Partido viu importantes lideranças sofrerem derrotas, mesmo vencendo em sete Estados
Foto: PMDB
|
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), criado em 15 de
janeiro de 1980, mas com raízes no único partido de oposição ao regime
militar, o MDB, viveu nas eleições deste ano um relativo paradoxo.
O partido viu importantes líderes sofrerem derrotas nas disputas
eleitorais em 2014. As maiores delas aconteceram no Nordeste, embora a
legenda tenha eleito dois governadores na região. A sigla, por outro
lado, viu uma expansão no número de governadores, em relação ao pleito
anterior, e continuou como uma das maiores forças no Congresso, tendo a
segunda bancada na Câmara dos Deputados e a mais numerosa no Senado.
A partir de 2015, sete Estados serão governados por peemedebistas (em
2011 eram cinco), o maior número entre todos os partidos. Sessenta e
seis deputados federais, dezenove senadores e um vice-presidente da
República completam o poderio futuro do PMDB.
Panorama pós-pleito
No Maranhão, o destaque foi para o fim de uma hegemonia. A maior parte
do eleitorado maranhense preferiu, ainda em primeiro turno, dar um
mandato para Flávio Dino, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a
apostar no peemedebista Edison Lobão Filho, herdeiro do ministro de
Minas e Energia, Edison Lobão, e apoiado pela governadora Roseana
Sarney, filha do ex-presidente José Sarney.
Já no Rio Grande do Norte, o atual presidente da Câmara dos Deputados,
Henrique Eduardo Alves, foi derrotado pelo candidato Robinson Faria, do
Partido Social Democrático (PSD).
A falta de apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido
dos Trabalhadores (PT), gerou visível descontentamento ao PMDB local e
aparentemente já trouxe os primeiros reflexos no plano nacional, com a
derrubada do projeto de regulamentação de conselhos populares na Câmara.
No Ceará, o ex-ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, enfrentou
um adversário petista, o ex-secretário estadual da gestão Cid Gomes,
Camilo Santana, e também perdeu.
Houve ainda derrotas peemedebistas marcantes no Piauí e na Paraíba,
neste último caso envolvendo Vital do Rêgo Filho, presidente da Comissão
Parlamentar de Inquérito que investiga irregularidades na Petrobras e
candidato a governador derrotado por Ricardo Coutinho (PSB).
No Nordeste, o PMDB, no entanto, teve desempenho superior ao de 2010,
quando só elegeu a governadora do Maranhão. Desta vez, o partido venceu
em Alagoas, com Renan Filho, herdeiro do presidente do Senado, Renan
Calheiros, e em Sergipe, onde Jackson Barreto se reelegeu. Barreto havia
assumido o governo daquele estado após a morte do petista Marcelo Déda,
em 2013.
Em outras regiões, a sigla centrista também alternou vitórias com
derrotas marcantes. No primeiro grupo, vale citar a eleição do candidato
José Ivo Sartori, no Rio Grande do Sul, contra o governador Tarso
Genro, do PT. O PMDB também venceu no Rio de Janeiro, Espírito Santo,
Tocantins e Rondônia.
Entre as derrotas estaduais peemedebistas, também podem ser incluídas o
fim da hegemonia da família Barbalho no Pará, os fracassos de Roberto
Requião, no Paraná, e de Eduardo Braga, no Amazonas, e o fracasso do
candidato ao Senado pela Bahia, Geddel Vieira Lima.
O reflexo de resultados peemedebistas neste pleito assume, no entanto,
caráter mais incerto quando se leva em consideração que o partido esteve
desalinhado com seu principal aliado no plano nacional, o PT, em pelo
menos 14 Estados. A fim de entender como a perda de redutos eleitorais
tradicionais, contrabalançada pela expansão do PMDB em regiões outrora
inacessíveis, vai influenciar os destinos da agremiação, o Diário do
Nordeste ouviu analistas políticos de diversas regiões.
Significado das perdas
Falando especificamente do Nordeste, para o Doutor em Ciência Política e
professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edir Veiga Siqueira,
"no Maranhão existia um longo tempo de dominância do grupo político
ligado ao presidente Sarney. Esta derrota já vinha se desenhando". Ele
pontua, no entanto, que "as derrotas do PMDB no Ceará e no Rio Grande do
Norte não podem ser vistas como algo deletério ao PMDB, pelo contrário,
tão somente comprova que este partido está munido de grandes lideranças
estaduais e que se coloca, desde já, com enormes possibilidades para
disputas eleitorais futuras. O PMDB nestas eleições demonstra enorme
poder".
A também Doutora em Ciência Política, do Instituto Brasileiro de
Mercado de Capitais (IBMEC), Christiane Romeo, ressalta que não é
possível compreender os resultados obtidos pelo PMDB no Nordeste e no
Brasil, sem levar em consideração, o apoio ou não que o partido recebeu
do PT.
"As alianças feitas pelo PT foram muitas e, em alguns estados, a
candidata Dilma subiu em vários palanques. Deve-se mencionar ainda a
presença do Lula, cujo apoio ora se configurou pró-peemedebistas, ora
contra", enfatiza a cientista política. Ela prossegue em sua comparação
citando que "o exemplo do apoio de Lula ao senador Eduardo Braga reforça
essa ideia. O mesmo apoio não foi dado ao presidente da Câmara dos
Deputados".
Para a especialista, "as derrotas (...) induzem o PMDB a repensar seu papel como aliado".
Governabilidade depende do partido
Desde a redemocratização, todos os presidentes da República dependeram do apoio, em maior ou menor grau, do PMDB.
