Camilo Santana, eleito governador do Ceará e com posse programada para jameiro. conversou com editores do O POVO na manhã da última quarta-feira, em seu apartamento, EDIMAR SOARES |
Camilo Santana entrou na política em 2000 como candidato, na época
pelo PSB, à prefeitura de Barbalha, no Cariri, a 553 km de Fortaleza.
Perdeu, voltou a ser derrotado quatro anos depois, em nova tentativa, já
no PT, e, no momento em que se prepara para tomar posse no cargo de
governador do Estado, faz uso dos episódios que sempre vai para as
disputas sabendo que pode ganhar ou perder.
A
principal referência dele na vida pública é o pai, ex-deputado Eudoro
Santana, a quem viu ser retirado de casa por militares durante a
ditadura, numa cena que o marcou e ainda nos atuais passeia por sua
memória. Outro referencial importante para Camilo é o governador que
sucederá, Cid Gomes, de quem foi secretário de Desenvolvimento Agrário
(primeira gestão) e Cidades (segunda). Único dos quatro filhos de Eudoro
e dona Ermengarda a optar pela vida pública, admite que enfrentou a
resistência da avó, morta dois anos atrás, para trilhar o caminho da
política. Ela alertava para o risco de se expor a ataques na vida
particular, exatamente como diz ter sofrido nesta campanha.
Camilo
recebeu O POVO em seu apartamento, na manhã da última quarta-feira,
para conversa que tem seus trechos principais editados a seguir:
O POVO - O senhor lembra do momento em que foi comunicado pelo governador de que seria o candidato?
Camilo Santana -
Foi no sábado, pela manhã (28 de junho). Ele me ligou e disse que o
conjunto de partidos havia me indicado para representá-lo na disputa...
OP -
E disse “sim” de imediato? Camilo - Perguntei se estava à altura de
cumprir a missão. Porque, realmente, era uma coisa muito forte, até pelo
fato de existirem vários outros candidatos se colocando à disposição. É
um desprendimento, porque não era alguém do partido dele. Demonstração
de que o projeto não é uma coisa só partidária ou só individual.
OP -
No dia em que foi lançada sua candidatura, o senhor lembrou do dia em
que militares chegaram à sua casa para levar preso seu pai, Eudoro
Santana, na época da ditadura. De que forma esse episódio e a trajetória
dele lhe marcaram?
Camilo - Papai é, pra mim, um
exemplo, uma referência de vida, de política. Papai era funcionário da
Petrobras, morava lá na Bahia, foi demitido na época da ditadura,
perseguido. Voltou a morar no Cariri porque meus avós conseguiram um
emprego para ele lá. Ele passou 15 ou foi 18 dias fora. Minha mãe estava
grávida. Lembro da volta dele. Aquilo tudo me marcou, tinha sete, oito
anos.
OP - O senhor consegue entender porque é o único dos quatro filhos que seguiu a vocação política do pai?
Camilo -
A atuação política de cada um pode ser vista de várias formas. Meu
irmão, Tiago, contribui muito com a arte pela maneira como olha o mundo,
como fotógrafo. A minha irmã, apesar de morar fora do País, também.
Claro que o ramo mais árduo é esse, de seguir carreira pública, porque a
política partidária é muito desacreditada. Minha avó sempre dizia para
eu não entrar nessa vida. Dizia que iriam me chamar de ladrão. E eu
dizia: “Vovó, se não existirem pessoas dispostas a construir a
diferença, como vamos mudar?”
OP – O senhor falou da importância do Eudoro para a vida pública, mas a dona Ermengarda, sua mãe, também tem sido relevante.
Camilo –
Claro, inclusive porque mamãe é mais política do que o papai. Ela foi
vice-prefeita de Barbalha, começou um trabalho importante de organização
das comunidades, das associações, de base mesmo. Apesar de ter
resistido muito à ideia de ser candidata. Chegou a chorar.
OP –
O governador Cid, quando eleito, trabalhou para atrair a oposição. O
senhor pretende conversar com o PMDB e com o resto da oposição?
Camilo –
Nós temos um lado. Fomos eleitos por um lado. Quando falo de unir o
Ceará, falo do ponto de vista de todos os cearenses. Faremos um governo
de muito diálogo com setores da sociedade. Isso não quer dizer que não
vá dialogar com os outros partidos.
