segunda-feira, 3 de novembro de 2014

FUTURO PEEMEDEBISTA 'Caciques' perdem, mas sigla cresce

Partido viu importantes lideranças sofrerem derrotas, mesmo vencendo em sete Estados
Partido viu importantes lideranças sofrerem derrotas, mesmo vencendo em sete Estados
Foto: PMDB
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), criado em 15 de janeiro de 1980, mas com raízes no único partido de oposição ao regime militar, o MDB, viveu nas eleições deste ano um relativo paradoxo.
O partido viu importantes líderes sofrerem derrotas nas disputas eleitorais em 2014. As maiores delas aconteceram no Nordeste, embora a legenda tenha eleito dois governadores na região. A sigla, por outro lado, viu uma expansão no número de governadores, em relação ao pleito anterior, e continuou como uma das maiores forças no Congresso, tendo a segunda bancada na Câmara dos Deputados e a mais numerosa no Senado.
A partir de 2015, sete Estados serão governados por peemedebistas (em 2011 eram cinco), o maior número entre todos os partidos. Sessenta e seis deputados federais, dezenove senadores e um vice-presidente da República completam o poderio futuro do PMDB.

Panorama pós-pleito
No Maranhão, o destaque foi para o fim de uma hegemonia. A maior parte do eleitorado maranhense preferiu, ainda em primeiro turno, dar um mandato para Flávio Dino, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a apostar no peemedebista Edison Lobão Filho, herdeiro do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e apoiado pela governadora Roseana Sarney, filha do ex-presidente José Sarney.
Já no Rio Grande do Norte, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, foi derrotado pelo candidato Robinson Faria, do Partido Social Democrático (PSD).
A falta de apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), gerou visível descontentamento ao PMDB local e aparentemente já trouxe os primeiros reflexos no plano nacional, com a derrubada do projeto de regulamentação de conselhos populares na Câmara.
No Ceará, o ex-ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, enfrentou um adversário petista, o ex-secretário estadual da gestão Cid Gomes, Camilo Santana, e também perdeu.
Houve ainda derrotas peemedebistas marcantes no Piauí e na Paraíba, neste último caso envolvendo Vital do Rêgo Filho, presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga irregularidades na Petrobras e candidato a governador derrotado por Ricardo Coutinho (PSB).
No Nordeste, o PMDB, no entanto, teve desempenho superior ao de 2010, quando só elegeu a governadora do Maranhão. Desta vez, o partido venceu em Alagoas, com Renan Filho, herdeiro do presidente do Senado, Renan Calheiros, e em Sergipe, onde Jackson Barreto se reelegeu. Barreto havia assumido o governo daquele estado após a morte do petista Marcelo Déda, em 2013.
Em outras regiões, a sigla centrista também alternou vitórias com derrotas marcantes. No primeiro grupo, vale citar a eleição do candidato José Ivo Sartori, no Rio Grande do Sul, contra o governador Tarso Genro, do PT. O PMDB também venceu no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins e Rondônia.
Entre as derrotas estaduais peemedebistas, também podem ser incluídas o fim da hegemonia da família Barbalho no Pará, os fracassos de Roberto Requião, no Paraná, e de Eduardo Braga, no Amazonas, e o fracasso do candidato ao Senado pela Bahia, Geddel Vieira Lima.
O reflexo de resultados peemedebistas neste pleito assume, no entanto, caráter mais incerto quando se leva em consideração que o partido esteve desalinhado com seu principal aliado no plano nacional, o PT, em pelo menos 14 Estados. A fim de entender como a perda de redutos eleitorais tradicionais, contrabalançada pela expansão do PMDB em regiões outrora inacessíveis, vai influenciar os destinos da agremiação, o Diário do Nordeste ouviu analistas políticos de diversas regiões.
Significado das perdas
Falando especificamente do Nordeste, para o Doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edir Veiga Siqueira, "no Maranhão existia um longo tempo de dominância do grupo político ligado ao presidente Sarney. Esta derrota já vinha se desenhando". Ele pontua, no entanto, que "as derrotas do PMDB no Ceará e no Rio Grande do Norte não podem ser vistas como algo deletério ao PMDB, pelo contrário, tão somente comprova que este partido está munido de grandes lideranças estaduais e que se coloca, desde já, com enormes possibilidades para disputas eleitorais futuras. O PMDB nestas eleições demonstra enorme poder".
A também Doutora em Ciência Política, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), Christiane Romeo, ressalta que não é possível compreender os resultados obtidos pelo PMDB no Nordeste e no Brasil, sem levar em consideração, o apoio ou não que o partido recebeu do PT.
"As alianças feitas pelo PT foram muitas e, em alguns estados, a candidata Dilma subiu em vários palanques. Deve-se mencionar ainda a presença do Lula, cujo apoio ora se configurou pró-peemedebistas, ora contra", enfatiza a cientista política. Ela prossegue em sua comparação citando que "o exemplo do apoio de Lula ao senador Eduardo Braga reforça essa ideia. O mesmo apoio não foi dado ao presidente da Câmara dos Deputados".
Para a especialista, "as derrotas (...) induzem o PMDB a repensar seu papel como aliado".
Governabilidade depende do partido
Desde a redemocratização, todos os presidentes da República dependeram do apoio, em maior ou menor grau, do PMDB.
