A estátua tinha um tom de bronze próximo à cor da pele morena. Um
inquérito civil foi aberto para apurar a responsabilidade da Prefeitura
Foto: Fernanda Siebra
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Personagem de um dos romances do escritor cearense José de Alencar, a
índia Iracema foi homenageada em diversos locais da Capital. Considerada
ícone cultural de Fortaleza, uma das estátuas da heroína, na Lagoa da
Messejana, está pintada da cor verde. Entretanto, muitos moradores e a
população indígena não concordam com a tonalidade. Assim, o Ministério
Público Federal (MPF) emitiu uma nota técnica que solicita a mudança da
coloração da imagem.
O monumento foi analisado pelo antropólogo e perito Sérgio Brissac. De
acordo com o documento do MPF, a cor verde recebida pela estátua, que
desde a sua instalação, em 2004, era revestida de um tom bronze próximo à
cor da pele morena, estimularia a "discriminação ou ridicularização
étnica".
Foi aberto um inquérito civil sobre a responsabilidade administrativa
da Prefeitura de Fortaleza quanto à pintura de cor verde da Estátua de
Iracema. Os órgãos zeladores da imagem devem comparecer à sede da
Procuradoria da República a fim de solucionar a questão que envolve o
atentado ao monumento de Iracema, além do contexto cultural da "musa do
Ceará", relacionado à obra de José de Alencar.
Segundo uma nota à imprensa do pesquisador Adauto Leitão de Araújo
Júnior, nos autos, constam 80 assinaturas de indígenas. Quem primeiro
assinou foi a cacique Pequena, da etnia Jenipapo-Kanindé, que por ser
mulher, entenderia o que mais ofende o vilipêndio a Iracema.
Alguns moradores questionados fizeram menção à estátua de forma
pejorativa. "A fala espontânea de alguns cidadãos entrevistados pelo
representante, que se referiam à Estátua de Iracema de forma
depreciativa e tendendo ao ridículo, como, por exemplo, 'mulher do Hulk'
e extraterrestre", constata na nota técnica.
Pedagógica
Ainda de acordo com o perito, o problema com a cor da estátua é mais
profundo. "Compreendo que há uma dimensão pedagógica em questão. Cumpre
ressaltar que o preconceito em relação aos povos indígenas no Ceará
muitas vezes se manifesta no uso de termos depreciativos ou insinuações
que relacionam expressões culturais indígenas com algo ridículo",
afirma.
O documento considera que faz sentido discutir para que esse símbolo da
presença indígena no Estado, a Estátua de Iracema, seja "legível",
compreensível para o cidadão comum, o que implica apresentá-la na cor da
pele morena dos povos indígenas.
Em nota, a Secretaria Regional VI informa que ainda não foi notificada
oficialmente quanto à nova data da audiência da qual vai participar,
visto que houve um adiamento da programação. Ademais, somente poderá
expor seu posicionamento após a tomada de conhecimento dos autos
processuais que serão expostos na audiência.
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