terça-feira, 30 de setembro de 2014

São Francisco é destaque no Dia Universal dos Animais

Fazenda em Santa Quitéria, administrada pelo Detran, abriga jumentos abandonados nas rodovias. Uipa doa milho para os animais
Fazenda em Santa Quitéria, administrada pelo Detran, abriga jumentos abandonados nas rodovias. Uipa doa milho para os animais
FOTO: EDUARDO APARÍCIO
Fortaleza. Na biografia de São Francisco de Assis - Francisco Giovanne de Pietro de Bernardone - são ressaltados muitos momentos de sua vida em que o respeito ao meio ambiente é valorizado e classificado como parte da espiritualidade que vivenciou. É por isso que a Igreja Católica Apostólica Romana (Icar) elegeu São Francisco como Padroeiro da Ecologia e foi introduzido no calendário uma data exclusiva para lembrar os animais: 4 de outubro. Filho de Pietro Bernardone, próspero comerciante de tecidos e Pica Bernardone, doméstica, Francisco nasceu na cidade de Assis (Itália ). As comemorações como o Patrono da Ecologia tiveram início em 1931 em um Congresso Ambiental quando foi escolhido o dia 4 de outubro como o Dia de São Francisco. Este homem santo que falava com plantas, pássaros, nuvens, flores, fundou a Ordem Monástica dos Franciscanos. Em 3 de outubro de 1226, no bosque de Porciúncula, adoeceu gravemente. No dia seguinte veio a falecer, aos 44 anos de idade.
Miss Margareth Ford, famosa protecionista dos animais, conseguiu que São Francisco de Assis fosse reconhecido pelo Movimento Internacional Protetor dos Animais, como o Santo Padroeiro dos Animais e daí instituiu como o Dia Universal dos Animais, 4 de outubro, dia do falecimento de Francisco, ao invés da data de nascimento, por duas razões: por ser desconhecida a data de seu nascimento e porque Francisco dizia: " É morrendo que se nasce para a vida eterna".

Francisco possuía faculdades espirituais elevadas. Convivia imensamente com habitantes do plano invisível; podia tranquilamente entrar em sintonia com Deus e dialogar com Ele. Versado em poesia, as existências eram um poema que fala de bichos, flores e bosques.
Diz a história que, certa ocasião, um pescador trouxe um pássaro marinho. Francisco aceito-o, abriu suas mãos e deixou-o voar. Um outro pescador trouxe-lhe um peixe vivo. Francisco o pôs de volta na água do lago. Ele falava com as andorinhas, pregava aos pássaros. Tão grande era o amor de Francisco pela cotovia e outros pássaros que ele, numa ocasião, disse em palavras ternas, tocantes: "Quão feliz eu seria se todos os prefeitos das cidades e todos os senhores dos castelos e vilas prometessem, solenemente, todos os anos, num dia sagrado como o dia do nascimento de Nosso Senhor, induzir seus homens a espalhar seu trigo e seus grãos pelas estradas além das cidades e vilas de forma que nossas irmãs cotovias, e outros pássaros, pudessem ter em abundância para comer".
Este homem que abriu as portas do amor confesso aos animais e plantas, espírito abençoado que veio ao mundo para professar o amor à natureza, a obra divina, muitas vezes incompreendido e até "chamado de louco", teve sua palavra ouvida e entendida pelos animais e convenceu a todos que, ao olharmos uma floresta, devemos olhar cada árvore. A dedicação desse filho de Deus maravilhoso que possibilitou com sua persistência, estarmos hoje, explicitando nossa forma de amar, era tamanha, que, conta-se, chamava seu corpo de "irmão Jumento", sendo rude e carrasco com este, obrigando-se como animal a carregar sobre seus ombros duros pesados fardos, como penitência, além de - como os jumentos - passar fome. Enquanto isso, com esse animal foi tão brando, meigo e carinhoso que, quando os encontrava nas estradas ou ladeiras íngremes, dirigia-se cordialmente ao dono do animal, para pedir que minorasse aquela carga tão pesada que machucava aquele corpo que carregou Jesus e Maria Santíssima e, nas ladeiras, chegava mesmo a ajudar o pobre animal a carregar o seu fardo. Questionado porque havia abandonado tudo de material, respondeu: "Um trovador de Deus, não deve possuir além de sua harpa". Apaixonado pela natureza, tudo era seu irmão: "Meu irmão sol, minha irmã borboleta". Era a própria ecologia em pessoa, tudo estava interligado: "Entre eu, as coisas e os seres não deve haver distância ou distinções substanciais, estou me diluindo em Deus. Se Deus está em tudo também eu estarei progressivamente". Certa vez, quando Francisco orava, muitas andorinhas adentraram no recinto e ele falou: "Agradabilíssima é a viagem que faço pelos trilhos de meu mundo interior! Quanto mais avanço no camboio, mais me enterneço com a beleza das paisagens". Confidenciava a amigos: "Entendo a vida dos pássaros, dos peixes, das plantas e de tudo enfim". Observava a essência das coisas e percebia os sentimentos mais íntimos nos corações das pessoas.
No ano de 2000, elaboramos um projeto de lei sobre a viabilidade de se instituir em todo o Estado do Ceará, a Semana Educacional de Proteção aos Animais e o entregamos a um deputado estadual para que fosse apresentado na Assembleia Legislativa. Após os trâmites legais, o projeto de lei, sancionado, foi transformado na Lei nº 13.077, de 13 de dezembro de 2000, ficando, pois, estabelecido, dentre outras providências, autorização para a Secretaria da Educação Básica a instituir a Semana Educacional de Proteção aos Animais, realizada anualmente com encerramento festivo no dia 4 de outubro, podendo buscar a cooperação dos serviços veterinários estaduais, promover programas educativos nas escolas públicas no ensino médio e fundamental, estabelecer convênios com entidades protetoras de animais ou outras instituições públicas ou privadas que desejem colaborar nas festividades oficiais, visando difundir conhecimentos gerais sobre o convívio com os animais, divulgando as leis que os protegem.
Fique por dentro
A União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) é presidida no Ceará pela advogada Geuza Leitão. A entidade é pioneira no Estado na defesa dos direitos das espécies, sejam cães, gatos e até jumentos. Neste ano, iniciou um trabalho de apoio alimentar aos jumentos da Fazenda Dr. Paula Rodrigues, administrada pelo Detran no município de Santa Quitéria.
A Uipa conta com verba da ONG francesa One Voice e envia seu voluntário Eduardo Aparício na compra do milho e destinação aos animais. Na última semana, a Uipa também começou nova parceria, desta vez com a The Donkey Sanctuary, do Reino Unido, para ampliar as ações de proteção aos jumentos abandonados nas rodovias do Estado e levados para a fazenda do Detran.
Geuza Leitão*
Especial para o Regional
*Presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) no Estado do Ceará

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