Um dos principiais tópicos citados por Dilma Rousseff durante seu
discurso depois de declarada reeleita no último domingo, a reforma
política tem como ponto mais sensível o financiamento das campanhas
eleitorais. De acordo com O Globo, o sucesso das campanhas, cada vez
mais caras, está diretamente ligado ao volume de recursos que elas
movimentam, sobretudo a dos parlamentares. É o que apontam resultados
preliminares de pesquisas que estão em andamento no Brasil apresentadas
na manhã de quarta-feira em um grupo de trabalho dedicado ao tema no
Encontro Anual da Associação Nacional de Pos-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG).
O fim das contribuições presidenciais para as campanhas, prestes a
ser sacramentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), altera
substancialmente a forma como as campanhas eleitorais se organizam hoje.
Um estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que
tenta mapear as redes de financiamento dos partidos com base nos dados
da eleição de 2010 mostra que a participação de pessoas físicas nas
listas de doadores não é tão pequena como se imagina. Foram 212,5 mil em
2010, quase 80% do total. No entanto, as 22,5 mil empresas que
contribuíram com as campanhas responderam por 75% de tudo o que foi
arrecadado pelos comitês financeiros dos candidatos e dos partidos
naquela eleição, cerca de R$ 3 bilhões. Outro estudo, da Unicamp, mostra
que apenas 15 empresas responderam por 32,5% de tudo o que foi doado
oficialmente para as campanhas em 2010, uma concentração que os
especialistas esperam se repetir na prestação final de contas das
eleições deste ano.
O trabalho apresentado por Rodrigo Rossi Horochovski, pesquisador da
UFPR, revela que as redes de financiamento dos partidos não envolvem
apenas as empresas e os doadores individuais. Há também os repasses de
um partido para outro, por meio de coligações, e para os candidatos, por
critérios que não são claros. Dessa forma, os recursos das empresas
envolvem numa mesma rede partidos antagônicos, como PT e PSDB, já que a
lógica empresarial é distribuir recursos entre os partidos mais fortes,
com maior chance de vitória. Já o dinheiro doado por pessoas físicas
estabelece redes cuja organização está mais ligada ao espectro
ideológico das legendas.
— Os agentes partidários atuam como intermediadores, distribuindo
majoritariamente recursos oriundos das empresas, que também fazem suas
contribuições diretamente aos candidatos. Nessa rede, não existe a
dimensão ideológica. Os partidos mais conectados são PT e PSDB. Há
muitos pontos de encontro entre doadores e partidos de tendências
opostas — explicou Horochovski. — O agrupamento é por desempenho
eleitoral, que se confirma no resultado. Ou seja: quem manda nas
eleições são as empresas. Elas estabelecem quem é eleito.
Nesse sentido, acrescenta o pesquisador, a viabilidade eleitoral de
um candidato ou de um partido está ligada à participação nessa rede de
financiamento, que é operacionalizada por meio das coligações. Isso
ajuda a explicar a disciplina com que parlamentares ou partidos pequenos
seguem líderes partidários no Congresso para formar maiorias, por
exemplo. Os políticos infiéis ficam marginalizados dessas redes e têm
menos chance de se reeleger.
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