O deputado Lula Morais conversa com o seu colega João Jaime,
durante a sessão da última terça-feira, no grupo em que estão os
deputados Tin Gomes e Ely Aguiar, momentos após o seu aparte a Fernando
Hugo
FOTO: JOSÉ LEOMAR
|
Deputados estaduais cearenses que fizeram denúncias sobre a compra de
votos na disputa eleitoral no Ceará estão querendo voltar atrás em seus
posicionamentos e afirmaram ter dito, no plenário da Assembleia, o que
souberam através de boataria nas ruas. A acusação com maior gravidade
foi feita pelo deputado Lula Morais (PCdoB), que chegou a dizer que
havia candidato a deputado federal que estava utilizando dinheiro do
assalto ao Banco Central, em Fortaleza, para financiar a campanha.
Lula Morais foi enfático na afirmação, em aparte ao deputado Fernando
Hugo. Ele não disse ter ouvido falar e afirmou que um dos candidatos a
deputado federal está comprado votos lavando dinheiro do Banco Central,
no que foi advertido por colegas sobre a gravidade da denúncia que
fazia.
Ely Aguiar (PSDC), Fernando Hugo (SD), Lula Morais (PCdoB) e o deputado
federal Chico Lopes (PCdoB) vão ser notificados, se já não os foram,
pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), representado pelo procurador
regional eleitoral, Rômulo Conrado, que quer apurar as denúncias feitas
durante a última sessão ordinária na Assembleia Legislativa, na
terça-feira passada. Durante a plenária, os três deputados estaduais
reclamaram de compra de votos que está sendo feita em todo o Interior do
Estado, motivo da notificação do procurador eleitoral.
Tribuna
O deputado Lula Morais afirmou que ele não chegou a dizer que candidato
estava fazendo "lavagem" com dinheiro oriundo do roubo do Banco
Central, mas que apenas replicou boatos que estavam sendo feitos nos
lugares em que ele visitava. No entanto, durante discussão na Assembleia
Legislativa, ele denunciou, sim, que um postulante ao cargo de deputado
federal estaria "lavando dinheiro do Banco Central" para comprar votos.
Ele chegou a dizer, no aparte ao pronunciamento do deputado Fernando
Hugo, que estava à disposição do Ministério Público (MP) para dar mais
detalhes do derrame de dinheiro do referido candidato.
No entanto, Morais agora diz que vai conversar com seu advogado e terá
cautela para tratar do assunto. "Não pode extrapolar. Mas quando eu
chego na rua é o que dizem. As pessoas falam que todo político é ladrão,
mas eu não sou. É só você andar na rua que o 'cabra' diz que estão
comprando voto ali", afirmou. Segundo disse, não é papel dele, como
deputado, na tribuna da Assembleia Legislativa (ele não usou a tribuna,
fez a denúncia da sua própria bancada) dizer nome de pessoas
supostamente envolvidas no esquema.
"É um assunto sigiloso que deveria permanecer no sigilo. Não é assunto
para estar divulgando, mas é para estar sendo motivo para pesquisa
sigilosa do Ministério Público. Ele sabe muito bem fazer isso. Isso
precisa ser investigado", disse o parlamentar, que ainda afirmou que não
terá nenhum problema em tratar do assunto quando a notificação chegar
até seu gabinete.
O tema central da discussão na última terça-feira foi a falta de
consciência política de eleitores durante o pleito eleitoral, que
segundo disse Fernando Hugo, estaria vendendo seus votos para "políticos
corruptos". O parlamentar, quando confrontado por Lula Morais, chegou a
declarar que uma candidata a deputada do PCdoB estaria "descendo a
Serra Grande distribuindo dinheiro".
"Ainda não fui notificado, mas eu informarei a eles que a função do
Ministério Público é investigar, e eles podem correr no campo, porque eu
não sou Polícia nem promotor de Justiça. Eu não tenho nada com essa
frase seríssima que o Lula Morais disse, não tenho nada a ver com isso",
apontou.
Dirigente de partido
Já o deputado Ely Aguiar (PSDC) criticou a matéria do Diário do
Nordeste e disse que não afirmou que sabia dos boatos de que um
candidato a deputado federal estaria "lavando" dinheiro do roubo do
Banco Central, mas que fez apenas um questionamento sobre as acusações
de Morais.
"A denuncia foi feita pelo Lula Morais, e eu, na hora que ele fez a
denúncia, disse que pelo que eu entendi, o deputado Lula Morais está
dizendo que é dinheiro do roubo do Banco Central. Eu não denunciei. Eu
apenas questionei. Se eu tivesse essas informações, eu não apartearia o
colega para dizer isso", afirmou. Ely, naquela ocasião, reforçou a
denúncia da compra de votos e disse que até partido era vendido por
dirigente.
O parlamentar afirmou que não vai atender a convocação do procurador
eleitoral. "Eu não vou pisar nem lá. Ele que mande pegar a fita com as
imagens da sessão para ver. Como eu vou ser inquirido por uma informação
que não dei? A Polícia Federal passou a vida toda procurando esses
caras, como é que eu vou saber quem são?", questionou.
Único deputado federal notificado pelo procurador para prestar
esclarecimentos sobre denúncias de compra de votos, Chico Lopes disse
que no Interior do Estado está havendo "uma confusão muito grande" no
que diz respeito à compra de votos. "Eu não fiz citação nem citei nomes,
falei como qualquer pessoa normal faria. Eu acho que o papel do
Ministério Público Eleitoral é esse mesmo. Mas eu não acusei ninguém,
até porque não tenho provas e não sou 'dedo duro'", afirmou o
parlamentar.
Lopes disse ainda que essas denúncias só são feitas porque o momento
político é de muita tensão entre os candidatos e ressaltou que o
Ministério Público Eleitoral poderia ter aberto uma investigação sem
precisar de denúncias feitas por políticos ou ter que convocar os
parlamentares para depor a respeito do caso. "Mas eu vou, tranquilamente
e calmo. Não tenho relacionamento estreito com o Interior, mas fiquei
preocupado com as informações de venda de voto no Interior", afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário