O açude Castanhão encontra-se atualmente em situação crítica
FOTO: ELLEN FREITAS
|
Sobral. Nesse segundo semestre, o nível dos açudes no
Estado já caiu mais 4%. No mês de Agosto, a média geral do Ceará era de
28%, contra os 24% atuais. Dos 114 açudes monitorados pela Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), mais de 60 estão
abaixo de 10% de sua capacidade, sendo que as piores situações se
encontram no Sertão de Crateús e Sertão Central, com alguns dos
reservatórios já completamente vazios, ou abaixo de 0,5%. Apenas o Açude
Gavião, no Município de Pacatuba, apresenta mais de 90% de sua
capacidade.
É possível que o volume médio dos açudes em dezembro chegue a 20% em
decorrência da perda por evaporação e consumo, que é mais intenso nesse
período do ano. No início de junho passado, o acumulado era de 32%. Após
o fim da quadra chuvosa (fevereiro a maio) houve uma redução de 9% na
média geral dos reservatórios. O Ceará enfrenta três anos seguidos de
seca e 113 açudes estão com volume inferior a 30%.
No fim da estação chuvosa de 2013, o volume médio acumulado no Estado
era de 42%. No início deste ano estava em 31,20%. Isso significa que
houve uma redução em torno de 11%, ao longo do segundo semestre de 2013.
São dados comparativos que servem de projeção para este ano. No fim da
quadra chuvosa deste ano, o nível médio dos açudes era de 32%.
Decorridos cinco meses, o índice caiu para 24%.
O Estado vivenciou baixo volume acumulado nos açudes em 1992 e 1993,
mas naquela época não havia o Açude Castanhão e o reservatório Orós, que
era o maior do Estado, chegou a ter volume inferior a 5%. A Companhia
de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) faz monitoramento e simulações
periódicas para definir, juntamente com outros órgãos, medidas a serem
adotadas, como a implantação de adutoras, transferência e controle de
liberação de água.
Das 12 bacias monitoradas pela Cogerh as situações mais críticas se
encontram em Crateús, com 2,8%; Curu com 5,9% e Baixo Jaguaribe, com
7,6%. Já a que está em melhores condições de abastecimento é a Bacia da
Serra da Ibiapaba, com 40,1% de sua capacidade.
Na região do Sertão de Crateús, o Açude Carnaubal, é o principal de
abastecimento da cidade. Atualmente, está com volume de 170.000 m³ da
sua capacidade total, que é de 80.65 hm³, o que representa 0,21% da sua
capacidade máxima. Já a Barragem do Batalhão, outro açude da Cidade, tem
volume de 700.000 m³ com capacidade total para 1.55 hm³. Está com
volume de 45.03% da sua capacidade máxima, porém, possui uma capacidade
de armazenamento bem inferior ao Carnaubal. O Açude Sucesso, em
Tamboril, no Sertão de Crateús já secou.
Uma adutora está prevista para reforçar o abastecimento da região,
saindo do Açude Araras, em Varjota, e atendendo a Crateús e Nova Russas,
a 150 quilômetros de distância. A previsão inicial do governo para
entrega é Dezembro.
Na Bacia do Vale do Curu, os açudes Desterro, no município de Caridade;
Jerimum, em Irauçuba; e São Domingos, em Caridade, também secaram. Os
açudes São Mateus e Souza, em Canindé, se encontram com 0,76% e 0,06%
respectivamente.
Emergência
Todos os 21 município da região Jaguaribana pediram apoio auxiliar à
Defesa Civil do Estado, por meio de decreto de situação de emergência. O
principal objetivo é abastecer as comunidades rurais, diante da
estiagem que deixou vários pequenos açudes secos. No caso do município
de Potiretama, faltou água também na sede, que desde o começo do ano vem
sendo abastecida por caminhões-pipa. O açude Potiretama, que abastecia o
município, secou em dezembro do ano passado.
A região possui duas bacias. A primeira é a do Médio Jaguaribe, onde há
13 açudes. Sua capacidade é de 7,3 milhões de metros cúbicos e está
apenas com dois milhões de metros cúbicos, 28% da sua capacidade. Nesta
bacia está o Açude Castanhão, com 30,25% da sua capacidade. A segunda é a
bacia do Baixo Jaguaribe, que conta com apenas um açude, no município
de Russas. Este se encontra com apenas 4,3% da sua capacidade total.
As cidades que do Baixo Jaguaribe são abastecidas pelo Rio Jaguaribe,
que, por sua vez, recebe água do Castanhão e do Açude Banabuiú. A cota
desses dois açudes mantém os rios da região perenes e asseguram a
agricultura irrigada.
As cidades de Iguatu e de Acopiara, na região Centro-Sul do Ceará, são
abastecidas por água do Açude Trussu, localizado no distrito de
Suassurana, zona rural de Iguatu. O reservatório está com 52% de sua
capacidade. De acordo com o Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto
(SAAE), responsável pelo tratamento e distribuição de água para Iguatu. O
nível atual assegura abastecimento por mais de um ano. "A nossa
situação é regular, mas a população precisa economizar", disse o
diretor, Edval Lavor. "Vamos esperar para que, na próxima quadra
invernosa, em 2015, ocorram boas chuvas".
Moradores de Itatira já precisam racionar
Itatira. Os municípios do Sertão Central sofrem com a
possibilidade de desabastecimento. A projeção de técnicos da Defesa
Civil que monitoram os açudes da região é de que, caso não chova, os
açudes sequem completamente nos próximos meses. Nesta cidade, donos de
residências e empresas já foram solicitados a reduzir voluntariamente a
água que utilizam, e o Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar)
realiza medidas obrigatórias de racionamento que são impostas aos
moradores.
O açude João Guerra, que atende cerca de 10 mil pessoas no distrito de
Lagoa do Mato, vai demorar para se recuperar caso chova dentro da média
histórica na região das represas do sistema no próximo ano. Simulações
mostram que o reservatório deve secar nos próximos meses. A Defesa Civil
considera o nível do reservatório pelo volume atual, com 8% de sua
capacidade, útil, mas a reserva deve alcançar níveis insuficientes para
abastecer a população deixando o distrito itatirense em colapso hídrico.
De acordo com o coordenador da defesa civil em Itatira, Antonio Armando
da Silva, mesmo com algumas chuvas registradas no início do ano, vários
reservatórios de Itatira vêm atingindo índices cada vez mais baixos.
"As bacias que alimentam vários sistemas não possuem mais água ou já
secaram. O município passa por uma crise sem precedentes", diz. Ele
lembra que, no início do ano, o reservatório João Guerra se encontrava
com 15% de sua capacidade. O índice de armazenamento de água no sistema
caiu para 8% neste mês. Trata-se do menor patamar registrado desde que o
açude foi construído. "A queda no nível do João Guerra é resultado da
falta de chuva", explica.
A possibilidade de colapso está forçando grandes mudanças de
comportamento. Moradores já começaram a reduzir drasticamente os banhos
de chuveiro, a lavagem de carros e as regas de calçadas. A moradora do
conjunto habitacional, Elenice Ferreira Sales, afirma que há oito dias
está sem água devido ao racionamento. "Está tudo seco e temos que pegar
água em um tanque comunitário. A situação está muito difícil. Temos que
pedir a Deus que mande chuva", diz.
A auxiliar administrativa do Sisar, Evanilda de Paiva Alves, explica
que existem locais em Lagoa do Mato onde o abastecimento realmente
enfrenta dificuldades por causa do baixo volume do reservatório.
Jéssyca Marques / Sucursais
Colaboradora
Colaboradora
Nenhum comentário:
Postar um comentário