Débora posa em frente à residência universitária, no bairro Benfica, onde mora CAMILA DE ALMEIDA/ESPECIAL PARA O POVO |
Desde o domingo 27 de julho, Débora Ingrid está vivendo entre a realidade e o sonho. Em sua primeira atuação num longa-metragem – o drama A História da Eternidade –, ela levou o prêmio de melhor atriz no 6º Paulínia Film Festival, numa disputa que incluía Deborah Secco e Fernanda Montenegro. Quando o nome de Ingrid foi chamado no Theatro Municipal Paulo Gracindo, onde acontecia a premiação, ela só baixou a cabeça e chorou. Alguém por perto soprava: “Vai, menina. Estão te chamando”.
Último filme a ser exibido no festival que encerrou dia 27 de julho, A história da eternidade foi o grande vencedor e a surpresa da mostra internacional. Levou os prêmios da crítica, melhor filme, diretor (Camilo Cavalcante), ator (Irandhir Santos) e atriz para as três protagonistas – Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora. Para esta última, o prêmio foi elastecido com o comentário do crítico Artur Xexéo, publicado no O Globo. “É uma luz que faz a tela brilhar. Uma Sônia Braga! Uma Dira Paes! Uma força juvenil que toma conta de cada plano em que está incluída”, escreveu o jornalista, também integrante do júri de Paulínia.
Ao lembrar as palavras de Xexéo e a comparação com mulheres que marcaram tipos tão brasileiros, Débora Ingrid ri envergonhada deixando transparecer a timidez. “Ainda estou assimilando isso. Mas fico muito feliz. Tenho muito orgulho de parecer nordestina, de ser tão sertaneja”, afirma, agora com o rosto sério. Em A História da Eternidade, a atriz de 21 anos, nascida em Russas (160km de Fortaleza), interpreta Alfonsina, uma menina de 15 anos, moradora de uma comunidade perdida em algum ponto sob o sol escaldante do Nordeste. Seu sonho é conhecer o mar. Emprestando sua simplicidade interiorana à personagem, a atriz descobriu seu mar ainda na infância.
Débora Ingrid Barbosa Dimas Casemiro conheceu o teatro aos oito anos de idade. Na época, Russas não tinha sequer palco para apresentações, mas ela ficou sabendo que o grupo Oficarte estava recebendo inscrições. “Meu primeiro papel foi como uma burrinha, que entrava para cantar uma música”, lembra a atriz que confessa não ter recordações da estreia. Uma nova peça viria depois, agora com mais falas, mais pesquisa e era ela a primeira a entrar em cena. “Lembro muito do frio na barriga. Até hoje sinto isso. Prova que a coisa ainda está viva aqui dentro. Eu preciso disso”, revela.
Nesse primeiro contato com o teatro, Ingrid foi acompanhada da irmã, que não permaneceu no grupo. A mãe, Maria de Lurdes, vendedora de jornais, deu força, desde que a filha não descuidasse dos estudos. “Uma vez, fui fazer uma apresentação no (Theatro) José de Alencar e fiquei a véspera sem dormir. Ela vinha e dizia: ‘se você não dormir, não deixo mais você viajar’”, relembra. O pai, separado da família, era quem via tudo com mais desconfiança. Mais ainda quando Ingrid diminuiu o número de visitas por conta dos compromissos com o teatro.
Quando tinha a idade de Alfonsina, sua personagem, Ingrid estava voltando para Russas, depois de um ano morando em Fortaleza. A temporada na Capital foi fruto de um concurso para atuar num comercial para a TV. O prêmio era uma bolsa para estudar no Colégio Espaço Aberto, onde conheceu o grupo teatral de Hiroldo Serra.
Marcos Sampaio marcossampaio@opovo.com.br
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