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| Rachel de Queiroz: livro contribui para a fortuna crítica de um dos clássicos do romance regionalista |
Pesquisa minuciosa, associado ao trabalho de resgate
linguístico-literário, a fim de apresentar às novas gerações o texto
original da primeira edição do romance "O Quinze", da autora cearense
Rachel de Queiroz (1910 - 2003), escrito em 1930. Em edição ricamente
ilustrada, acompanhada por fotografias e 11 ensaios, o livro "Um novo
olhar sobre O Quinze de Rachel de Queiroz", edição bilíngue
português-alemão de "O Quinze", lançado em junho, vem cumprindo dois
papéis importantes.
O primeiro, proporciona ao leitor o contato com edições originais de
obras literárias, a exemplo da copia do original do livro expressa ao
longo do romance, em português e alemão. O segundo, trata-se de
apresentar a construção da narrativa histórica da autora, transportando o
leitor para o contexto histórico, linguístico, político e social da
época, pontua a professora Maria Elias Soares, do Departamento de Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Ceará (UFC), uma das responsáveis
pela organização do trabalho. A empreitada de fôlego foi dividida com a
professora Ingrid Schwamborn, assina a primeira tradução da obra para o
alemão, em 1978, e o presidente da Academia Cearense de Letras, José
Augusto Bezerra. A tradução coube a José Gomes de Magalhães e
Schwamborn.
"Encostado a uma jurema secca, defronte ao joazeiro que a foice dos
cabras ia pouco a pouco mutilando, Vicente dirigia a distribuição de
rama verde ao gado". O trecho, mais do que expor o texto conciso, direto
e limpo da autora, serve para evidenciar a escrita da época, 1930,
quando começava o movimento da Literatura de 30 ou romance regionalista.
"Embora a narrativa de Rachel não seja panfletário, revela uma visão do
contexto social", explica Maria Elias Soares.
Ela não se insere diretamente na estética da Literatura de 30, a
exemplo da autores como José Américo de Almeida e José Lins do Rego, que
denunciavam problemas como a falta de desenvolvimento do Nordeste. No
entanto, "O Quinze", que tem como temática a seca de 1915, expressa
questões sociais e políticas relacionadas à região. Como quando Chico
Bento vai pegar o bilhete de trem, para viajar e não recebe, deixando
claro indícios de corrupção, atenta Maria Elias. O livro fala da questão
da migração forçada dos nordestinos. No começo, para a Amazônia, como
desejava Chico Bento.
"As escolas recomendam a leitura da obra, mas não sei como exploram
essas possibilidades que ela constrói". Tanto no que diz respeito ao
contexto sócio-político quanto linguístico, chamando a atenção para a
narrativa da autora. Ao longo do texto são empregadas palavras que não
são mais usadas atualmente. Algumas, fazem parte apenas do repertório de
pessoas mais idosas ou que tenham contato com o universo do sertão, no
sentido do interior.
A professora destaca a particularidade da escrita da autora,
impressionando, na época a primeira edição, em 1930, a crítica da região
Sudeste, em especial, a paulista. "Todos os críticos famosos do período
pensavam se tratar de texto escrito por um homem, sobretudo devido à
pouca idade da romancista". Explica que a intenção era fazer o
lançamento da obra no centenário da nascimento da escritora, mas não foi
possível, atribuindo ao extenso trabalho de pesquisa. A tradutora,
Ingrid Schwamborn, divide-se entre o Ceará e a cidade de Bonn, Alemanha.
A tradução levou bastante tempo, fazendo referência às particularidades
de expressões e nomes de plantas da região, por exemplo. "São muitas
informações", argumenta, informando que desde quando fez a primeira
tradução da obra para o alemão, em 1978, o vocabulário foi alterado.
"Agora, está mais acostumada com o português".
Além de 11 ensaios, a obra apresenta um glossário com termos regionais.
"As pessoas jovens não conhecem grande parte dos nomes", ressalta Maria
Elias Soares, que começou sozinha a tarefa de "traduzir" as palavras e
expressões. Também assina o ensaio "Aspectos da linguagem regional em "O
Quinze", de Rachel de Queiroz".
FIQUE POR DENTRO
Tradutora publicou dicionário
A berlinense Ingrid Schwamborn mantém uma relação de amor e curiosidade
intelectual com o Brasil há mais de quatro décadas. Além da língua
portuguesa e da literatura brasileira, a pesquisadora têm se dedicado a
temas que estabeleçam uma ponte entre a Alemanha e o Brasil. Um dos
esforços mais recentes neste sentido – além de sua versão para o
clássico “O Quinze”, de Rachel de Queiroz – é o livro “Futebol com
Tatu-bola/ Fussball mit Tatu-Bola”, um dicionário português-alemão
especializado em expressões do universo do esporte mais popular do
mundo. Ingrid Schwamborn organizou o volume com Rodrigo Castro, João
Soares Neto e Hans-Jürgen Fiege. A obra foi lançada pela Editora
Tatu-Bola, com assessoria técnica da Associação Caatinga, responsável
pelas informações acerca do animal da fauna cearense, ameaçado de
extinção, que foi escolhido pela Fifa como mascote da Copa do Mundo de
2014.
Livro
Um novo olhar sobre ‘O Quinze’ de Rachel de Queiroz
Maria Elias Soares, Ingrid Schwamborn e José Augusto Bezerra (orgs.)
Edições UFC
2014, 483 páginas
R$ 50
Iracema Sales
Repórter
Repórter

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