Fazenda em Santa Quitéria, administrada pelo Detran, abriga
jumentos abandonados nas rodovias. Uipa doa milho para os animais
FOTO: EDUARDO APARÍCIO
|
Fortaleza. Na biografia de São Francisco de Assis -
Francisco Giovanne de Pietro de Bernardone - são ressaltados muitos
momentos de sua vida em que o respeito ao meio ambiente é valorizado e
classificado como parte da espiritualidade que vivenciou. É por isso que
a Igreja Católica Apostólica Romana (Icar) elegeu São Francisco como
Padroeiro da Ecologia e foi introduzido no calendário uma data exclusiva
para lembrar os animais: 4 de outubro. Filho de Pietro Bernardone,
próspero comerciante de tecidos e Pica Bernardone, doméstica, Francisco
nasceu na cidade de Assis (Itália ). As comemorações como o Patrono da
Ecologia tiveram início em 1931 em um Congresso Ambiental quando foi
escolhido o dia 4 de outubro como o Dia de São Francisco. Este homem
santo que falava com plantas, pássaros, nuvens, flores, fundou a Ordem
Monástica dos Franciscanos. Em 3 de outubro de 1226, no bosque de
Porciúncula, adoeceu gravemente. No dia seguinte veio a falecer, aos 44
anos de idade.
Miss Margareth Ford, famosa protecionista dos animais, conseguiu que
São Francisco de Assis fosse reconhecido pelo Movimento Internacional
Protetor dos Animais, como o Santo Padroeiro dos Animais e daí instituiu
como o Dia Universal dos Animais, 4 de outubro, dia do falecimento de
Francisco, ao invés da data de nascimento, por duas razões: por ser
desconhecida a data de seu nascimento e porque Francisco dizia: " É
morrendo que se nasce para a vida eterna".
Francisco possuía faculdades espirituais elevadas. Convivia imensamente
com habitantes do plano invisível; podia tranquilamente entrar em
sintonia com Deus e dialogar com Ele. Versado em poesia, as existências
eram um poema que fala de bichos, flores e bosques.
Diz a história que, certa ocasião, um pescador trouxe um pássaro
marinho. Francisco aceito-o, abriu suas mãos e deixou-o voar. Um outro
pescador trouxe-lhe um peixe vivo. Francisco o pôs de volta na água do
lago. Ele falava com as andorinhas, pregava aos pássaros. Tão grande era
o amor de Francisco pela cotovia e outros pássaros que ele, numa
ocasião, disse em palavras ternas, tocantes: "Quão feliz eu seria se
todos os prefeitos das cidades e todos os senhores dos castelos e vilas
prometessem, solenemente, todos os anos, num dia sagrado como o dia do
nascimento de Nosso Senhor, induzir seus homens a espalhar seu trigo e
seus grãos pelas estradas além das cidades e vilas de forma que nossas
irmãs cotovias, e outros pássaros, pudessem ter em abundância para
comer".
Este homem que abriu as portas do amor confesso aos animais e plantas,
espírito abençoado que veio ao mundo para professar o amor à natureza, a
obra divina, muitas vezes incompreendido e até "chamado de louco", teve
sua palavra ouvida e entendida pelos animais e convenceu a todos que,
ao olharmos uma floresta, devemos olhar cada árvore. A dedicação desse
filho de Deus maravilhoso que possibilitou com sua persistência,
estarmos hoje, explicitando nossa forma de amar, era tamanha, que,
conta-se, chamava seu corpo de "irmão Jumento", sendo rude e carrasco
com este, obrigando-se como animal a carregar sobre seus ombros duros
pesados fardos, como penitência, além de - como os jumentos - passar
fome. Enquanto isso, com esse animal foi tão brando, meigo e carinhoso
que, quando os encontrava nas estradas ou ladeiras íngremes, dirigia-se
cordialmente ao dono do animal, para pedir que minorasse aquela carga
tão pesada que machucava aquele corpo que carregou Jesus e Maria
Santíssima e, nas ladeiras, chegava mesmo a ajudar o pobre animal a
carregar o seu fardo. Questionado porque havia abandonado tudo de
material, respondeu: "Um trovador de Deus, não deve possuir além de sua
harpa". Apaixonado pela natureza, tudo era seu irmão: "Meu irmão sol,
minha irmã borboleta". Era a própria ecologia em pessoa, tudo estava
interligado: "Entre eu, as coisas e os seres não deve haver distância ou
distinções substanciais, estou me diluindo em Deus. Se Deus está em
tudo também eu estarei progressivamente". Certa vez, quando Francisco
orava, muitas andorinhas adentraram no recinto e ele falou:
"Agradabilíssima é a viagem que faço pelos trilhos de meu mundo
interior! Quanto mais avanço no camboio, mais me enterneço com a beleza
das paisagens". Confidenciava a amigos: "Entendo a vida dos pássaros,
dos peixes, das plantas e de tudo enfim". Observava a essência das
coisas e percebia os sentimentos mais íntimos nos corações das pessoas.
No ano de 2000, elaboramos um projeto de lei sobre a viabilidade de se
instituir em todo o Estado do Ceará, a Semana Educacional de Proteção
aos Animais e o entregamos a um deputado estadual para que fosse
apresentado na Assembleia Legislativa. Após os trâmites legais, o
projeto de lei, sancionado, foi transformado na Lei nº 13.077, de 13 de
dezembro de 2000, ficando, pois, estabelecido, dentre outras
providências, autorização para a Secretaria da Educação Básica a
instituir a Semana Educacional de Proteção aos Animais, realizada
anualmente com encerramento festivo no dia 4 de outubro, podendo buscar a
cooperação dos serviços veterinários estaduais, promover programas
educativos nas escolas públicas no ensino médio e fundamental,
estabelecer convênios com entidades protetoras de animais ou outras
instituições públicas ou privadas que desejem colaborar nas festividades
oficiais, visando difundir conhecimentos gerais sobre o convívio com os
animais, divulgando as leis que os protegem.
Fique por dentro
A União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) é presidida no Ceará
pela advogada Geuza Leitão. A entidade é pioneira no Estado na defesa
dos direitos das espécies, sejam cães, gatos e até jumentos. Neste ano,
iniciou um trabalho de apoio alimentar aos jumentos da Fazenda Dr. Paula
Rodrigues, administrada pelo Detran no município de Santa Quitéria.
A Uipa conta com verba da ONG francesa One Voice e envia seu voluntário
Eduardo Aparício na compra do milho e destinação aos animais. Na última
semana, a Uipa também começou nova parceria, desta vez com a The Donkey
Sanctuary, do Reino Unido, para ampliar as ações de proteção aos
jumentos abandonados nas rodovias do Estado e levados para a fazenda do
Detran.
Geuza Leitão*
Especial para o Regional
Especial para o Regional
*Presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) no Estado do Ceará
Nenhum comentário:
Postar um comentário