado, a partir da diversidade das gravuras em madeira.

Visitas guiadas com guias especializados no Theatro José de Alencar também serão destaques na programação. Com oito horários (9h, 10h, 11h, 12h, 14h, 15h, 16h e 17h) e ingressos populares (R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 meia) os apreciadores poderão conferir os espaços do teatro-monumento após a finalização da primeira etapa de obras de conservação e recuperação.

Mesa-redonda

No Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, às 19h30, uma mesa-redonda com o tema "Nordeste: matriz cultural do Brasil" discutirá, a partir da experiência e dos estudos de três diferentes nomes, o por quê da cultura nordestina ser tão original e forte em diferentes linguagens.

Irão compor a mesa o ator e diretor Sérgio Mamberti, o fotógrafo Tiago Santana e o presidente do Instituto Dragão, Paulo Linhares. O debate terá mediação do jornalista Plínio Bortolotti. Enquanto o antropólogo cearense Paulo Linhares trará o recorte do sertão do gado na antropologia cultural do Nordeste, o fotógrafo Tiago Santana, autor da recém-lançada publicação "Céu de Luiz" - em que traz as imagens do sertão que inspirou Luiz Gonzaga - apresentará ao público a força da imagem e da paisagem na construção do imaginário do Brasil. Sérgio Mamberti, que no período de 2003 a 2013, atuou no Ministério da Cultura como Secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, Presidente da Fundação Nacional de Artes e Secretário de Políticas Culturais, aposta numa discussão que valorize a cultura nordestina em detrimento da lógica distorcida instaurada na maior parte do País após as últimas eleições presidenciais.

"O debate proposto pelo Dragão do Mar é uma resposta a essas considerações tão preconceituosas e, ao mesmo tempo, uma reafirmação justamente de que o Brasil é muito mais amplo e mais rico, não sendo um país dividido", afirma.

Após o debate, às 21h30, atrações tipicamente nordestinas vão embalar o Dia Nacional da Cultura Brasileira, na Arena Dragão do Mar. A primeira atração é o Mestre Zé Pio, que trará a brincadeira de bumba meu boi, com vaqueiros, capitão índias, reis, rainhas. Sem contar a percussão bem nordestina de tambores, tarol, caixa, pandeiro, violão e as respostas das rimas improvisadas pelo Mestre da Cultura.

Depois, o grupo Descendentes da Índia Piaba tocarão seus tambores ancestrais e reviverão a selvagem guerreira através do estranho ritual da pajelança, misturando Pará e Ceará com a energia do Carimbó Punk. Dessa forma, portanto, serão encerradas as atividades do dia. Só não as da cultura. Essas permanecem; hoje e sempre.

Mais informações
Programações do Dia Nacional da Cultura, no Estoril (Rua dos Tabajaras, 359. Contato: 85 3235.4063); no Teatro Carlos Câmara (R. Senador Pompeu, 454. Contato: 85 3254.5552); no Sobrado Dr. José Lourenço (R. Maj. Facundo, 154. Contato: 85 3109.8826) e no Theatro José de Alencar (R. Liberato Barroso, 525. Contato: 85 3101.2583)