OP – Houve uma fissura na antiga base do governo, com a saída do PMDB. O senhor está preparado para ter uma oposição maior?
Camilo –
Oposição é importante. Até para se fazer uma autoavaliação. Espero que
seja uma oposição responsável, propositiva. Não oposição raivosa por
conta da derrota eleitoral. Oposição é parte da democracia. Não na
perspectiva de disputa de poder ou espaço, mas na busca do melhor pro
Ceará.
OP – O senhor falou, após eleito, em
retomar o diálogo com os policiais. Na opinião do senhor, vai ser mais
fácil do que seria para o governador Cid Gomes retomar esse diálogo, em
função do desgaste que houve?
Camilo – É um novo
governo. E, repeti isso diversas vezes, o papel da Polícia é garantir a
segurança do povo do. Vou saber respeitar, dialogar. Agora, não vou
admitir que não se garanta cumprir a missão que o povo espera.
OP –
Há reclamações quanto a punições que têm ocorrido em relação a
policiais. O senhor fala que não vai transigir em relação a garantir a
segurança da população. Há margem para rever as punições?
Camilo –
Em todas as áreas há excessos, desvios. Vamos exigir que a lei, a
hierarquia, a disciplina sejam cumpridas. Isso não quer dizer que não
vamos dialogar.
OP – Outro desafio será
pacificar o PT. Houve segmentos importantes, dos quais faz parte a
ex-prefeita Luizianne Lins, que não reconheceram a candidatura como
candidatura do PT. Como o senhor pretende atuar?
Camilo –
Eu não gosto muito de falar do passado, mas a minha decepção é que essa
parte do PT não pensou no projeto político. Todo mundo sabe quem é
Camilo, todo mundo sabe de minha história. Fui militante com a Luizianne
na universidade. Acho que a política e a vida partidária não podem ser
feitas em nome ou de uma tendência ou de interesses individuais. Quando
foi decidido que o Elmano (de Freitas) seria candidato (a prefeito de
Fortaleza, em 2012), respeitei, fui pra campanha. Isso é ético dentro da
política. Mas vamos falar de futuro.
OP – O senhor vai tomar alguma iniciativa, ou já tomou?
Camilo –
Eu liguei para a Luizianne quando ela foi eleita. Para parabenizá-la.
Pedi o apoio no segundo turno. Não tenho problema. Espero que o partido,
como me deu apoio na decisão do diretório estadual, possa também dar o
suporte necessário (no governo).
OP – Como o senhor se sente com o PT, no âmbito municipal, fazendo oposição à gestão Roberto Cláudio?
Camilo –
Tem vários municípios do Ceará onde o PT é oposição ao Pros, onde o PT
briga com o PMDB. Essa coisa é muito específica. Vamos trabalhar essa
questão ainda.
OP – O fato de estar assim hoje não quer dizer que vai estar assim em 2016?
Camilo –
Só daqui a dois anos. O prefeito Roberto Cláudio me apoiou, apoiou a
presidenta Dilma. Isso não é importante para o projeto do PT nacional?
Não existiu uma campanha, talvez, no Brasil que fosse mais vinculado o
governador, o prefeito da Capital e a presidenta Dilma do que a nossa
aqui.
OP – Vou comparar o estilo mais
pessoal. O senhor diria que os fotógrafos vão sentir falta do estilo Cid
Gomes, com o senhor? Como no mergulho que ele deu nos braços da
multidão durante a festa do primeiro turno? O senhor é mais contido que
ele.
Camilo – Isso é bom... Pode ser que eu surpreenda mais ainda (risos).
Extras
Filhos
Os dois filhos, de 4 e 2 anos,nem ai para a gente estranha presente, foram para os braços do pai. No meio da entrevista.
Segurança
O prédio onde mora Camilo Santana, em Fortaleza, já está com segurança reforçada por homens da Casa Militar.
Bom humor
Charges
dos jornais nas quais Camilo aparece decoram a parede da sala do
apartamento. Quem cuida da moldura é a mãe, Ermengarda.
Guálter George
gualter@opovo.com.br
Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário