domingo, 23 de novembro de 2014

Meu livro, minha editora: os best-sellers da independência

Basta uma breve conferida na lista dos livros mais vendidos em sites de edições virtuais para perceber algo diferente no mercado editorial: autores completamente desconhecidos dividem as primeiras colocações, e a preferência dos leitores virtuais, com grandes nomes como José Saramago, Guimarães Rosa, Chico Buarque e romancistas populares como Charles Dickens e Sidney Sheldon.
São os autores autopublicados, que utilizam a internet para chegar a seus leitores, atuando à margem do mercado tradicional. A Amazon.Com.Br, filial brasileira da gigante multinacional - que se estabeleceu no País no final de 2012 -, estima que, nas listas de 100 obras mais vendidas, figure sempre uma média de 30 livros frutos de autopublicação.
Em fase "amadora" ou em início de carreira profissional, esses autores encontram na internet o acolhimento que, muitas vezes, não tiveram nos escritórios de grandes editoras. O modelo, aos poucos, ganha também adeptos entre escritores consolidados, em busca de novas maneiras de viabilizarem seus livros, e já nasce como aposta de grandes empresas.

Recentemente, jovens autores cearenses foram destaques entre os mais vendidos da Amazon. Dois deles, Gabriel Damasceno, com o livro "Nita Cairú e a espada de Gohayó"; e Kamile Girão, com os livros "Outubro" e "Yume", encontraram o sucesso pela primeira vez na autopublicação. A lista de mais vendidos, incluiu ainda uma obra da já premiada escritora cearense Tércia Montenegro, com "Meu destino exótico", livro escrito especialmente para a plataforma online.
Estreia
O caso de Gabriel é o mais recente e emblemático deste novo momento. Com apenas 16 anos e residindo em Banabuiú (a 221 km de Fortaleza), até o início do ano passado ele sequer pensava em ser escritor. Seu primeiro livro, "Nita Cariú" foi escrito nos primeiros meses de 2014, lançado julho em versão impressa por meio de uma editora que trabalha sob demanda. "Vi que, se ficasse só em livro físico, não iria chegar a canto nenhum. Tive que pagar por uma tiragem de 500 livros, que ainda estou vendendo de mão em mão", ilustra o adolescente sobre a primeira tentativa.
Em setembro passado, seu livro entrou em pré-venda pela Amazon e em outubro já estava nas listas de mais vendidos em diferentes países. "Dia 17 de setembro, foi o lançamento oficial, ainda na pré-venda. Consegui vender só quatro livros. Ou seja, fracasso total. Ai, decidi que não ia fazer mais nada. Não tinha futuro. Em outubro, fui olhar novamente como estavam as vendas, e para minha surpresa, tinha dinheiro na conta", narra Gabriel, que diz já ter encontrado o livro nas listas de mais vendidos na categoria infanto-juvenil da Itália, Canadá, EUA e Alemanha. "Eu creio que sejam brasileiros que moram no exterior que estão comprando", justifica, já que o livro está disponível apenas em português. Idealizada como o primeiro número de uma trilogia, a obra já tem data para ganhar uma sequência, que será lançada dia 11 de março de 2015.
Caminhos
"Conseguir editora é um processo complicado, especialmente se você procura uma editora de grande porte, que lance seu livro e arque com todos os custos", situa Kamile Girão, que em 2011 lançou seu primeiro livro, "Yume", também, em um primeiro momento, utilizando as vias tradicionais, publicando sob demanda.
"Não foi uma boa escolha publicar por editora de demanda. Não tive retorno financeiro, também não tive parecer de quantos livros foram vendidos. Em 2013, lancei meu segundo livro, 'Outubro'. Fui para outra editora por demanda e também fiz a mesma besteira. Só perdi menos dinheiro", lamenta a jovem escritora, hoje com 21 anos.
Ambos os livros de Kamile tiveram alcance inicial restrito. Sem controle da vendagem dos livros - que ficava a cargo da editora - e com limitações quanto a distribuição das obras, a autora conta que resolveu dar uma segunda chance a elas após ser apresentada à autopublicação. "Uma amiga minha, a Vanessa Bosso, que considero um dos expoente da autopublicação, conseguiu editora de grande porte começando por autopublicação. Por meio dela, me informei sobre como funcionava", narra a autora, sobre a iniciação no novo processo.
Kamile se diz satisfeita com a repercussão que teve o livro e já planeja para 2014 o lançamento de uma trilogia em diferentes plataformas de autopublicação. "Próximo mês ou em janeiro vou disponibilizar três contos. Quero lançar para Kindle, Kobo (leitores de e-books) e em PDF para leitura em computador ou tablets. E desta vez, vou disponibilizar no meu próprio blog. É ainda mais underground", comemora a escritora.
Fábio Marques
Repórter

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