Conforme o Atlas de Mortalidade por Câncer do Brasil, em dez anos, as neoplasias de brônquios e pulmões no Ceará vêm registrando taxas de mortalidade crescentes a cada ano, já se consolidando na segunda posição entre os tumores mais fatais |
Ontem foi a data em que os esforços de órgãos de saúde em todo o Brasil
concentram-se na tarefa de ampliar o conhecimento e a conscientização
da sociedade a respeito do câncer. O calendário marcava 27 de novembro, o
Dia Nacional de Combate ao Câncer. Nos últimos anos, os avanços no
tratamento da doença foram notáveis, mas em termos de prevenção e
diagnóstico, ainda há muito a progredir. E esses dois fatores foram
determinantes no aumento das taxas de mortalidade ocasionado por alguns
tipos de tumor no Ceará, em especial os de brônquios e pulmões.
A informação foi revelada no Atlas de Mortalidade por Câncer do Brasil,
levantamento divulgado nesta semana pelo Ministério da Saúde e pelo
Instituto Nacional do Câncer (Inca). Segundo o documento, em um período
de 10 anos, de 2002 a 2012, quase todos os cânceres de maior incidência
entre os cearenses, como o de mama, próstata e estômago, tiveram alta no
risco de morte, apresentando leves variações anuais, mas mantendo a
média.
No entanto, no mesmo intervalo de tempo, as neoplasias de brônquios e
pulmões vêm registrando taxas de mortalidade crescentes a cada ano, já
se consolidando na segunda posição entre os tumores mais fatais tanto em
homens quanto em mulheres. Em 2002, a taxa de óbito relacionada aos
tumores entre a população masculina era de 8,86 para cada 100 mil
homens. Dez anos depois, em 2012, este número chegou a 12,22.
Preocupante
Entre a população feminina, a elevação foi ainda mais preocupante.
Passou de 5,06 mortes para cada 100 mil mulheres em 2002, para 9,20 em
2012. O motivo do aumento não é surpresa, segundo Reginaldo Costa,
superintendente clínico do Instituto do Câncer do Ceará (ICC). De acordo
com o médico, o tabagismo está por trás da grande maioria dos casos de
carcinomas brônquicos e pulmonares.
Ele explica que, ao mesmo tempo em que novos remédios e terapias foram
criados para conter a doença, muito pouco se fez para tentar preveni-la.
"Ao contrário do câncer de próstata, por exemplo, vemos poucas
campanhas para parar de fumar", diz.
O aumento considerável da mortalidade feminina pode ser atribuída,
conforme o superintendente, à disseminação do fumo entre as mulheres,
consequência indireta de sua ascensão e emancipação social e financeira
na sociedade. De acordo com informações do Inca, as mulheres fumantes de
dois ou mais maços de cigarro por dia têm 20 vezes mais chances de
morrer de câncer de pulmão do que as que não fumam.
O Atlas da Mortalidade por Câncer foi atualizado nos meses de julho e
agosto deste ano. No documento, estão catalogados dados desde 1979 até
2012. O levantamento aponta que, no Ceará, os cinco cânceres mais comuns
no sexo feminino em 2012 foram de mama, brônquios e pulmões, estômago,
cólon de útero, e fígado e vias biliares intra-hepáticas. Já entre os
homens, a neoplasia de próstata é mais frequente, seguida por brônquios e
pulmões, estômago, esôfago e laringe.
Destes, conforme o Atlas, apenas os tumores de estômago nos homens e do
cólon do útero nas mulheres tiveram redução na taxa de mortalidade em
uma década. Todos os outros tipos de câncer ficaram mais fatais. O
desafio, segundo Reginaldo Costa, ainda é prevenção, acesso à rede de
saúde e diagnóstico precoce.
O superintendente do ICC destaca, contudo, que é importante observar as
tendências dos últimos anos. De 2009 em diante, alguns cânceres
apresentaram variações para menos, sugerindo que o risco de morte de
tumores como o de próstata, por exemplo, pode estar diminuindo. "Hoje,
fazer um exames é muito mais fácil do que antigamente e, junto com isso,
existe melhora das terapias cirúrgicas e, principalmente, de quimio",
frisa.
Vanessa Madeira
Repórter
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