domingo, 13 de julho de 2014

Alemanha x Argentina:Grande tira-teima chega ao Maracanã

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O jogo final da Copa entre Alemanha e Argentina embaralha uma verdade que parecia eterna: os sul-americanos são técnicos e habilidosos e os europeus, fortes e disciplinados. Anos atrás, o cineasta Pier Paolo Pasolini chegou a propor uma comparação com a literatura para ilustrar a questão. A poesia seria o drible sul-americano; a prosa seria a tabela ou a retranca europeia. Neste domingo, às 16 horas, no Maracanã, as coisas não serão tão simples assim.
A globalização uniu continentes e deixou tudo junto e misturado. Existem dribladores dos dois lados; há organização, preparo físico e disciplina lá e cá. O futebol de hoje é uma grande arena global. Jogadores de Alemanha e Argentina formam equipes totais que não seriam reconhecidas pelos seus avós. O processo não é novo, mas, em 2002, quando europeus e sul-americanos se enfrentaram pela última vez em uma final - Brasil e Alemanha -, as fronteiras da bola ainda tinham relevo. Agora, não.

A Alemanha que luta por seu quarto título mundial é bem diferente daquela que o mundo se acostumou a ver, uma Alemanha em que a força física era fundamental e que dificilmente enchia olhos dos observadores mais exigentes. Hoje, a seleção alemã baseia seu jogo na troca de passes e nos deslocamentos de seus homens de frente. A tradicional bola aérea continua lá, mas se tornou mais um recurso a ser usado em caso de emergência do que um fim em si.
Marca do povo alemão
Em comum, o atual time da Alemanha e os antigos têm a determinação infinita e a calma necessária para não perder o controle nos momentos mais complicados. Isso é do povo alemão e nunca vai mudar. O que mudou foi o jeito de jogar bola, resultado de uma óbvia influência espanhola - escancarada pela presença de Pep Guardiola no Bayern de Munique - e dos muitos jogadores de origem estrangeira que vestem a camisa da seleção.
Em um caminho inverso, os argentinos apostam no processo que eles chamam de "europeização", ou seja, a presença da maioria dos jogadores no futebol europeu, para aperfeiçoar a histórica habilidade com a bola. Em termos práticos, isso significa que a genialidade de Messi convive bem com a disciplina tática de Lavezzi. O ponto forte ainda é o improviso.
As duas se enfrentaram em duas finais anteriores, com uma vitória para cada lado. No tira-teima do Maraca, será campeã a que melhor sintetizar estilos que não podem mais ser separados.
Duas seleções em busca do prestígio perdido
Alemanha e Argentina buscam mais do que o título na final da Copa de 2014. Buscam subir um degrau de importância no cenário do futebol mundial.
Atualmente os alemães são tricampeões e erguendo este troféu, se juntarão aos italianos no seleto bloco de tetracampeões, se aproximando do único penta, a Seleção Brasileira. Para a Argentina a distância para o Brasil está um pouco maior. O país tem apenas dois títulos mundiais e a conquista hoje representaria ser tri, se igualando à Alemanha.
Mais ainda do que entrar no grupo acima na relação de campeões, os dois países tentam retomar o prestígio perdido nos últimos anos. A Alemanha tem se mantido forte, porém, quem tem dado a volta olímpica são seus clubes. Mas a seleção mesmo não ganha um título importante desde 1996, quando levou a Eurocopa.
"Para nosso país, esta Copa tem uma importância muito grande, pois a última referência em termos de conquista mundial foi a minha geração", diz o ex-lateral Andreas Brehme, autor do gol que deu o título de 1990, 1 a 0 na final sobre a Argentina. A Alemanha foi campeã ainda em 1954 e 1974.
Títulos importantes, por sinal, a Argentina não ganha desde a Copa América de 1993, disputada no Equador. "Esse jejum é algo que realmente incomoda o futebol argentino. Fui técnico da seleção e sei que a pressão é muito grande", afirma Marcelo Bielsa, que dirigiu a Argentina na péssima campanha de 2002.
Se os alemães ganharem, darão a 11ª conquista aos europeus. Já os argentinos farão a América do Sul chegar à 10ª.
Equilíbrio histórico envolvido na final
Se o histórico for levado em consideração no confronto entre Alemanha e Argentina, os sul-americanos têm mais chances de dar a volta olímpica. Isso porque os platinos têm mais vitórias do que os europeus no choque direto. Porém, quando o assunto se refere a Mundiais o equilíbrio é grande, sendo que os alemães estão rindo mais ultimamente.
Os dois primeiros duelos foram por primeiras fases. Em 1958, na Suécia, os argentinos sentiram a viagem ao Velho Continente e a Alemanha ganhou com facilidade por 3 a 1. O Brasil se sagraria campeão naquela edição. Já em 1966, na Inglaterra, que seria a campeã, argentinos e alemães fizeram um duelo sem emoções, com empate sem gols.
Depois de um intervalo de vinte anos disputando apenas amistosos, o clássico apareceu pela primeira vez em uma decisão de Copa em 1986, no México. Sob o comando de Diego Maradona os argentinos abriram 2 a 0, mas os alemães igualaram o marcador aos 36 do 2º tempo. Mas a genialidade do camisa 10 fez a diferença e no fim da partida ele deu bela assistência para a conclusão de Burruchaga, que deu o título aos argentinos.

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