Esse vínculo profundo guarda relação em grande parte com o tamanho do
partido, que normalmente elege um número elevado de senadores,
deputados, vereadores, governadores e prefeitos. O partido herdou a
imensa estrutura do MDB, criado em 1966, e que em suas duas primeiras
décadas praticamente aglutinou todas as forças contra a ditadura,
incluindo tendências de esquerda, centro e de direita.
No próximo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) não será
diferente. A governabilidade, principalmente após o resultado apertado
das urnas, dependerá da preservação das boas relações do Planalto com os
peemedebistas.
O problema, na avaliação dos analistas ouvidos pelo Diário do Nordeste,
é que sobraram do período eleitoral muitas arestas a aparar entre o
PMDB e a cúpula petista, bem como muitas divergências internas na sigla
do vice-presidente da República, Michel Temer. Segundo o Doutor em
História e ex-deputado federal Manuel Domingos Neto, "o PMDB nunca
esteve unido, são raras as ocasiões em que ele esteve unido. O partido é
amplo demais, diversificado demais. Não existe uma figura que consiga
aglutinar essas tendências, contudo, o Temer é muito habilidoso e tem um
posto muito destacado". O estudioso, que já foi filiado à sigla na
década de 1980, disse, porém, que ainda não é possível saber "qual vai
ser a extensão da participação do PMDB nos próximos quatro anos, no
governo, até porque a gente não sabe ainda qual será a orientação
prática da presidente com relação à gestão, ao relacionamento político
(..) Nesse sentido, todos os partidos da base vão pressionar por cargos
ou por espaço político no Congresso, mas como o PMDB é o maior de todos,
vai ser, sem dúvidas, o partido com maior poder de pressão". Já o
Doutor em Ciência Política, da Universidade Estadual do Ceará (Uece),
Josênio Parente, explica que o "PMDB realmente tem um caráter diferente
de partidos como o PT e o PSDB, pois é muito diversificado
regionalmente. Há uma realidade no PMDB do Rio de Janeiro e outra no do
Rio Grande do Sul, por exemplo. Mas, os candidatos peemedebistas
derrotados no Nordeste e seus apoiadores devem, como se diz
popularmente, estrebuchar e vão, ressentidos, retomar suas atividades no
Congresso".
O pós-Doutor em História Social, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Paulo Rogério dos Santos Baía, acrescenta, por sua vez,
que "as derrotas foram entendidas pela lógica regional. No plano
nacional, o PMDB teve a estratégia de buscar uma hegemonia no
Parlamento, onde ele conseguiu formar a segunda maior bancada na Câmara e
a maior no Senado, liderando um conjunto importante de parlamentares e,
por isso, ele quer as presidências das duas Casas, até como contraponto
ao fato de o PT ter a presidência do Executivo".
Força da agremiação no NE oscila desde 1986
No segundo ano de mandato do então presidente José Sarney, na esteira
do sucesso do Plano Cruzado, o PMDB conseguiu um fato praticamente único
na história da democracia brasileira, elegeu todos os governadores
estaduais, com exceção de Sergipe.
Após fazer oito governadores no Nordeste em 1986, o partido despencou
no pleito seguinte e só elegeu um governador na região, mais
precisamente o da Paraíba. Nas eleições de 1994 e 1998, o partido se
fortaleceu e fez quatro governadores em cada uma das disputas. Já em
2002, só elegeu o governador de Pernambuco. Em 2006, os peemedebistas
tiveram o pior desempenho do atual período político nordestino e não
conseguiram eleger nenhum candidato.
Em 2010, a sigla conseguiu eleger a governadora do Maranhão e agora se
prepara para governar Alagoas e Sergipe, com destaque para o
fortalecimento de Renan Calheiros.
Presença renovada
Essa oscilação eleitoral, segundo o cientista político Edir Veiga Siqueira, da UFPA, tem sido a constante do partido na região.
Para o analista, "neste momento parece que o PMDB vem renovando sua
presença nas disputas estaduais em todo o Brasil. Se o PMDB formular um
projeto nacional rumo ao Planalto, creio que este partido começará a
estabelecer planos imediatos de conquistas de prefeituras de grandes
cidades e dos governos estaduais para 2018".
Michel Temer será 'fiel da balança' para base aliada
Quer seja para fortalecer o crescente desejo por poder de seu partido, o
PMDB, quer seja para conter conflitos e divergências entre
peemedebistas e o governo federal, o vice-presidente da República,
Michel Temer, deve atuar como 'fiel da balança' no jogo político
brasileiro, pelo menos nos próximos quatro anos.
Conforme lembra a cientista política Christiane Romêo, do IBMEC, "Temer
tem se posicionado publicamente a favor da união do PMDB. Chegou até a
falar de uma certa intolerância às dissidências. O PMDB, contudo, sempre
foi um partido plural". Ela prossegue afirmando que "haver dissidências
dentro do PMDB é algo absolutamente consentâneo (condizente) à sua
própria origem". Contudo, a analista pontua que, "mesmo participando
direta ou indiretamente da política nesses últimos anos, o PMDB é
consciente de sua importância. Se for necessário romper com a Dilma (PT)
para sobreviver, o partido o fará".
Nesse sentido, a cientista política destaca que "Michel Temer sabe que,
se houver crise de governabilidade, a saída está não somente nas mãos
do partido como nas dele".
Já o historiador Paulo Baía, da UFRJ, ressalta que "a bancada
peemedebista em sua maioria está alinhada com ele". Baía também pondera
que, embora Temer tenha falado em punir peemedebistas dissidentes, "ele
aceitou as articulações que têm o objetivo de eleger Eduardo Cunha,
presidente da Câmara".
Adriano Queiroz
Repórter
Repórter
Nenhum comentário:
Postar um comentário