quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ex-delegado diz que ditadura militar mandou matar Zuzu Angel

Zuzu Angel era figura incômoda ao regime militar
Zuzu Angel era figura incômoda ao regime militar JOÃO CARLOS MOURA, EM 20/10/1994



Em seu segundo depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Cláudio Guerra, afirmou ontem que o coronel do Exército, Freddie Perdigão, esteve na cena do acidente de carro que matou a estilista Zuzu Angel, em 1976, no Rio de Janeiro. Acrescentou que a morte dela foi provocada pela ditadura militar.

De acordo com Guerra, Perdigão lhe contou ter ficado preocupado porque foi fotografado próximo ao local: “Ele (Perdigão) narrava para mim que ele tinha planejado, obedecendo ordens, a simulação do acidente dela e que estava muito preocupado porque havia sido fotografado, ele achava que era a perícia que tinha fotografado ele sem querer”, afirmou Guerra, no depoimento.

Ainda sobre o caso, o ex-agente da ditadura apresentou à comissão uma foto, alegadamente de Perdigão no local. Mas, a foto estava recortada só para a figura dele e distorcida por ter sido ampliada, impedindo a identificação exata do cenário. A imagem maior deve ser entregue posteriormente à CNV.

Hoje evangélico, Guerra lançou um livro em 2012 revelando suas ações sob ordem do regime militar. Diz-se arrependido e tem colaborado com a CNV com informações. O ex-agente também atuou para o Serviço Nacional de Informações (SNI).

O coordenador da CNV, Pedro Dallari, declarou que essas informações se acrescentam a “outros elementos” obtidos pelo órgão que indicam o acidente da estilista ter sido planejado.

Zuzu Angel era mãe de Stuart Angel, militante do grupo guerrilheiro MR-8 preso em 14 de maio de 1971 e até hoje desaparecido. Com seu sumiço, Zuzu Angel fez uma mobilização nacional e internacional em busca do filho, tornando-se uma figura incômoda ao regime militar.

Perdigão, falecido em 1997, é apontado como torturador da Casa da Morte de Petrópolis. Guerra afirmou que Perdigão lhe entregava corpos para serem incinerados em uma usina em Campos dos Goytacazes, Norte do Estado do Rio, para que não fossem mais encontrados. No depoimento, Guerra relatou 13 casos de pessoas incineradas por ele, por ordens do regime militar. (da agência Folhapress)

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