Esse vínculo profundo guarda relação em grande parte com o tamanho do partido, que normalmente elege um número elevado de senadores, deputados, vereadores, governadores e prefeitos. O partido herdou a imensa estrutura do MDB, criado em 1966, e que em suas duas primeiras décadas praticamente aglutinou todas as forças contra a ditadura, incluindo tendências de esquerda, centro e de direita.
No próximo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) não será diferente. A governabilidade, principalmente após o resultado apertado das urnas, dependerá da preservação das boas relações do Planalto com os peemedebistas.
O problema, na avaliação dos analistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, é que sobraram do período eleitoral muitas arestas a aparar entre o PMDB e a cúpula petista, bem como muitas divergências internas na sigla do vice-presidente da República, Michel Temer. Segundo o Doutor em História e ex-deputado federal Manuel Domingos Neto, "o PMDB nunca esteve unido, são raras as ocasiões em que ele esteve unido. O partido é amplo demais, diversificado demais. Não existe uma figura que consiga aglutinar essas tendências, contudo, o Temer é muito habilidoso e tem um posto muito destacado". O estudioso, que já foi filiado à sigla na década de 1980, disse, porém, que ainda não é possível saber "qual vai ser a extensão da participação do PMDB nos próximos quatro anos, no governo, até porque a gente não sabe ainda qual será a orientação prática da presidente com relação à gestão, ao relacionamento político (..) Nesse sentido, todos os partidos da base vão pressionar por cargos ou por espaço político no Congresso, mas como o PMDB é o maior de todos, vai ser, sem dúvidas, o partido com maior poder de pressão". Já o Doutor em Ciência Política, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Josênio Parente, explica que o "PMDB realmente tem um caráter diferente de partidos como o PT e o PSDB, pois é muito diversificado regionalmente. Há uma realidade no PMDB do Rio de Janeiro e outra no do Rio Grande do Sul, por exemplo. Mas, os candidatos peemedebistas derrotados no Nordeste e seus apoiadores devem, como se diz popularmente, estrebuchar e vão, ressentidos, retomar suas atividades no Congresso".
O pós-Doutor em História Social, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Rogério dos Santos Baía, acrescenta, por sua vez, que "as derrotas foram entendidas pela lógica regional. No plano nacional, o PMDB teve a estratégia de buscar uma hegemonia no Parlamento, onde ele conseguiu formar a segunda maior bancada na Câmara e a maior no Senado, liderando um conjunto importante de parlamentares e, por isso, ele quer as presidências das duas Casas, até como contraponto ao fato de o PT ter a presidência do Executivo".
Força da agremiação no NE oscila desde 1986
No segundo ano de mandato do então presidente José Sarney, na esteira do sucesso do Plano Cruzado, o PMDB conseguiu um fato praticamente único na história da democracia brasileira, elegeu todos os governadores estaduais, com exceção de Sergipe.
Após fazer oito governadores no Nordeste em 1986, o partido despencou no pleito seguinte e só elegeu um governador na região, mais precisamente o da Paraíba. Nas eleições de 1994 e 1998, o partido se fortaleceu e fez quatro governadores em cada uma das disputas. Já em 2002, só elegeu o governador de Pernambuco. Em 2006, os peemedebistas tiveram o pior desempenho do atual período político nordestino e não conseguiram eleger nenhum candidato.
Em 2010, a sigla conseguiu eleger a governadora do Maranhão e agora se prepara para governar Alagoas e Sergipe, com destaque para o fortalecimento de Renan Calheiros.
Presença renovada
Essa oscilação eleitoral, segundo o cientista político Edir Veiga Siqueira, da UFPA, tem sido a constante do partido na região.
Para o analista, "neste momento parece que o PMDB vem renovando sua presença nas disputas estaduais em todo o Brasil. Se o PMDB formular um projeto nacional rumo ao Planalto, creio que este partido começará a estabelecer planos imediatos de conquistas de prefeituras de grandes cidades e dos governos estaduais para 2018".
Michel Temer será 'fiel da balança' para base aliada
Quer seja para fortalecer o crescente desejo por poder de seu partido, o PMDB, quer seja para conter conflitos e divergências entre peemedebistas e o governo federal, o vice-presidente da República, Michel Temer, deve atuar como 'fiel da balança' no jogo político brasileiro, pelo menos nos próximos quatro anos.
Conforme lembra a cientista política Christiane Romêo, do IBMEC, "Temer tem se posicionado publicamente a favor da união do PMDB. Chegou até a falar de uma certa intolerância às dissidências. O PMDB, contudo, sempre foi um partido plural". Ela prossegue afirmando que "haver dissidências dentro do PMDB é algo absolutamente consentâneo (condizente) à sua própria origem". Contudo, a analista pontua que, "mesmo participando direta ou indiretamente da política nesses últimos anos, o PMDB é consciente de sua importância. Se for necessário romper com a Dilma (PT) para sobreviver, o partido o fará".
Nesse sentido, a cientista política destaca que "Michel Temer sabe que, se houver crise de governabilidade, a saída está não somente nas mãos do partido como nas dele".
Já o historiador Paulo Baía, da UFRJ, ressalta que "a bancada peemedebista em sua maioria está alinhada com ele". Baía também pondera que, embora Temer tenha falado em punir peemedebistas dissidentes, "ele aceitou as articulações que têm o objetivo de eleger Eduardo Cunha, presidente da Câmara".
Adriano Queiroz
Repórter
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