Zuzu Angel era figura incômoda ao regime militar JOÃO CARLOS MOURA, EM 20/10/1994 |
Em seu segundo depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o
ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Cláudio
Guerra, afirmou ontem que o coronel do Exército, Freddie Perdigão,
esteve na cena do acidente de carro que matou a estilista Zuzu Angel, em
1976, no Rio de Janeiro. Acrescentou que a morte dela foi provocada
pela ditadura militar.
De acordo com Guerra, Perdigão
lhe contou ter ficado preocupado porque foi fotografado próximo ao
local: “Ele (Perdigão) narrava para mim que ele tinha planejado,
obedecendo ordens, a simulação do acidente dela e que estava muito
preocupado porque havia sido fotografado, ele achava que era a perícia
que tinha fotografado ele sem querer”, afirmou Guerra, no depoimento.
Ainda
sobre o caso, o ex-agente da ditadura apresentou à comissão uma foto,
alegadamente de Perdigão no local. Mas, a foto estava recortada só para a
figura dele e distorcida por ter sido ampliada, impedindo a
identificação exata do cenário. A imagem maior deve ser entregue
posteriormente à CNV.
Hoje evangélico, Guerra lançou um livro
em 2012 revelando suas ações sob ordem do regime militar. Diz-se
arrependido e tem colaborado com a CNV com informações. O ex-agente
também atuou para o Serviço Nacional de Informações (SNI).
O
coordenador da CNV, Pedro Dallari, declarou que essas informações se
acrescentam a “outros elementos” obtidos pelo órgão que indicam o
acidente da estilista ter sido planejado.
Zuzu Angel era mãe
de Stuart Angel, militante do grupo guerrilheiro MR-8 preso em 14 de
maio de 1971 e até hoje desaparecido. Com seu sumiço, Zuzu Angel fez uma
mobilização nacional e internacional em busca do filho, tornando-se uma
figura incômoda ao regime militar.
Perdigão, falecido em
1997, é apontado como torturador da Casa da Morte de Petrópolis. Guerra
afirmou que Perdigão lhe entregava corpos para serem incinerados em uma
usina em Campos dos Goytacazes, Norte do Estado do Rio, para que não
fossem mais encontrados. No depoimento, Guerra relatou 13 casos de
pessoas incineradas por ele, por ordens do regime militar. (da agência Folhapress)
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