Marina Lopes - Porvir
Soia Lira e Débora Ingrid no curta metragem Doce de coco, do diretor Alan Deberton |
Desde o dia 27 de junho, o uso de recursos
audiovisuais passou a ser obrigatório em escolas da educação básica de todo o
país. Uma
nova regra, que passou a integrar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, determina a exibição de filmes nacionais por, no mínimo, duas horas
mensais, como componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica
da escola. Para contribuir com o cumprimento da legislação, o Porvir conversou
com especialistas em audiovisual e educação para reunir algumas dicas de como
trabalhar o cinema na sala de aula.
O uso de filmes na escola pode ser um elemento importante para trabalhar
outros formatos e linguagens com os alunos. Segundo a doutora em ciências da
comunicação Cláudia Mogadouro, pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação
da USP, ainda existe na escola um descompasso muito grande entre a cultura
letrada e a cultura audiovisual.
Para Djalma Ribeiro Junior, doutorando em educação e técnico de laboratório
audiovisual da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a lei é importante
para trazer à tona o debate sobre a importância do audiovisual na educação. “A
proposta é interessante, mas deve ser olhada em uma perspectiva mais ampla. Os
filmes não podem ser usados apenas para cobrir horários de aula. Eles precisam
estar integrados na proposta pedagógica escolar”, destacou. Confira algumas
propostas que o Porvir reuniu com base nas conversas com os especialistas:
1. É fundamental fazer o planejamento da atividade
Antes de exibir um filme para os alunos, é necessário realizar um
planejamento. Segundo Cláudia Mogadouro, é importante que o professor escolha
uma obra que leve em conta o repertório dos alunos. Em alguns casos, o educador
deve preparar uma aula introdutória para que a classe consiga ter uma
compreensão maior sobre o contexto do filme.
2. O tempo da aula deve ser levado em conta durante a escolha do filme
De acordo com Ribeiro Junior, o professor precisa escolher um filme que se
encaixe no seu horário de aula. Em muitos casos, os curtas podem ser uma boa
alternativa. No entanto, para a pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação
da USP, os longas também podem ser exibidos com um planejamento adequado.
Segundo ela, alguns filmes têm conteúdos interdisciplinares que podem ser
trabalhados durante diferentes aulas.
Se o tempo não for suficiente, o professor pode dividir o conteúdo em duas
aulas ou apenas selecionar alguns trechos. No entanto, para fazer isso ele deve
prestar muita atenção. “Alguns filmes podem ser cortados; outros, não”, advertiu
Cláudia, ao destacar que existem casos que necessitam a exibição da obra
completa para não perder a unidade do roteiro. Em histórias que envolvem
suspense, por exemplo, uma quebra pode ser prejudicial.
3. A exibição deve ser acompanhada de um debate
Após exibir o filme, uma boa sugestão é fazer uma discussão sobre a obra com
os alunos. “O debate é fundamental para a construção do conhecimento”, defendeu
a doutora e pesquisadora Cláudia Mogadouro. Se não sobrar tempo para realizar
esse debate, o educador pode levantar algumas questões de reflexão e retomar o
conteúdo na próxima aula.
Para técnico de laboratório audiovisual da UFSCar, o debate não precisa
envolver apenas questionamentos relacionados ao conteúdo do filme. Ele pode
estabelecer relações com as matérias trabalhadas em sala de aula. Além disso,
também é possível usar a obra para fazer uma discussão sobre a própria linguagem
audiovisual, observando a estrutura narrativa, construção do roteiro, cenas e
planos de filmagem.
4. As obras audiovisuais podem proporcionar releituras
“O filme é uma obra que tem muitas camadas de leitura. Ele pode ser utilizado
para trabalhar com uma série de desdobramentos”, apontou Cláudia. Dentro dessa
perspectiva, os educadores podem propor atividades como a reprodução de cenas do
filme e a criação de trabalhos de artes plásticas.
Baseado em experiências dos projetos desenvolvidos pela UFSCar dentro de
escolas da região, o pesquisador Ribeiro Junior também apontou a possibilidade
dos alunos produzirem seus próprios conteúdos audiovisuais. “Isso representa uma
forma dos estudantes se apropriarem da linguagem audiovisual”, pontuou. “A
participação pode contribuir para a formação de uma visão mais crítica.”
5. A escolha dos filmes deve levar em conta a classificação indicativa
Antes de exibir um filme, os professores devem olhar a classificação
indicativa e observar se o conteúdo está adequado para a faixa etária dos seus
alunos. Segundo Cláudia, isso também é um instrumento de segurança para o
educador. Caso os pais façam alguma reclamação sobre o filme, o professor tem
como afirmar que usou os parâmetros de classificação etária do Ministério da
Justiça.
6. As atividades não devem adquirir o peso de uma obrigação
As atividades propostas pelos professores não devem criar nos alunos
experiências traumáticas com os filmes. Em nenhum momento a atividade deve
adquirir o peso de uma obrigação. ”Se você apresentar a proposta como um dever
de casa, assistir o filme se torna uma tarefa chata”, afirmou Cláudia. Segundo
ela, quando o professor pede uma redação sobre a mensagem do filme, por exemplo,
ele acaba limitando o aluno de dar a sua opinião e o seu ponto de vista sobre a
obra, pois isso passa uma ideia de que só existe uma resposta correta.
“Cada um vai sentir o filme de forma diferente. O audiovisual é polissêmico”,
explicou. De acordo com ela, antes de propor qualquer atividade é ideal fazer um
debate para mostrar para os alunos que cada um pode ter uma opinião diferente
sobre o filme e que existem muitos caminhos para entender a obra.
7. As sessões de cinema também podem ser realizadas fora do horário de aula
Além da exibição de filmes nos horários de aula, Djalma Ribeiro Junior também
mencionou a possibilidade dos professores se organizarem para desenvolver
projetos de cineclubes na escola. Segundo ele, esses projetos ajudam a criar um
ambiente de diálogo que incentiva o interesse dos alunos. Eles podem selecionar
diversas obras para exibições e discussões dentro da escola. Esses projetos
também podem ser abertos para toda a comunidade, integrando pais e moradores
locais.
Para saber mais
Para os professores que desejarem buscar mais
informações sobre o tema, podem ser consultados alguns sites como: Porta Curtas, Portal do
Professor, Tela
Brasil, Cineduc, Net Educação e Cinead.
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